Missão cumprida. Objectivo mínimo alcançado, com o quarto lugar na Liga conseguido pela terceira vez consecutiva.
O quarto lugar ara ainda assim e sobretudo uma questão simbólica; serviria para vincar pelo menos a nossa posição como clube desportivamente mais “próximo” dos três metralhas – ainda que esta temporada mais distantes por força essencialmente do melhor comportamento relativo destes. Haveria um outro objectivo, talvez secundário, mas que creio que ninguém na equipa interiorizou ou valorizou: a possibilidade de perfazendo 52 pontos, realizar objectivamente a melhor época da sua história (considerando a percentagem de pontos em disputa ganhos)!!! Poderia também Jorge Costa conseguir um feito de mérito: uma média de dois pontos por jogo desde que pegou no leme do Braga, há doze jornadas atrás. Seria, ao contrário do que possa parecer, um feito considerável e uma “mensagem” de esperança já para a próxima época: é que uma média de dois pontos por jogo daria a qualificação para a Liga dos Campeões em cinco das últimas sete ligas (em 2004/2005 daria mesmo o título)!
Apresentámo-nos no figurino habitual, pelo menos, aquilo que tem sido regra nos últimos tempos: 4-2-3-1, mas, desta feita, com um meio-campo mais “rendilhado” que o habitual, pela entrada de Castanheira; JVP, como agora é hábito, com maior liberdade para se adiantar no terreno no apoio à linha avançada. Pela frente surgiu-nos uma equipa com grande qualidade na circulação de bola e com homens na frente muito rápidos e móveis. Não me surpreendeu em nada a sua qualidade. Este Nacional deu um salto qualitativo desde a entrada de Jokanovic e já o havia demonstrado em partidas anteriores.
O Nacional entrou muito bem na partida baralhando por completo o nosso meio-campo sempre que os madeirenses surgiam lançados em velocidade das alas para o centro do terreno. Destaque óbvio para Diego José que foi um quebra-cabeças para Frechaut e para os centrais sempre que flectia para o eixo do ataque. Sofremos o golo muito cedo mas já se tinha percebido naquela altura que os equilíbrios defensivos a meio-campo não estavam bem assegurados. Esta partida mostrou à saciedade um dos problemas da nossa equipa: não existe um substituto credível neste plantel para Madrid. Ou pelo menos, os que existem, por esta ou aquela razão, não têm a confiança do(s) técnico(s). Vandinho decididamente não tem características para ser o pêndulo do nosso meio-campo. Quem assume aquela posição tem que ter inteligência táctica, sentido posicional, capacidade para “jogar fácil” (o que é muito difícil) e, muito importante, deve ter uma precisão de passe que permita não correr o risco de oferecer a bola ao adversário em zona proibida. Vandinho é um bom jogador, mas não tem estas características. Sofremos com a ausência desse tampão a meio-campo e apesar do grande golo de Wender que repôs a igualdade pouco tempo depois do golo do Nacional esse ponto fraco permitiu ao Nacional ser melhor que nós em termos de qualidade de jogo. Felizmente os seus avançados mostraram-se sempre algo trapalhões e não conseguiram converter em golos algumas jogadas de perigo que a sua equipa criou. Não é que com posse de bola tenhamos feito um mau jogo na primeira metade. O meio-campo que apresentámos mostrou que também sabe tocar a bola. Simplesmente as facilidades que concedemos tornavam a tarefa de construção bem mais simples e linear para a equipa madeirense.
A segunda metade trouxe algumas melhorias, sobretudo após a entrada de Ricardo Chaves para o lugar de Castanheira (que curiosamente até vinha fazendo um bom jogo). Embora Chaves não seja um jogador de mão cheia, sabe posicionar-se no terreno e não complica. Libertou Vandinho, que até aí vinha fazendo uma exibição para esquecer e que de facto melhorou a sua qualidade de jogo A equipa ganhou equilíbrio defensivo. Embora com muita posse de bola, o Nacional já não conseguia criar desequilíbrios e raramente criou situações de perigo. Nós em contrapartida, passámos a sair com mais a-propósito para o ataque, fundamentalmente em ataques rápidos, criando situações de golo cantado que esbarraram na qualidade de Diego Benaglio. Penso que poderíamos ter vencido nesta fase, mas foi claro que do banco vieram instruções para não correr riscos e garantir o empate que dava o quarto lugar. Foi pena tendo em atenção os “pequenos” objectivos que a vitória garantiria...
No cômputo geral, pelo número e qualidade das oportunidades criadas, penso que a vitória nos assentaria bem. Contudo, atendendo à qualidade de jogo e ao controlo repartido das operações em duas partes distintas, penso que o empate se pode aceitar como justo.
Em termos individuais:
Paulo Santos: por vezes parece que gosta de criar dificuldades a si próprio, complicando o que é fácil. Até nem teve grande trabalho, nem me parece que tenha tido responsabilidades no golo, mas... É um grande guarda-redes, mas precisa de ter verdadeira concorrência...
Frechaut: muitas dificuldades em segurar Diego José, uma vez que pouca ou nenhuma ajuda teve dos companheiros do meio-campo, quando era necessário fechar as diagonais do adversário para o eixo do ataque. Falta-lhe alguma velocidade quando se depara com extremos rápidos mas tem inteligência táctica e sentido posicional que lhe permitem ganhar alguns lances. Para mim, neste plantel, é ele a alternativa mais credível a Madrid.
Paulo Jorge e Rodriguez: alguma intranquilidade durante o primeiro tempo, com os adversários a surgirem embalados na sua zona de acção sem a devida oposição do nosso meio-campo. Desentendimento no lance do golo do Nacional, com Paulo Jorge a entrar à queima, sendo batido no chão. Algumas desconcentrações de Rodriguez (que são recorrentes de jogo para jogo). Ambos a meu ver dão boas garantias para a próxima época, caso nenhum deles saia. Mas ontem não foi o seu melhor dia...
Carlos Fernandes: o melhor da linha defensiva. Confirmou o seu bom fim de temporada controlando bem o seu flanco e integrando-se com algum a-propósito no ataque. Grande cabeceamento quase no final da partida, defendido de forma incrível por Diego Benaglio. Quase se tornava uma vez mais o herói da Pedreira, após o golo frente ao Belenenses.
Vandinho: sessenta minutos para esquecer. Sem capacidade para ocupar bem os espaços vedando os caminhos para a nossa baliza no primeiro tempo. Como é hábito pouco preciso no passe e algo complicativo, o que numa posição mais recuada do que o habitual, é um perigo – as perdas de bola redundam frequentemente em lances de golo iminente para o adversário. O lance do golo nacionalista é um bom exemplo – alivio disparatado para trás, para o meio da nossa defensiva. Melhorou claramente após a entrada de Chaves que lhe deu liberdade para jogar mais subido fazendo uso da sua capacidade de pressão no meio-campo adversário.
Castanheira: boa partida, tratando bem a bola, como ele bem sabe. Qualidade e tempo de passe. Muito bem no momento ofensivo. De qualquer forma não está isento de responsabilidade na permissividade do nosso meio-campo relativamente ao adversário no primeiro tempo. Pelo que mostrou em campo, o homem a substituir seria Vandinho. Contudo, Jorge Costa terá preferido a capacidade física deste, face ao habitual menor fulgor de Castanheira nas fases finais dos jogos.
João Pinto: confirmou, também ele, o seu bom fim de época. Jogando mais liberto com Jorge Costa, tem a possibilidade de rematar com maior assiduidade. Talvez pela maior liberdade de que agora goza se lhe note uma menor vulnerabilidade ao desgaste físico que noutras fases da época era evidente. Mostra um melhor discernimento agora no passe, perdendo bastantes menos vezes a posse de bola.
Maciel: mais uma vez fiquei com a impressão que lhe falta capacidade de explosão. Não se esconde do jogo, procura a bola, acorre sempre que é solicitado, mas em jogos em que o adversário dá poucos espaços nas costas da defesa, é muito menos útil. O discernimento no passe e no cruzamento não é o melhor. Apareceu bem na área a cabecear (como mandam as regras) para golo, mas Benaglio negou-o com uma parada fantástica.
Wender: se este foi o jogo da despedida (como se vem falando), foi um adeus à altura do que fez nos anos em que por aqui andou. Oitavo golo (e que golo!) na Liga, sagrando-se o melhor marcador da equipa. Mostrou disponibilidade para defender sempre que foi preciso e, sem deslumbrar, esteve activo no seu flanco. Falta-lhe velocidade (os anos não perdoam) mas não será fácil encontrar um extremo com a capacidade que Wender tem para marcar...
Zé Carlos: trabalhador, como sempre, mas desastrado. Falhou recepções, passes fáceis, enfim, não esteve num bom dia. Nota negativa para as quezílias em que se envolveu com adversários que lhe poderiam ter valido a expulsão.
Ricardo Chaves: substituição crucial no reequilíbrio da equipa. Não que tenha feito um jogo por aí além. Mas permitiu libertar Vandinho para outras zonas, garantindo a cobertura do meio-campo que até aí tinha sido uma autêntica terra-de-ninguém.
Chmiest: não teve muitas oportunidades de mostrar o seu valor – raramente jogou de início e quando entrou, fê-lo normalmente por 15-20 minutos. Contudo, esta partida mostrou que lhe falta contundência e agressividade para uma posição tão difícil quanto a de ponta-de-lança. Tem grande capacidade técnica (bem melhor neste aspecto que Zé Carlos) mas falta-lhe determinação... e confiança...
Cesinha: tem condições naturais para ser um extremo de mão-cheia. Velocidade e poder de arranque tremendos. Mostrou-o logo que entrou... e deixou a bola escapar das quatro linhas. Falta-lhe discernimento para ser uma aposta credível continuada. Pode ser por vezes um “agitador” em algumas partidas entrando no jogos para mudar o seu rumo com a sua velocidade. Mas parece difícil vê-lo como primeira figura no plantel da próxima época, após a saída de Wender.
Uma palavra final para o público. Raramente concordo com o Bracarus neste aspecto, mas desta vez estou convencido que estavam bem mais do que 12100 espectadores. As bancadas inferiores estavam mais bem preenchidas que o normal e havia alguma gente nas bancadas superiores. Não sei se as crianças (menores de 16) que não pagavam entrada estão contabilizadas nas estatísticas oficiais. Ontem eram mesmo muitas. Arrisco dizer que estariam entre 14 a 15 mil espectadores, o que atendendo a que em simultâneo se jogavam três partidas em que intervinham os três metralhas, transmitidas pela TV, em que ainda por cima se jogava a discussão do título (jogando-se na Pedreira "apenas" o quarto lugar, que quer queiramos quer não, nestas circunstâncias, não passaria de um objectivo simbólico), é uma excelente assistência.
Quanto ao facto de ter havido gente a festejar os golos deste ou daquele, penso que não foram assim tantos. Adereços de outros clubes, eu, francamente não vi. Haver interesse no que se passava noutros campos, é natural. Havia um título em jogo e, para quem gosta de futebol, é natural que haja curiosidade. De todo o modo, sublinho, para a esmagadora maioria daqueles 14-15 mil que estiveram na Pedreira, o Braga representa muito. Isso é um activo que o clube deve saber rentabilizar.
Outro activo (ainda que muitos erradamente não o considerem) é a tolerância com que os adeptos do clube encaram manifestações de outros adeptos, ainda que estas não lhes agradem, seja no estádio, seja na rua. Assim como toleram quem aqui posta mostrando um amor clubista, certamente respeitável, mas que não se dirige ao clube ao qual este fórum diz respeito.
De todo o modo, não posso deixar de dizer que tolerar não significa considerar correctas algumas atitudes. Para mim, festejar em pleno EMB os golos dos metralhas não é apenas uma falta de respeito para com os adeptos do Braga e para com o próprio clube. É uma falta de respeito para com os profissionais que no relvado dão o seu máximo pelas suas cores. Não é uma questão de clubismo sequer. É uma questão de cultura desportiva....