Bom resultado, atendendo a que este jogo não era para nós decisivo e que havia que pensar também na partida de quinta-feira, essa sim, uma verdadeira final. Nem todos os objectivos foram alcançados uma vez que perdemos dois jogadores para essa partida (curiosamente que actuam na mesma posição), sendo que a baixa de Luís Filipe é preocupante.
Entrámos com um onze inédito mas que não me chocou. Não sei se no lugar de Jorge Costa teria escolhido os mesmos mas parece-me correcta a opção pelo descanso de uma boa parte dos potenciais titulares do jogo de quinta-feira em face do pouco tempo de recuperação. 4-2-3-1 com as novidades Pedro Costa (lateral-direito), Frechaut (defesa central), Vandinho e Castanheira como duplo-pivot do meio-campo, Cesinha e Davide nas alas no apoio a Chmiest. Ousado, em minha opinião, sobretudo porque nenhum dos homens que jogaram a meio-campo se pode classificar como trinco. Que consequências teve este escalonamento no nosso jogo? Visíveis logo de entrada: um posicionamento muito adiantado no terreno, com uma pressão muito alta que surpreendeu nos primeiros minutos de jogo o adversário. Ganhámos muitas bolas no meio-terreno adversário e criámos algumas boas situações de golo. Infelizmente, em minha opinião, não temos condição física para aguentar 90 minutos neste estilo de jogo. Mais: o posicionamento adiantado do nosso meio-campo sem o acompanhamento da linha defensiva, abriu uma tremenda zona de ninguém entre estas nossas duas linhas. A zona frontal em frente à nossa área esteve constantemente desprotegida. Qualquer médio ou avançado benfiquista conseguia receber à vontade a bola, dominar e rodar sobre si, praticamente sem oposição. Foi uma primeira parte agradável de se ver, aberta, mas tenho que dizer que em termos de equilíbrio defensivo da equipa deixou muito a desejar. Valeu, enquanto houve frescura física, o "pressing" alto que minou a saída para o ataque do Benfica e valeu alguns ataques rápidos, alguns deles com muito perigo. Ao intervalo, o empate talvez se ajustasse, em face de um jogo de parada e resposta, mas o jogo merecia golos.
O desequilíbrio defensivo da equipa tornou-se mais claro na segunda metade, à medida que o desgaste físico se foi apoderando dos jogadores, nomeadamente a meio-campo. Passámos a não pressionar tão alto, os jogadores da frente refugiavam-se já no nosso meio-campo e isso deu o comando do jogo ao Benfica. Verdade seja dita que esse domínio apenas se traduziu em oportunidades de golo claras e por uma quase permanente pressão nos últimos minutos, quando a acrescer à quebra física da equipa, jogávamos já com apenas dez homens por lesão de Luís Filipe. Mas foi pena termos terminado desta forma o jogo porque com outra frescura e lucidez, com o ataque desordenado e a falta de pernas de algumas pedras do meio-campo benfiquista, era evidentemente um jogo para matar no contra-ataque. Infelizmente, homens como Vandinho, Castanheira, JVP (que pediu a substituição), Cesinha e Davide acabaram o jogo de rastos. Atendendo ao último quarto-de-hora de jogo, temos que estar contentes com o resultado...
Foi uma exibição de coragem e valentia, mas parece-me que essas qualidades, frente ao Belenenses que aí vem não chegam. A maior qualidade dos azuis é a sua organização: solidez defensiva, actuação em bloco, aproveitamento do erro do adversário. Uma equipa tão desequilibrada defensivamente quanto foi a nossa hoje frente ao Benfica não ganhará em Belém. Presumo, contudo, que nos apresentaremos de outra forma, preenchendo melhor os espaços...
A nível individual:
PAULO SANTOS: esteve extremamente seguro, mostrando mãos de ferro, não largando para a frente algumas bolas complicadas. Apesar de tudo, o seu trabalho valeu mais pela qualidade do que pela quantidade, uma vez que até não terá tido tanto trabalho quanto talvez esperasse.
PEDRO COSTA: mais uma vez entra... e bem. Excelente no um para um, irrepreensível em termos defensivos. Infelizmente, uma vez mais, entra, joga bem e... lesiona-se. Baixa para Belém...
FRECHAUT: apesar de muito elogiada a sua exibição, parece-me que ficou algo aquém do jogo que realizou na Madeira. Cometeu um erro grave logo aos 10 minutos, não atacando de imediato a bola e permitindo que ela ressaltasse para o isolado Simão (que felizmente falhou). De todo o modo, dai para a frente esteve sempre tranquilo nos duelos individuais, não se notando que não é central de origem.
PAULO JORGE: Boa exibição. Discreto, sem dar nas vistas, meteu no bolso Nuno Gomes. Frente a Mantorras cometeu apenas um lapso que o angolano não soube aproveitar.
CARLOS FERNANDES: houve alguma dificuldade em estancar os movimentos do Benfica pelo flanco direito. Não penso contudo que isso se tenha ficado apenas a dever a um menor rendimento de Fernandes, mas sobretudo a alguma descoordenação defensiva quando Simão descaía para aquele flanco (o que na primeira parte sucedeu várias vezes). Foi dos poucos que melhorou com o jogo tendo até subido algumas vezes com a propósito.
VANDINHO: claramente ainda abaixo do Vandinho na plenitude das suas faculdades físicas. Falta-lhe ainda velocidade e capacidade de explosão para as suas arrancadas. A sua posição obrigava-o a actuar de forma mais resguardada e preenchendo os espaços de forma inteligente. Essas não são as suas características. Deu sempre demasiado espaço à entrada da área. Compensou com alguma combatividade, mas naquela posição não chega...
CASTANHEIRA: obrigado a posições mais recuadas do que as suas características aconselham, esteve bem no trato da bola, como é habitual. É aliás dos poucos jogadores do plantel que sabe conduzir a bola, que passa com qualidade e maneja os tempos do jogo. Contudo, cabia-lhe também ocupar aquele espaço em frente à linha defensiva. Nesse aspecto não esteve tão bem. Perdemos imenso com a sua (notória) quebra física...
JVP: fez uma boa exibição em termos globais, aproveitando o facto de a equipa ter tentado jogar mais adiantada. Com mais homens perto de si, mais próximo de Chmiest pode fugir à luta demasiado física do meio-campo e ajudar na construção de lances de ataque. Falta-lhe contudo velocidade para ser decisivo. Quebrou muito fisicamente no segundo tempo e acabou por pedir para sair.
DAVIDE: fez um jogo que ilustra bem as suas qualidades e defeitos. Enorme talento (espectacular jogada em que passa dois ou três defesas não tendo conseguido contudo fazer o cruzamento ainda dentro das quatro linhas), mas falta de nervo - exasperante o número de lances perdidos por não meter o pé ou o corpo aos lances! Baixou muito de rendimento no segundo tempo, quebrando fisicamente. Foi obrigado a compensar a saída de Luís Filipe por lesão.
CHMIEST: gostei muito da sua exibição. Foi dos melhores no primeiro tempo. Grande lance logo a abrir desenvencilhando-se de dois defensores e rematando de pronto, de fora da área, com violência. Esteve muito participativo no ataque da equipa, soube segurar a bola com mestria de costas para a baliza, permitindo a subida dos companheiros. Pena ter falhado a baliza quanto pontapeou de primeira um cruzamento de Davide ainda na primeira parte, num bom gesto técnico. Apesar do menor rendimento na segunda metade, não me parece que a sua substituição tenha sido acertada. Perdemos uma referência na frente e deixámos de manter a posse de bola em ataque...
CESINHA: foi uma meia-desilusão. Foi importante para estancar as subidas de Nélson e provocar os vários erros que este cometeu, mas falhou sempre no momento da decisão: no último toque, no último passe, no remate. É verdade que não tem vindo a ser aposta constante, mas ao vê-lo a jogar, fico sempre com a sensação que poderia ser mais do que na realidade é...
LUÍS FILIPE: o azarado da equipa. Entrou bem em jogo fazendo mossa com duas acelerações pelo flanco que deixaram à mostra as carências de Davide Luíz como lateral-esquerdo. Esteve contudo pouco tempo em campo...
DIEGO: substituição falhada. Ainda entrou com vontade, tendo inclusive falhado por pouco um cabeceamento para golo na sequência de um pontapé de canto. Mas logo se perdeu, sendo incapaz de segurar o esférico tal qual fizera Chmiest e pior, tomando más decisões quando lhe surgiram oportunidades para lançar o contra-ataque. Inqualificável a entrada sobre Petit...
ANDRADE: entrou para dar consistência ao meio-campo. Conseguiu segurar melhor a bola, mas naquela fase... era o salve-se quem puder...
Uma nota final apenas para a SportTV, que fez questão de no seu bloco de notícias que se seguiu ao jogo, sugerir à Comissão Disciplinar da Liga a suspensão de Diego pela entrada sobre Petit. Concordo que a entrada justifica castigo. Já me parece sui generis fazer de um lance do jogo motivo para uma notícia desenquadrada do jogo tal como foi apresentada. Mais estranho acho que deva ser uma estação televisiva a propor à Comissão Disciplinar o que esta deve fazer. Pior me parece quando durante a transmissão da partida se vê com clareza uma pisadela intencional de Davide Luíz sobre Luís Filipe(?) que, não só passa em claro ao árbitro (que não terá visto), como ao crivo dos comentadores (que ou são cegos ou terão visto)...