Aqui trata-se pura e simplesmente da nossa responsabilidade competitiva, da uma ideia a longo prazo assente em 3 premissas
-o clube não termina no final da época 21/22
-a equipa tinha apenas um jogador muito especifico para o esquema de CC (Sequeira), que entretanto saiu por lesão
-não sabemos o que o futuro nos reserva. Em Janeiro de 2010 ninguém diria que iamos à final da Liga Europa. 9 pontos (veremos se se concretizam pois o Gil é um osso duro de roer) são assim tão utópicos de recuperar contra uma equipa em profunda crise desportiva e acima de tudo estrutural/institucional?
Aqui não tenho muito para te contrariar, percebo perfeitamente o que dizes. Acho que ganhar a Liga Europa este ano é muito mais difícil do que em 2011, e acho que recuperar 9 pontos ao Benfica em 14 jogos, por muita crise que eles estejam a passar, é sempre difícil.
Não quis individualizar. Quis dar alguns exemplos de jogadores que poderiam ter sido considerados e que certamente continuariam a contar para o novo treinador (qualquer que ele fosse). Acho que com a política actual estamos mais perto de ver um treinador chegar e dizer que grande parte destes miúdos não tem qualidade para jogar no Braga.
A questão é mesmo esta: é muito mais fácil mandar um Falé, um R. Gomes ou um Gorby de volta para a B ou para os sub-23, do que despachar um Rolando, um Novais, um Schettine ou outro que tal, percebes? Para os jovens há tendencialmente mais paciência, mais interessados e são mais baratos.
O mercado actual pauta-se pela antecipação. Há que tentar apanhar jogadores numa fase onde ainda sejam para o nosso bolso. Falas de Lino que só agora explode mas há muitos meses é apontado pela malta como jogador interessante. Mais: a própria estrutura o identificou como um jogador interessante tendo o tal direito de preferência! Causa-me uma espécie enorme ver a forma como alimentamos o Gil e Moreira com jogadores dados e na hora de contratar vemos Lino e Abdu Conté passar ao lado.
O Lino é visto como prometedor há algum tempo, mas nunca tinha estado sequer perto do nível atual. O Lino jogou a época passada praticamente toda como ponta-de-lança. E aí o Mario Gonzalez sobressaiu muito mais que ele na época passada, ou não? E nós fomos buscá-lo... Se o clube fosse a contratar todos os jogadores que são aqui sugeridos, estava desgraçado.
Quanto a esse alimentar do Gil e do Moreira, não é bem assim que funciona. Falando do Gil, nem sequer podemos falar como se fosse recorrente, visto que antes desta época não punhamos lá ninguém desde o Yazalde em 14/15... Entretanto fomos lá buscar o Paulinho, o Tormena (que supostamente já estaria vendido ao Portimonense e o Gil voltou atrás nesse negócio para nos vender a nós) e o Mineiro (não pertencia ao Gil, por isso se calhar não encaixa aqui). Depois, não podemos falar disto como se fosse um frete ao Gil e nós não ganhássemos nada com isto. Emprestar o Zé Carlos é tão bom para o Gil que ganha um jogador "de borla" como para nós que o conseguimos por a competir num nível alto para ganhar estaleca para depois se assumir aqui. Mandar para lá o Lucas também é um favor que nos fazem: livrámo-nos de um jogador que não nos serve e que vinha do Celta de Vigo B (ou seja, pouco mercado devia ter). O Murilo é o único caso onde fomos claramente generosos e o Gil saiu muito mais beneficiado que nós. Mas eu quero esperar para ver se isto foi sem contrapartidas ou não. Não me admirava muito de ver o Vítor Carvalho cá na próxima época, por exemplo. Para mim, tem claramente qualidade para jogar aqui e é o segundo melhor jogador do Gil, atrás do Lino. O Ricardo Soares está a fazer dele um excelente jogador.
Quanto ao Moreirense, parece-me mais ou menos o mesmo raciocínio: mandamos para lá jogadores que não têm nível para jogar aqui e que possivelmente terão pouco mercado (Rosic, Artur Jorge, Pedro Amador, Pablo) e outros que tentamos ver se eles evoluem lá (Singh, Loum, Ibrahima). O grande favor em troca foi eles terem deixado sair o Loum para que nós o vendêssemos, quando podiam não o ter feito. Tirando isso, não têm tido grandes jogadores que nos servissem, na minha óptica. Muita gente fala do Abdu, mas para mim não faz grande sentido. Ele não seria uma boa alternativa ao Sequeira, ele é um lateral/ala de corredor (andava a jogar a ala no 3-4-3 do Moreirense), de arrancada e profundidade. É parecido ao Buta no estilo, por isso não me faz sentido gastar 2 ou 3M num jogador que vem tapar o lugar a alguém que ambos concordamos que pode vir a dar jogador.
A estrutura não está preocupada com o risco de queimar jogadores. Se esse fosse um problema real, não juntava a quantidade de jogadores da formação que juntou para esta segunda metade. Tal como se dirá aos miudos para jogar sem pressão, o mesmo poderia ser feito com 2-3 jogadores que pudessem vir dar mais qualidade para o que resta desta época e que pudessem começar a nova época a top.
Como te disse acima, os miúdos não têm a mesma responsabilidade dum reforço mais experiente, e é muito mais fácil voltarem aos escalões de formação (como já aconteceu com o R. Gomes, o Roger, o Guilherme Soares e o Falé, por exemplo) do que um Schettine ou João Novais desta vida ser dispensado ou vendido. Porque contratar um jogador agora significa assinar um contrato de 3/4 anos e meio, e é assim que os clubes se enchem de entulho e ficam com os quadros cheios de jogadores. Relembro que o Novais, o Pablo, o Bruno Viana, o Schettine, o Tiago Esgaio, o Borja, o Caju e o Eduardo ainda são nossos, e alguns deles com contrato até 2025 (Borja, Tiago Esgaio e Schettine). É aqui que entram os Moreirenses e os Gil Vicentes e nos levam este "entulho", tirando-os da nossa folha salarial.
Relativamente ao Moura. A diferença nas estatísticas é tanta que não vamos lá com a questão dos minutos em jogo.
Eu gosto do Moura. Acho que seria um achado se embalando de trás pudesse ter oportunidade de entrar em combinações com um extremo e com um avançado pela esquerda (venho batendo nesta tecla há imenso tempo: porque é que ele não é testado no lugar no Sequeira?).
No entanto acho factual que é um DE adaptado à posição. Não tem velocidade de ponta. Não tem finta. Custa-lhe a definição. E num clube como o nosso precisamos de abre latas e de jogadores que abanem com o jogo.
Claro que a diferença nos números é bem maior que a diferença nos minutos, não tentei contrariar isso, tens razão.
No resto, não concordo contigo, acho que esta é precisamente a posição perfeita para ele. Discordo que ele não tenha velocidade de ponta, ele é o verdadeiro "falso lento", em que parece pesado a correr mas depois ganha muitas vezes o espaço em velocidade. Não sei se podemos dizer que é factual que seja um DE adaptado, porque ele na formação jogou muitas vezes a extremo. E não concordo nada que lhe custe a definição, pelo contrário, acho que ele define muito bem. Não é jogador de ir para cima e fintar como o Galeno (ou o Yan), isso é uma verdade, mas trás outras coisas ao jogo que o Galeno não trazia e é muito melhor a combinar com os colegas. Ao mesmo tempo, faz bem movimentos interiores de rutura no espaço (assim de repente, lembro-me de um dos golos dele na Luz na época passada, no golo contra a B SAD esta época ou no lance a acabar o último jogo em que aparece na cara do GR a rematar). Sei que pode ser exagerada, mas volto outra vez a tocar na comparação com o Nuno Mendes: não sendo jogadores iguais, a maneira como se enquadram na equipa é parecida, são jogadores mais associativos (jogam mais no "toca e vai" do que no dribble), competentes defensivamente, e que não precisam dos números para serem importantes na equipa. O Moura é pior que o Nuno Mendes no dribble, mas melhor nos movimentos interiores. Assumindo-se como um titular, tem tudo para fazer crescer os seus números.
O Buta já foi dito por cá que sentava o Nuno Mendes no banco nas selecções. É um atestado de capacidade brutal e tenho nele grandes esperanças.
A questão do lançamento dos jovens não está no acto de lançar. Está no enquadramento que os irá receber. Já por cá dei esta opinião e retomo-a. Acho que o Ruben Amorim neste aspecto tem gerido bem as coisas. Em Braga lançou o Carmo e o Trincão mas lançou-os numa 'casa mobilidada'. A receber estes jogadores estavam nomes com muita experiencia na 1ª Liga e jogadores com um caminho já sólido no próprio Braga. No Sporting fez o mesmo com a contratação de jogadores muito experientes (não vou na cantiga de que fez uma aposta cega nos jovens - encostou o Max pelo Adan; preferiu contratar Feddal em vez de lançar Quaresma; TT fez meia época só porque Paulinho chegou só em Janeiro).
Tu dizes que o Carmo e o Trincão estavam noutro contexto. E eu concordo que o contexto atual não é igual, mas também não vamos fazer de conta que não há lá ninguém experiente... Matheus, Tiago Sá, Tormena, Paulo Oliveira, Musrati, Castro, A. Horta, Mineiro, R. Horta e Iuri enquadram-se todos nesse lote, e o Moura, o Carmo, o Leite e o Abel não são propriamente jogadores inexperientes. No Sporting não digas que fez o mesmo, porque não é a isso que eu me refiro. Eu referi-me a quando ele chegou ao Sporting e ainda acabou em 4º atrás de nós. Ele aí pôs o Max, o Quaresma, o Nuno Mendes, o TT, o Joelson, o Plata, o Matheus Nunes, etc. E usou esse período para avaliar esses jovens e decidir quais tinham qualidade para se manterem na equipa e quais não tinham. E é por isso que depois foi, como dizes e bem, buscar o Adán, o Feddal, o João Mário, o Paulinho, e por aí fora. Mas o que ele fez no resto de época que faltava quando lá chegou foi precisamente aquilo que o Braga está a fazer agora, ou pelo menos assim parece. É dar minutos aos jovens agora para os avaliar e ver se têm capacidade ou não, e depois ficar com os que mostrarem qualidade, reforçando o resto das posições onde os miúdos não mostrem estar à altura.
Posto isto dizer que aquilo que estamos a fazer não tem nada a ver com uma aposta pensada e estruturada. Define explosão? É previsível que vendamos outro jogador pelos valores de Trincão? É que estou certo de que se o lançamento de Trincão tem sido feito num contexto como o actual, certamente não teríamos facturado da mesma forma.
Claro que não é uma aposta pensada e estruturada. É uma aposta que surge duma época que se dá por perdida fruto de mau planeamento, e a consequência disto é a de dar tempo aos miúdos para se mostrarem.
Não acho previsível que vendamos outro jogador pelos valores do Trincão, pelo menos no próximo mercado. Mas se um Rodrigo Gomes, Roger ou Falé desta vida desata a marcar golos e a fazer grandes exibições até ao fim da época, "descobrimos" um jogador para o plantel da próxima época e ficamos com ativo valioso. Foi assim que o Amorim "descobriu" o Nuno Mendes, por exemplo. Foi assim que nós "descobrimos" o Carmo, foi assim que o Benfica "descobriu" o Sanches ou o Félix, e por aí fora. Lançaram-nos às feras quando havia pouco a perder, e puseram a nú os diamantes que tinham em casa.