Dois ou três defesas? Com que médios e extremos? A análise profunda ao SC Braga O clima entre Braga e Carvalhal começou de forma intensa. «O céu é o limite», foram as palavras do treinador quando foi apresentado como novo treinador do clube. Prometeu que iria apresentar uma proposta de jogo ousada, e que iria fazer dois excelentes anos no SC Braga. Porém, nem tudo foi um mar de rosas no início do campeonato, pelo menos até à terceira jornada, em que os arsenalistas se deslocaram a Tondela. Observámos, com muita atenção, que equipa se está a montar. E estas foram as conclusões...
O contextoCarvalhal vinha de uma grande época em Vila do Conde e encontrou uma equipa que, no meio de um grande rebuliço (foram cinco treinadores num ano), conseguiu resultados bastante aceitáveis, com a conquista da Taça da Liga e com a obtenção do último lugar no pódio.
Em termos de sistemas (que é disso que queremos falar), alguém teria de ceder. Carlos Carvalhal vinha de um sistema de 4x3x3, que já era seu hábito, ao passo que os bracarenses passaram a época a mexer e mudar, embora com o desenho de três defesas a dar melhores resultados. E foi este último o que prevaleceu - ou, pelo menos, foi isso que a pré-época indicou.
Voltando a Tondela... O SC Braga ainda não tinha pontuado na Liga NOS e apenas tinha marcado um golo na primeira jornada. Carlos Carvalhal iniciou o campeonato a jogar com uma linha de três defesas (3x4x3). Raúl Silva meteu água no Dragão, cometeu uma grande penalidade e ainda foi expulso a partir do banco por protestos, o que fez com que Carlos Carvalhal tenha repensado o sistema da equipa sem o brasileiro.
Na segunda jornada, os minhotos receberam o Santa Clara e apresentaram um sistema em 4x4x2, com dois homens na frente: Ricardo Horta e Paulinho. Os bracarenses dominaram o jogo, com quase 70 por cento de posse de bola e com 23 remates (ver estatísticas no quadro), porém, não concretizaram nenhum com sucesso.
O técnico natural de Braga gostou do caudal ofensivo da equipa e manteve as renovadas ideias de jogo em Tondela, mesmo que mudando peças do xadrez: Fransérgio passou do corredor direito para o corredor central para fazer dupla com André Castro e entregou as alas a Galeno e Iuri Medeiros, mantendo na frente Ricardo Horta e Paulinho. A dinâmica do Braga, principalmente nos primeiros 45 minutos, foi extraordinária e tem uma explicação muito mais profunda do que números de jogadores e sistemas.
O ataque… Em termos ofensivos, é um regalo observar a química da turma de Carvalhal, seja com bola ou sem bola. Quando a posse de bola estava no lado esquerdo, era Esgaio quem dava profundidade ao corredor direito, com Iuri Medeiros a jogar mais por dentro ao lado de um dos avançados, enquanto o outro homem da frente recuava para dar uma linha de passe no centro do terreno. Quando a construção ocorria do lado direito era Galeno quem dava essa mesma profundidade a bombordo da navegação bracarense. Sequeira apenas subia no terreno em situações de risco muito reduzido.
Na frente de ataque jogaram Ricardo Horta e Paulinho, que foram autênticas dores de cabeça para a defesa beirã pelas suas movimentações. Ambos com capacidade técnico-tática para recuarem no campo e participarem na construção de jogo, iam variando os seus movimentos de forma a confundir a defesa adversária. Quando um descia, o outro procurava colocar-se nas costas dos centrais para atacar a profundidade.
Nas alas, Carvalhal promoveu uma dupla inédita ao onze titular - Galeno e Iuri Medeiros - e foram eles os jogadores mais decisivos nesta vitória folgada dos guerreiros do Minho, participando em todos os golos da equipa bracarense.
Mais que a assistência de Iuri e os dois golos e uma assistência de Galeno, importa realçar as movimentações destes dois jogadores. Com bola, a ordem foi sempre de procurar jogo interior e combinações com os dois colegas da frente. Foi assim que Galeno fez um excelente golo (o segundo do Braga em Tondela) e que Iuri criou várias jogadas de perigo para os companheiros, com passes teleguiados a sair do seu pé esquerdo. Muito raramente, se é que alguma vez o fez durante os noventa minutos, o Braga tentou ganhar a linha de fundo.
O meio-campo No meio-campo, Fransérgio fez uma exibição de grande classe. O papel do médio que esteve mais encostado às alas nas duas primeiras jornadas foi o de médio mais recuado, com indicações para jogar rápido e simples. Foi assim que o brasileiro controlou o ritmo do jogo do Braga, gerindo perfeitamente os timings com uma leitura de jogo muito boa, variando entre jogar simples e rápido ou lançar a bola rapidamente nas alas quando sentia que o jogo necessitava de velocidade.
André Castro foi o parceiro de meio-campo e ficou com o papel de média área a área, o chamado box to box, que cumpriu na perfeição, mostrando um grande pulmão ao longo de todo o encontro. Tanto estava disponível para apoiar o ataque, como estava no sítio certo defensivamente para cortar lances perigosos.
A defesa Em termos defensivos, o Braga demonstrou mais uma vez que nada neste jogo aconteceu por acaso e que todos os processos têm sido trabalhados ao pormenor durante a semana. Apesar do sistema do Braga ter sido claramente um 4x4x2 com bola, sem ela o Braga defendeu a maior parte dos lances com uma linha de cinco homens, com Galeno a juntar-se aos quatro defesas e Sequeira a jogar ao lado dos outros dois centrais.
Precisamente os dois homens de que ainda nos falta falar, Bruno Viana e David Carmo, fizeram exibições imperiais sem qualquer erro a apontar, incluindo um golo por parte do brasileiro.
Com uma linha de cinco homens atrás, Ricardo Horta descaía para a esquerda para ajudar na pressão alta e em todo o campo do Braga com os restantes membros da equipa.
A mudança definitiva Carlos Carvalhal mostrou-se extremamente satisfeito com a exibição da sua equipa no final do jogo. Não confirmou, naturalmente, a permanência de Galeno e Iuri no onze quando questionado sobre o assunto, mas, depois dta grande exibição, dificilmente vai tirar ambos os jogadores do onze. O mesmo se pode dizer da dupla de centrais, sendo que Raúl Silva terá de lutar para regressar à equipa após uma primeira jornada desastrosa para o brasileiro.
O 4x4x2 de Carvalhal veio para ficar, mas, como explicámos neste artigo, esta equipa é muito mais que números. Foi uma perfeita harmonia produzida pelo SC Braga no estádio João Cardoso e dificilmente o técnico vai deixar de querer ouvir o tom dela nos próximos tempos.
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