Primeiro, falo sobre o jogo.
Este é o tipo de partidas em que o Braga só ganha se for eficaz nas oportunidades que tem. Em parte, foi... marcamos 2 golos em transições e podíamos ter morto o jogo com as várias situações que tivemos para o 3-1. O Porto até pode ter tido posse de bola, mas foi consentida e muito inócua. Em bola corrida, só teve 1 ou 2 oportunidades, não mais do que isso.
A estratégia delineada para este jogo estava a correr bem, apesar de estarmos muito encostados à área, principalmente na 2ª parte. Se tivéssemos um jogador com mais capacidade de segurar a bola, não tenho dúvidas de que os 3 pontos seriam nossos.
Afinal de contas, os 3 golos do Porto resultaram de claros erros nossos (tirando o 2º, cujo penálti é muitíssimo duvidoso). Este é o fator aleatório de que o Abel falava ontem. E, permitam-me dizer isto, não há nenhuma equipa nem nenhum treinador que consiga resistir a tamanhos erros nos pés.
"Hipotecámos" o sonho Champions e agora resta-nos lutar pelo 3º lugar... vai ser muito complicado, com o SCP a ser constantemente puxado pelas arbitragens. Eu, no plano emocional, acredito sempre. No plano racional, tenho muitas dúvidas que nos deixem chegar lá, infelizmente.
Quanto a esta questão do Abel e do Miguel Cardoso, apraz-me dizer uma coisa: caso isto acabe por se confirmar, para mim, Salvador deixa de ser o "meu" presidente. O Braga deve-lhe muito. Todos os méritos e mais alguns podem ser-lhe assacados. Contudo, já revelou, "revela" e "revelará" (veremos) um defeito de muitos dos presidentes portugueses - a incapacidade de planear a longo prazo e o "resultadismo" exagerado.
Foi AS que começou com esta narrativa de "sermos campeões até 2021". Eu até me deixei levar por ela, nestes últimos dois anos. Todavia, é de uma enorme irresponsabilidade criar tamanha ilusão aos adeptos e tamanha pressão ao plantel e à equipa técnica se não consegue oferecer condições para que isso aconteça (aquelas que ele controla - houve um rombo enorme de qualidade e criatividade, principalmente no meio-campo, p. ex.), para poder garantir que as condições extra-campo não nos prejudicam (sistema vigente, constante favorecimento aos 3 metralhas).
Abel tem os seus erros (opções técnicas, gestão de expetativas, construção de plantel, pouca aposta nos jovens), mas não nos esqueçamos que é apenas o 2º ano dele enquanto treinador de Liga. Aquilo que ele tem feito, embora ainda não nos tenha dado troféus, é muito satisfatório. Montou uma equipa extremamente consistente no campeonato, que, infelizmente, tal como a maioria das outras equipas da era Salvador tem um grande handicap: não tem estofo contra as equipas grandes e falha quase sempre nos momentos decisivos. É "normal" que isso aconteça. Tanto a equipa como o treinador não têm grande experiência a este nível... isso só se ganha com estabilidade e comprometimento com um projeto. O Abel é o homem ideal para isso mesmo; não tenho dúvidas de que, ao contrário da maioria dos outros treinadores que por cá passaram, ele sim, está cá de alma e de coração. Tem é de se dar recursos e tempo para falhar e aprender. E, mais do que isso, saber gerir expetativas.
Miguel Cardoso é alguém que, na minha opinião, não revela ter a sagacidade de saber adaptar as suas ideias ao contexto em que a equipa joga. Mesmo assim, fez um grande campeonato no Rio Ave. Depois, teve dois rotundos falhanços...
Não podemos voltar àquilo que têm sido os últimos anos: um treinador por época, seja porque não têm resultados ou porque tendo-os, vão para maiores clubes. Nenhum clube da nossa dimensão poderá pensar sequer em ser campeão dessa forma. Não podemos andar ao sabor dos ventos.