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Artigo DM: Recordar é viver
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cardoso
  Artigo DM: Recordar é viver
« em: 08 de Março de 2007, 13:55 »
O S. C. de Braga jogou ontem para a Taça Uefa. No momento em que escrevo o jogo ainda não se disputou. O leitor (coisa curiosa) já conhece o resultado, ao contrário do que se passa comigo.
Como não posso pois conversar consigo sobre este importante desafio, convido-o a viajar comigo no tempo. Depois das emoções de ontem à noite será talvez proveitoso recordar algumas coisas importantes que se passaram há 30 anos. Decorria a época de 1977/78. Recordo aquela magnífica equipa que, pela primeira vez na história do clube alcançou o quarto lugar no campeonato e na época seguinte disputou a Taça UEFA pela primeira vez.
Eram tempos difíceis; tempos de desordem, mas, pior ainda, de míngua. Muitas vezes só no Picoto conseguia ver os meus craques, de preferência em cima de uma árvore. Era a bancada dos pobres, jocosamente apelidado de “terceiro anel”, onde se aglomeravam centenas de braguistas menos afortunados.
Mas o que me ficou mesmo na memória foi a equipa. E que equipa! Na baliza alinhava o Conhé; tratava-se de um guarda-redes capaz do melhor e do pior, que tanto colocava o tribunal com o coração nas mãos como encantava com defesas impossíveis, quando disparava em voo de falcão para o canto superior da baliza, socando com raiva aquela bola que já todos julgávamos lá dentro. Do lado direito da defesa jogava o Artur, um jogador de estatura relativamente baixa mas tremendamente eficaz. Artur foi o primeiro de uma série de laterais direitos brilhantes, como Toni, Zé Nuno e Luís Filipe. No centro da defesa, dois homens de aço: Ronaldo e o matulão barbudo Fernando, um defesa intransponível. O lateral esquerdo era o Vilaça, um jogador franzino mas muito rápido, uma espécie de rato atómico.
No meio campo pontificava um jogador de excepção, um homem que sem ser grande de estatura era (e é) um enorme desportista: Carlos Garcia. Era o dono e senhor daquele meio-campo, um motor de enorme cilindrada que funcionava a cento e muitas octanas.
Mas era lá na frente que alinhavam as estrelas que ficaram para sempre no firmamento braguista: quatro avançados impressionantes. Eram eles os fabulosos Nelinho, Chico Gordo, Chico Faria e Lito. Nelinho, o carequinha era o mais cerebral, talvez por ser o mais experiente (tinha sido internacional pelo Benfica). Chico Faria era um portento de técnica. Jogava a extremo esquerdo e parecia uma gazela levando atrás de si os desesperados defesas adversários. Do outro lado alinhava o Lito. Era uma máquina de grande cilindrada com aspecto de Fiat 600. Naquele estilo aparentemente desajeitado, o magricelas escurinho fintava com os olhos postos na baliza. Aquelas correrias do Chico e do Lito ficar-me-ão para sempre entre as memórias mais bonitas da minha juventude. No meio jogava aquele que mais vezes fez abanar o granito do 1º de Maio; aquele que fazia tremer o Picoto com golos e mais golos; o maior goleador da história do Braga: o bulldozer Chico Gordo. Corpulento mas ágil; duro como uma pedra mas artista quanto baste, Chico Gordo arrastava tudo à sua frente, irrompendo pela área como um furacão, só parando quando a rede abanasse.
Recordo finalmente aquele 13 de Setembro de 1978 quando esta brilhante equipa derrotou o Hibernians por 5-0 com quatro golos do Grande Chico Gordo e um do Lito. A jogar com quatro avançados, sob as ordens de Imbelloni, aquele era um Braga sem medo, com arte e coragem, que ganhava e dava espectáculo. Hoje os meios são outros. O futebol evoluiu, mas terá sido no melhor sentido?
Ao nível táctico, o futebol intelectualizou-se. Ao nível do dirigismo, mercantilizou-se. Quanto ao público, fanatizou-se. Globalmente, descaracterizou-se. É cada vez menos um desporto, cada vez mais um negócio, um refúgio para compensação de frustrações ou uma plataforma de lançamento para a satisfação de ambições pessoais. Dentro do campo, as estratégias rígidas de contenção e povoamento do meio campo assassinaram aquela alegria com que quatro ou cinco avançados faziam do golo a verdadeira meta do jogo. 
disco infiltrator
  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #1 em: 08 de Março de 2007, 14:05 »
Porque é que as coisas mudaram? Estava tão bem como estava nesse tempo....

Se o futuro é todos os clubes verem o modelo a seguir no Real de Madrid..então o futebol cada vez mais vai ser uma coisa chata, muito chata.
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mitsubisho Juvenis
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  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #2 em: 08 de Março de 2007, 14:21 »
Recordo-me sem duvida desse jogo.
Importa referir que a equipa adversária era o Hibernians de Malta e não da Escócia, ou qq outro território británico... e depois até acabamos por perder em Malta por 3-2. era portanto um adversário frágil.
Na 2. eliminatória, já não tivemos pernas para um West Bromwich Albion da Liga Inglesa (derrotas em Braga e Inglaterra por 2-0 e 1-0 respectivamente). West Bromwich onde alinhava um tal Cunningan que depois se mudou para o Real Madrid.
Pese o valor e o nome dos adversários, o 1.º de Maio nunca conseguia atingir a meia casa, ficando-se sempre por uns miseros 8.000 a 10.000 apaniguados silenciosos e que volta e meia normalmente só a malta do "tribunal" após os golos gritavam Braga....Braga.....bonito sem dúvida.
No entanto acho que hoje apesar de se terem perdido algumas tradições, ganharam-se outras e parece-me que o clube está mais forte, o futebol é mais consistente, mais adulto, e a diferença entre o 1. classificado do nosso campeonato e o Sp. Braga está comparativamente muito mais curta.
No Braga, nessa altura, salvo erro, pontificava no meio campo o Marinho que depois acabou por se transferir para o Sporting na época seguinte, altura em que o Quinito terminou a sua carreira futebolistica em Braga.
Mas é bom recordar sem dúvida, amigo Cardoso.
Por isso agradeço este momento.

Ah....e que a história de logo seja diferente desse tal West Bromwich.... dado que não será certamente igual a esse tal Hibernians....antes fosse!!!

Um abraço

VIVA O SCBRAGA SEMPRE
Vlad
Vlad Equipa Principal
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  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #3 em: 08 de Março de 2007, 14:56 »
Excelente!
Não é do meu tempo, mas é sempre interessante saber a NOSSA história.
BRAGA... um dia ainda te vou ver a campeão!

Nota:desprezo os chamados "grandes"
cardoso
  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #4 em: 08 de Março de 2007, 15:13 »
Sim, Mitsubisho, havia menos gente no estádio porque o Braga tinha vindo da 2ª divisão há 3 anos e as condições económicas eram muito inferiores às de hoje. Também é verdade que a diferença era maior para os estarolas.
Mas o que me levou a escrever isto foi o facto de se jogar mais ao ataque. Acho que o futebol era mais rápido e mais bonito. Quem é que hoje joga com 4 avançados? Sem dúvida que hoje há outros motivos de interesse mas a nostalgia do passado fica sempre.
Quanto ao Marinho, penso que ele é anterior. Lembro-me de o ver jogar nas primeiras vezes que comecei a ir ao futebol (tinha 9 ou 10 anos), portanto, por volta de 75. Na mesma equipa jogavam o Marconi, o Mendes, o Pinto... o GR era o Walter....
Ricardo Equipa Principal
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  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #5 em: 08 de Março de 2007, 15:20 »
Porque é que as coisas mudaram? Estava tão bem como estava nesse tempo....

Se o futuro é todos os clubes verem o modelo a seguir no Real de Madrid..então o futebol cada vez mais vai ser uma coisa chata, muito chata.
Tão simples como isto: é mais fácil sofrer golos do que marcar. Portanto, fortalecendo os processos defensivos marcam-se menos golos. Assim, a partida fica mais equilibrada.
Em Braga, Com o Braga, Pelo Braga
www.mesadaciencia.blogspot.com
Olho Vivo Equipa Principal
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  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #6 em: 08 de Março de 2007, 15:41 »
Porque é que as coisas mudaram? Estava tão bem como estava nesse tempo....

Se o futuro é todos os clubes verem o modelo a seguir no Real de Madrid..então o futebol cada vez mais vai ser uma coisa chata, muito chata.
Tão simples como isto: é mais fácil sofrer golos do que marcar. Portanto, fortalecendo os processos defensivos marcam-se menos golos. Assim, a partida fica mais equilibrada.

Percebo a nostalgia, mas esse era o tempo em que os três metralhas, com uma feijoada, aviavam qualquer dos restantes adversários com quatro ou cinco golos sem resposta.
Os técnicos perceberam que a diferença entre as equipas não tinha necessariamente que ser igual à diferença entre os seus valores individuais. E as equipas menos dotadas apostaram mais nas organização táctica de forma a que as diferenças de valor se esbatessem em termos colectivos. O futebol é menos bonito? Se calhar, é. Mas não é legítimo que as equipas menos dotadas actuem dessa forma?
Se o futebol de hoje não fosse baseado na organização colectiva, provavelmente hoje teríamos poucas hipóteses de bater o Tottenham. Mas, graças ao nosso colectivismo e à inteligência táctica que colocaremos em campo, vamos discutir o jogo com uma equipa que de outra forma teria potencial para vencer com alguma facilidade, mesmo aqui em Braga...
Vlad
Vlad Equipa Principal
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  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #7 em: 08 de Março de 2007, 15:57 »
E nos anos 60/70? Só os três metralhas é que já tinham meios humanos e físicos mais ou menos parecidos com os dias de hoje. Os outros (Braga inclusivé), teinavam às vezes, em campo de batatas, alguns jogadores não eram profissionais, com pouco apoio médico, etc.. etc... E quando um benfica vinha a Braga, bastava jogar a sério durante  um quarto de hora para arrumar com o jogo.
Para além de tudo o que o Pedro Ribeiro referiu, felizmente nos dias de hoje todos os clubes têm infra-estruturas para treinos, médicos, fisioterapeutas, preparadores físicos, uma abordagem mais ciêntifica à preparação dos jogo... no fundo oferecem quase o mesmo PROFISSIONALISMO que oferece um metralha. E isso também equilibrou as "contas".
BRAGA... um dia ainda te vou ver a campeão!

Nota:desprezo os chamados "grandes"
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cardoso
  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #8 em: 08 de Março de 2007, 17:57 »
Sim, isso é verdade. Digamos que o futebol perdeu alegria e ganhou em organização. Acontece que as coisas sérias são, na maior parte das vezes, chatas.
Hoje conseguimos mais facilmente vencer os "grandes", com o rigor táctico, a disciplina, a organização. Mas o que se perdeu compensa isso? Na minha opinião, não. E não quero dizer com isto que preferia ver o Braga a jogar com 4 avançados e perder. Afinal de contas, o melhor que conseguimos nessa altura foi o 4º lugar. Hoje, numa época em que, como vocês dizem, temos mais chances graças a um futebol maois defensivo e organizado, conseguimos uma classificação melhor?
maquiavel
  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #9 em: 08 de Março de 2007, 19:28 »
Quem é que disse que os grandes nessa altura ganhavam mais facilmente? Grande pêta! O equilibrio nessa altura era muito maior que agora. Vocês estão a ver tudo ao contrário, acreditem.
braguista365
braguista365 Equipa Reservas
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  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #10 em: 10 de Março de 2007, 18:15 »
Tempos diferentes,antigamente jogava-se pelo orgulho,amor a camisola porque era essa a filosofia transmitida por treinadores e dirigentes,hoje em dia é pelo prestigio do dinheiro.
Antes ,era perdido por um perdido perdido por seis era igual,hoje quantas vezes ja nao vimos no nosso campeonato equipas a perder por um golo,continuarem com tacticas hiperdefensivas?mais val perder por um do que ser goleado é esse espirito que reina nos nossos dias,o que prejudica e muito a essência do futebol.
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  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #11 em: 10 de Março de 2007, 22:44 »
A questão levantada pelo Cardoso também pode levar a discussão para  controversa questão do  "nivelamento"... mas algo mais: a essência do futebol.
Acho que não é de todo verdade dizer que as  equipas ditas pequenas, numa escala de valor, estejam mais próximas das equipas ditas grandes, o que aocntece é que ALGUMAS equipas ditas pequenas estão mais próximas das ditas grandes, porque outras permanecem longe ou distanciam-se cada vez mais do topo.

Equipas a jogar feio acho que não é um problema da actualidade.  Se actualmente é difícil defrontar equipas como o Leiria, Académica, Beira-Mar, Aves, etc... lembro que à uns anos atrás também o era com o : Tirsense, Farense, Salgueiros, Varzim, Portimonense, Chaves, Espinho, Leça, etc... Na ocasião lembro-me de jogos bem difíceis, em que o Braga, apesar de ser teoricamente superior, não conseguia ultrapassar estas equipas devido aos esquemas montados pelos treinadores adversários... Ganhei uma aversão a Paco Fortes, nem imaginam... Lembro também que uma das razões de alterarem o sistema de pontuação de 2 para 3 pontos por vitória, foi o facto de muitas equipas jogarem para o pontinho(acho que a iniciativa de mudar começou a ganhar forma na década de 80??).

Para o bem e para o mal, o futebol actual, reflexo das novas tecnologias, globalização, profissionalismo, equipamentos para a práctica desportiva, etc, permite que algumas equipas ditas pequenas tenham maiores possibilidades de se apetrecharem(jogadores) e de fazerem um melhor trabalho no dia-a-dia, trabalhando os jogos e os sistemas de jogo. Mas por outro lado há outras nuances que se alteraram e os clubes que não se adaptaram rapidamente foram penalizados, exemplo disso é a protecção que havia nos contratos. Uma equipa que indicasse intençã de renovar com o jogador, impedia-o de sair sem a devida compensação...(havia "esquemas" para contornar a proibição ;))

Apesar de melhorias evidentes em alguns clubes, as diferenças mantêm-se noutros e aumentou mesmo em alguns casos. A tendência será para aumentar se eventualmente reduzirem ainda mais o campeonato. Não tenham dúvidas disso... Mal do futebol português se houver mais reduções no número de clubes a disputar o campeonato.


Sei que muita gente quando confrontada com jogos entre o SCB e equipas teoricamente mais fracas, criticam a forma de jogar destas... é o anti-jogo, os sistemas defensivos, etc, etc,... dizem que deveriam de descer de divisão e coisas e tal... Na verdade, é tudo uma questão de tamanho ;D e de coerência . Quando é o SCB a defrontar uma equipa teoricamente mais forte então já desejamos, com naturalidade- digo eu-, mais músculo, mais contenção, maiores cautelas defensivas, como ainda recentemente com o Tottnham pude perceber isso.

Portanto, não concordo quando se diz que "dantes é que era"...

Para finalizar gostaria de dar ênfase à essência do futebol. E nisto concordo inteiramente com o Cardoso. Gosto do futebol espectáculo... gosto da alegria do jogo.

A generalidade dos adeptos pedem vitórias, pontos, classificações, títulos... O resto não interessa, é secundário.
Uma equipa que está nosl ugares cimeiros leva as pessoas a tornarem-se sócias, a irem ao estádio, e ficarem orgulhosas da sua equipa. Estão dispostas a perdoar uma má exibição a troco da vitória. Os 3 pontos sobrepõem-se a qualquer outro factor ou desejo.

São as vitórias que mobilizam cada vez mais as pessoas, independentemente do nível exibicional, e verdade seja dita, os exemplos estão aí... As equipas que são exímias a defender e a explorar as fraquezas do adversário, ultimamente são as equipas que estão a arrebatar os troféus. O Chelsea, a Grécia... Mas como tudo na vida, há ciclos e mais tarde ou mais cedo as derrotas aparecerão. Então os mesmos que aplaudiram a vitória, apesar da exibição fraquíssima, vão fazer a cobrança, vão ser implacáveis... porque a única coisa que lhes agradou  no passado foi  os 3 pontos conquistados. Nada mais! Nada mais lhes serviu para recordar e perpetuar na memória.

Sou adepto de um futebol alegre, bonito, espectáculo...
Sou fiel a um princípio: Se o futebol é um espectáculo, então convém gostar do que estou a ver...
... e quero ver beleza, arte, espectáculo, magia!
A diferença, a grande diferença, é que quero viver emoções, quero sentir emoções, quero saborear a vitória - não haja dúvidas disso- mas quero senti-la, vibrar com ela!!! e é possível ganhar e jogar bem!
Força Gverreiros
El Che
El Che Equipa Principal
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  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #12 em: 11 de Março de 2007, 12:29 »
Sou adepto de um futebol alegre, bonito, espectáculo...
Sou fiel a um princípio: Se o futebol é um espectáculo, então convém gostar do que estou a ver...
... e quero ver beleza, arte, espectáculo, magia!
A diferença, a grande diferença, é que quero viver emoções, quero sentir emoções, quero saborear a vitória - não haja dúvidas disso- mas quero senti-la, vibrar com ela!!! e é possível ganhar e jogar bem!

Esta é tambem o meu pensamento, se o meu enorme não está a jogar bem mas até está a ganhar, muitas das vezes apetece-me vir embora pois já estou farto de ver a engonhar a bola.
Pé Ligeiro
Pé Ligeiro Equipa Principal
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  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #13 em: 11 de Março de 2007, 16:24 »
O S. C. de Braga jogou ontem para a Taça Uefa. No momento em que escrevo o jogo ainda não se disputou. O leitor (coisa curiosa) já conhece o resultado, ao contrário do que se passa comigo.
Como não posso pois conversar consigo sobre este importante desafio, convido-o a viajar comigo no tempo. Depois das emoções de ontem à noite será talvez proveitoso recordar algumas coisas importantes que se passaram há 30 anos. Decorria a época de 1977/78. Recordo aquela magnífica equipa que, pela primeira vez na história do clube alcançou o quarto lugar no campeonato e na época seguinte disputou a Taça UEFA pela primeira vez.
Eram tempos difíceis; tempos de desordem, mas, pior ainda, de míngua. Muitas vezes só no Picoto conseguia ver os meus craques, de preferência em cima de uma árvore. Era a bancada dos pobres, jocosamente apelidado de “terceiro anel”, onde se aglomeravam centenas de braguistas menos afortunados.
Mas o que me ficou mesmo na memória foi a equipa. E que equipa! Na baliza alinhava o Conhé; tratava-se de um guarda-redes capaz do melhor e do pior, que tanto colocava o tribunal com o coração nas mãos como encantava com defesas impossíveis, quando disparava em voo de falcão para o canto superior da baliza, socando com raiva aquela bola que já todos julgávamos lá dentro. Do lado direito da defesa jogava o Artur, um jogador de estatura relativamente baixa mas tremendamente eficaz. Artur foi o primeiro de uma série de laterais direitos brilhantes, como Toni, Zé Nuno e Luís Filipe. No centro da defesa, dois homens de aço: Ronaldo e o matulão barbudo Fernando, um defesa intransponível. O lateral esquerdo era o Vilaça, um jogador franzino mas muito rápido, uma espécie de rato atómico.
No meio campo pontificava um jogador de excepção, um homem que sem ser grande de estatura era (e é) um enorme desportista: Carlos Garcia. Era o dono e senhor daquele meio-campo, um motor de enorme cilindrada que funcionava a cento e muitas octanas.
Mas era lá na frente que alinhavam as estrelas que ficaram para sempre no firmamento braguista: quatro avançados impressionantes. Eram eles os fabulosos Nelinho, Chico Gordo, Chico Faria e Lito. Nelinho, o carequinha era o mais cerebral, talvez por ser o mais experiente (tinha sido internacional pelo Benfica). Chico Faria era um portento de técnica. Jogava a extremo esquerdo e parecia uma gazela levando atrás de si os desesperados defesas adversários. Do outro lado alinhava o Lito. Era uma máquina de grande cilindrada com aspecto de Fiat 600. Naquele estilo aparentemente desajeitado, o magricelas escurinho fintava com os olhos postos na baliza. Aquelas correrias do Chico e do Lito ficar-me-ão para sempre entre as memórias mais bonitas da minha juventude. No meio jogava aquele que mais vezes fez abanar o granito do 1º de Maio; aquele que fazia tremer o Picoto com golos e mais golos; o maior goleador da história do Braga: o bulldozer Chico Gordo. Corpulento mas ágil; duro como uma pedra mas artista quanto baste, Chico Gordo arrastava tudo à sua frente, irrompendo pela área como um furacão, só parando quando a rede abanasse.
Recordo finalmente aquele 13 de Setembro de 1978 quando esta brilhante equipa derrotou o Hibernians por 5-0 com quatro golos do Grande Chico Gordo e um do Lito. A jogar com quatro avançados, sob as ordens de Imbelloni, aquele era um Braga sem medo, com arte e coragem, que ganhava e dava espectáculo. Hoje os meios são outros. O futebol evoluiu, mas terá sido no melhor sentido?
Ao nível táctico, o futebol intelectualizou-se. Ao nível do dirigismo, mercantilizou-se. Quanto ao público, fanatizou-se. Globalmente, descaracterizou-se. É cada vez menos um desporto, cada vez mais um negócio, um refúgio para compensação de frustrações ou uma plataforma de lançamento para a satisfação de ambições pessoais. Dentro do campo, as estratégias rígidas de contenção e povoamento do meio campo assassinaram aquela alegria com que quatro ou cinco avançados faziam do golo a verdadeira meta do jogo. 




Muito boas recordações guardo desse tempo. Nesse ano, entrei para a Escola Carlos Amarante 7º ano, após 2 anos no "ciclo" André Soares. Era um tempo em que não perdia um jogo do Braga e que dava gosto ver a equipa a jogar e ver o Chico Gordo a marcar. Tenho a ideia que em 77/78 o defesa esquerdo já seria o João Cardoso.
É sempre bom reviver esses momentos!

BRAGA SEMPRE MAIS!
cardoso
  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #14 em: 11 de Março de 2007, 16:27 »

o catenacio foi inventado pelos italianos nos anos 70. Portanto desde esse tempo que há quem se tenha "modernizado" e adoptado estratégias defensivas para o pontinho. A questão é que essa tendência é mais acentuada nos anos oitenta e, para tentar favorecer os mais poderosos, inventou-se o sistema de 3 pontos que, aparentemente, favorece os sistemas mais atacantes.
Mas o reforço da defesa e meio campo não é apenas uma forma de defender; é uma forma de tentar jogar pelo seguro. É preciso marcar golos mas para ganhar tem de se sofrer menos do que os que se marcam. Portanto, a defesa é sempre imprescindivel e não é por a vitória valer 3 pontos que se convence as equipas a jogar abertamente ao ataque.
Quanto ao "nivelamento", andei a ver os resultados da década de 70 e reparei numa coisa interessante: nessa década houve vários clubes que conseguiram "meter-se" entre os 3 grandes, inclusivé o Vitória. Portanto., ao contrário do que se possa pensar, nessa época era mais frequente que os "grandes" perdessem. O que acontece é que nunca nenhum dos "pequenos" conseguiu dar continuidade a esses sucessos pontuais. E o Braga, com Imbeloni, com um tipo de jogo mais atacante, com 4 avançados consegiu várias vezes ganhar aos grandes e consseguiu dois quartos lugares consecutivos.
Portanto não se trata apenas de nostalgia; trata-se de recordar uma época em que jogávamos bem, ganhávamos aos grandes e conseguimos feitosm identicos aos de hoje em dia.
E de uma coisa eu não duvido nada: jogavamos um futebol muito mais bonito.

Não, Ferreira, o João Cardoso creio que ainda não consta dessa equipa.
Quando andavas no C. Amarante andava eu em Vila Vede, depois vim para o  Sá de Miranda ;)
« Última modificação: 11 de Março de 2007, 16:35 por cardoso »
cardoso
  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #15 em: 11 de Março de 2007, 16:34 »
Ferreira, agora deixaste-me com dúvidas.
Fui ver ao arquivo do superbraga e encontrei a equipa de 75/76:
http://www.superbraga.com/clube/fotos_historias_clube/equipa_1975_1976.bmp
em cima: Pinto, C. Gordo, Marconi, Garcia e Marques
em baixo: Marinho, Serra, Fernando, Walter, Vilaça e Mendes
Aqui o defesa esquerdo é o Vilaça. Mas em 78 penso que ainda seria ele. Mas~deixaste-me na dúvida: será que o J. Cardoso já cá estava?
Pé Ligeiro
Pé Ligeiro Equipa Principal
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  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #16 em: 11 de Março de 2007, 16:57 »
Cardoso consegui encontrar a tal equipa maravilha e de facto está lá o grande João Cardoso.


Jogadores e Equipa Técnica



Nessa época o Chico Gordo marcou 30 golos, 21 para  campeonato e 9 para a taça!

Um abraço ao Cardosão pelo reviver destas belissímas recordações!

« Última modificação: 11 de Março de 2007, 17:06 por Ferreira-Braga »
BRAGA SEMPRE MAIS!
cardoso
  Re: Artigo DM: Recordar é viver
« Responder #17 em: 11 de Março de 2007, 17:17 »
É.
O Vilaça estaria a acabar a carreira e o J. Cardoso a Começar.
Esta lista deu-me uma boa ajuda à minha memória: não me lembrava dos outros médios e eles aí estão: Paulo Rocha e Rodrigo. Mas confesso que estranho o facto de o Garcia só ter feito 8 jogos...
E afinal o Marinho também ainda cá estava. O Mitsubisho tinha razão.
 

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