Sp. Braga-Marítimo, 3-3 (crónica)
Pedreira desmorona-se depois de se construir com brio
Bruno José Ferreira
Jogo de loucos a fechar a 27ª jornada da Liga no Municipal de Braga. Os arsenalistas chegaram a uma vantagem de três golos nos primeiros 25 minutos, mas esmoreceram e permitiram o empate a um Marítimo que tardou a acordar, mas ainda teve vitalidade suficiente para correr atrás do prejuízo.
O conjunto de Jorge Simão ameaçou encarrilar em definitivo, teve uma entrada sublime mas a Pedreira ruiu, inexplicavelmente, depois do terceiro golo. Sem Fransérgio mas comandado por Erdem Sen, o Marítimo partiu para um exibição segura e fez o Sp. Braga falhar a primeira série de dois triunfos consecutivos na Liga na era Jorge Simão. A equipa bracarense regressa ao quarto lugar, mas divide-o com o rival V. Guimarães.
Ganância para chegar ao quarto
O Sp. Braga entrou em campo no quinto lugar, ainda que à condição, e parece não ter gostado da situação. Com sede e pressa de voltar ao quarto posto, a equipa de Jorge Simão entrou de rompante e precisou apenas de alguns segundos para Pedro Santos testar a atenção de Charles.
Prenúncio do que iam ser os minutos iniciais, com Baiano a abrir o ativo logo aos doze minutos. O lateral subiu na direita, tal como é seu timbre, aproveitando uma bola ressacada pela defesa do Marítimo para atirar para o fundo das redes. Nem teve tempo para assimilar o golo a equipa de Daniel Ramos, com Cartabia a corresponder pouco depois a um passe açucarado de Rui Fonte, a fazer o segundo.
Grande período dos arsenalistas, revitalizados e a protagonizar aquele que terá sido a melhor fase com Jorge Simão ao leme. Em contraste, um Marítimo irreconhecível ia acumulando erros, com uma entrega displicente da defesa para o meio campo a permitir a Rui Fonte cabecear a cruzamento de Pedro Santos, fazendo o terceiro da equipa bracarense.
Despertar insular
Três golos em 25 minutos, domínio muito consentido pelo Marítimo a ser aproveitado por um Sp. Braga ferido no seu orgulho. As contas pareciam arrumadas, mas a equipa madeirense ainda despertou, a tempo de enviar o Sp. Braga para o intervalo debaixo de assobios.
Keita reduziu a desvantagem aos 38 minutos, aproveitando uma bola nas costas da defesa que Rosic não conseguiu evitar, encostando com tranquilidade para fora do alcance de Marafona. Os arsenalistas tremeram, cresceu o Marítimo e Erdem Sen fez o segundo a dois minutos do intervalo, num lance legal, mas muito contestado pelos responsáveis bracarenses, em que a defesa demorou a recompor-se, deixando o turco em posição legal.
Até ao apito de Tiago Martins o Sp. Braga remeteu-se por completo à sua defesa e viu Marafona ser providencial a segurar o empate enquanto suspirava pelo período de descanso.
Sen desculpa Keita
Depois de praticamente decidido, Sp. Braga e Marítimo deixaram tudo em aberto para a segunda parte, com o Marítimo a ameaçar o empate por diversas vezes, ainda que sem um domínio avassalador à baliza adversária.
Destaque para um falhanço de Keita, que depois de driblar Marafona e sentar Rosic se perdeu à procura do melhor ângulo e acabou por permitir que Baiano evitasse o empate em cima da linha de golo.
Adivinhava-se o golo do Marítimo, que chegou já perto do final, por intermédio do nome maior do encontro. Erdem Sen, no sítio certo, cabeceou para o empate, muito festejado para o Marítimo.
Empate com sabores diferentes, muito mal digerido pelos bracarenses e saboreado pelos insulares. A equipa de Daniel Ramos está a seis pontos do Sp. Braga, enquanto que a equipa de Jorge Simão divide o quarto posto com o V. Guimarães, o que torna o empate ainda mais amargo.
Sp. Braga-Marítimo, 3-3 (destaques)
Erdem Sen: jogou, fez jogar e decidiu
Bruno José Ferreira
FIGURA: Erdem Sen
Que grande jogo do médio turco do Marítimo, com uma exibição que vai muito para lá dos dois golos apontados. Jogou, evidenciou-se individualmente, fez jogar a equipa insular e decidiu o jogo. Regresso ao meio campo do turco de 28 anos, assumindo as rédeas face à ausência de Fransérgio. Esteve muito ativo no centro do terreno, aparecendo para bisar em zonas de finalização, assinando ainda uma série de lances de perigo.
MOMENTO: Sen levou o jogo até ao final (43m)
Maurício amorteceu o esférico na sequência de um pontapé de canto, Erdem Sen apareceu no coração da área para cabecear sem oposição para o fundo das redes insulares. O médio de 28 anos estava no sítio certo a empatar o encontro.
NEGATIVO: Pedro Santos sai em maca
Lance aparatoso entre Pedro Santos e o lateral Patrick, com o jogador do Marítimo a ir com tudo à bola, acabando por atingir o capitão bracarense. Pedro Santos teve de ser substituído, saindo em maca diretamente para os balneários.
OUTROS DESTAQUES
Cartabia
Foi um dos principais responsáveis pela entrada forte do Sp. Braga, estando muito interventivo na manobra ofensiva da equipa. Para além do golo traçou vários rasgos com a bola colada ao pé esquerdo e assustou Charles de livre.
Rui Fonte
Mais um golo, o 14º da temporada. O avançado de 26 anos tem estado em destaque no ataque, sendo que esta noite marcou e fez uma assistência. Acabou a jogar a número dez face à saída de Pedro Santos.
Xavier
Menos irreverente do que Keita e Brito, o extremo destacou-se pela qualidade técnica, ao contrário dos restantes colegas do ataque, que se fizeram valer pela velocidade. Boa prestação, saiu esgotado.
Jorge Simão: «Houve um desligar dos jogadores»
Sp. Braga-Marítimo, 3-3 (reportagem)
Bruno José Ferreira
Declarações de Jorge Simão, treinador do Sp. Braga, na sala de imprensa do Estádio Municipal de Braga, depois do empate (3-3) com o Marítimo, em que perdeu uma vantagem de três golos:
«Começámos bem, foi uma meia hora brilhante, do melhor que já se viu desde que estou cá. Não foi só bom futebol, mas capacidade para traduzir em golos com o avolumar do resultado. Depois, a partir dali, posso considerar que houve algum desligar por parte de alguns jogadores, que permitiu que acontecesse o primeiro golo do Marítimo, que estava numa situação difícil e que passou a vitalizar a sua crença. Chegámos ao intervalo acabados de sofrer dois golos e sentimos muito esses dois golos. A minha intenção foi serenar ao intervalo, fazer perceber que o resultado era 1-0, um resultado bom, e era importante fazer aquilo que fizemos primeira meia hora».
«É inevitável a intranquilidade que os jogadores sentiram ao passar daquele protagonismo para o que se sucedeu depois, que não é muito comum, apesar de não ser desculpa. Outro aspeto é a saída do Pedro Santos, que é pontapeado de forma excessiva; em vez de ser o jogador do Marítimo a sair acaba por sair o Pedro, o que é injusto. Aconteceu depois o terceiro golo, de bola parada, mas mesmo assim tivemos uma reação positiva e criámos oportunidades. Fica o empate, não há muito mais para dizer».
[Lenços brancos e apupos, como encara?] «Enquanto técnico compreendo a manifestação dos nossos sócios. Sou profissional, tenho de saber lidar com todas estas situações. É comum a todos os treinadores do mundo, o que me compete é continuar a trabalhar no duro para encontrar soluções e chegar de uma vez por todas ao que pretendemos».
[Motivo para perder a vantagem?] «Após o 3-0 senti que houve algum desligar por parte dos jogadores no rigor e na coesão defensiva. Não sei se os jogadores foram assaltados pela ideia de que o jogo estaria ganho. O primeiro golo ainda nos causou maior intranquilidade e revitalizou o Marítimo. A sequência de dois golos, para uma equipa que tem passado momentos duros, pode justificar este resultado».
[Futuro?] «Estou de cabeça erguida, sou profissional, o importante é encontrar soluções».
Maisfutebol