Um matador clássico
O suspeito do costume em matéria de golos tem primado pela discrição, mas é previsível que apareça com estrondo contra o eterno rival Guimarães. É quase uma tradição e, eventualmente, um petisco irresistível para Alan. Para voltar a ganhar ao Guimarães (teve essa experiência pelo Beira-Mar), Jardim deve então contar com o extremo. Só na época passada, o brasileiro trintão facturou em dois clássicos com o clube rival para o campeonato e num para a Taça da Liga
A manter-se essa tendência, será a confirmação de que o ataque roça a perfeição, pois Hélder Barbosa, Lima e Nuno Gomes já abanaram as redes ao cabo de apenas quatro jornadas, representando, juntos, 83,3% da eficácia arsenalista, materializada em seis golos, tantos quantos os que se contavam na época passada, precisamente à quarta jornada. Pode mesmo dizer-se que Elderson, autor de um golo ao Marítimo, figura neste domínio como um corpo estranho, ou não fosse um lateral-esquerdo.
Há um ano, reinava a dispersão. Tanto marcavam Lima, Matheus e Paulo César, todos homens de ataque, como apareciam a resolver nas áreas contrárias personagens mais improváveis como o lateral-direito Sílvio ou o médio-defensivo Leandro Salino. Pela mesma altura, a nível internacional, o Braga já contabilizava nove golos, no seguimento da terceira pré-eliminatória e do "play-off" da Liga dos Campeões, frente ao Celtic e Sevilha, respectivamente, num total de quatro jogos disputados. Semelhante cenário de fartura não se manifestou, para já, na Liga Europa, prova em que a equipa marcou apenas cinco golos, embora com menos um jogo: dois nas duas mãos do "play-off" com os suíços do Young Boys e três aos ingleses do Birmingham, na primeira jornada do Grupo H.
Se por um lado se regista uma aparente quebra em golos marcados a nível internacional, isto descontando a importância de o Braga ter derrubado na quinta-feira a barreira histórica de nunca vencer em Inglaterra; por outro, o aproveitamento é outro, para melhor, em termos de classificação no campeonato. Com os mesmos golos marcados da época passada (seis), o Braga soma dez pontos e divide o segundo lugar com o Benfica, enquanto há um ano contabilizava apenas sete pontos, reflexo da visita ao virtual campeão nacional FC Porto, que se saldou numa derrota por 3-2. No jogo seguinte (quinta jornada), os arsenalistas marcariam mais dois golos, mas não foram além de um empate em Paços de Ferreira, pelo que a equipa de Leonardo Jardim está realmente próxima de um cenário de absoluta superação... caso vença no Estádio D. Afonso Henriques.
Salvador estará no estádio rival mesmo em clima de ruptura
António Salvador quer estar ao lado da equipa amanhã, frente ao Guimarães, num dos jogos mais importantes da época para o Braga, sobretudo por todo o simbolismo que o envolve. Segundo O JOGO apurou, o presidente arsenalista vai marcar presença no D. Afonso Henriques, restando agora saber em que sítio do estádio é que o dirigente vai assistir ao clássico minhoto.
O mais provável é que António Salvador surja na tribuna presidencial, num dos oito lugares que, por regra, os da casa têm de ceder aos responsáveis das equipas visitantes, mas há também a hipótese de se sentar no banco de suplentes. Esta, no entanto, é uma possibilidade muito remota, pois não combina com o estilo do líder bracarense. Certo é que ninguém o irá ver ao lado do homólogo do Guimarães, Emílio Macedo, depois de os dois clubes terem cortado relações na sequência, precisamente, do último dérbi, disputado em clima hostil.
Jogava-se a 26ª jornada e o encontro surgia no intervalo da eliminatória do Braga com o Dínamo de Kiev, na Liga Europa: dia 11 de Abril, uma segunda-feira. Os arsenalistas solicitaram o adiamento do jogo, pedido que seria indeferido pelo Guimarães. A recusa foi mais uma acha para a fogueira, depois de a polémica ter sido espoletada por causa dos bilhetes. O Braga emitiu um comunicado em que acusou o Guimarães de "falta de fair-play" e de romper "um acordo de cavalheiros" feito entre os dois presidentes por ocasião do jogo da primeira volta. Emílio Macedo reagiu, também em comunicado, anunciando o corte de relações institucionais com o clube rival e ainda uma espécie de boicote ao jogo. Nesse sentido, o Vitória devolveu 1498 dos 1500 bilhetes disponibilizados pelo Braga, ao preço unitário de 22 euros, o que representava menos ingressos e bem mais caros do que fora acertado entre os presidentes, de acordo com Emílio Macedo. Este acusou Salvador de não honrar a palavra e não foi ao AXA.
Desavença em 3 actos
Bilhetes a menos e caros | O primeiro comunicado foi emitido pelo Guimarães, a 6 de Abil, no qual o Braga foi acusado de não respeitar o acordo "entre os presidentes de que os preços e quantidades dos bilhetes a disponibilizar para ambos os jogos a disputar entre os respectivos clubes no campeonato seriam iguais". As críticas de Emílio Macedo a António Salvador foram duras. "Não cumpriu com a sua palavra, ficando demonstrado assim que a palavra do presidente do Braga é escrita a lápis que se apaga com uma borracha", podia ler-se. O Braga, então em Kiev para jogar a primeira-mão dos quartos-de-final da Liga Europa, respondia através do director de comunicação, Ricardo Lemos: "O Guimarães não solicitou em tempo útil os bilhetes, mas ainda assim o presidente António Salvador tomou a iniciativa de falar com o presidente do Vitória a disponibilizar 1500 bilhetes a 22 euros".
Recusa ao adiamento | A 8 de Abril, o Braga respondeu, também em comunicado, ao eterno rival, acusando-o de "falta de fair-play em várias situações" e de não ter viabilizado o pedido de adiamento do jogo. "Certamente, o lapso foi do Braga, pois deveria ter endereçado o pedido ao treinador e não ao presidente do Guimarães, já que no castelo a hierarquia deve estar em ruínas", escreveram os bracarenses. O Guimarães foi rápido a reagir e, no mesmo dia, decidiu cortar relações institucionais com o rival. "É uma ilusão total querer branquear e distorcer aquilo que está já bem claro para todo o país. O presidente do Braga não honrou a palavra dada", disseram os vimaranenses.
Machado critica Domingos | O jogo realizou-se num clima escaldante e o Braga ganhou 3-1. Domingos Paciência havia acusado o Guimarães de querer aproveitar-se do desgaste do Braga, ao não aceitar adiar o jogo, e no final os treinadores não se cumprimentaram. "Não tenho o Domingos como um cavalheiro", disse Manuel Machado.
Djamal recupera tantas bolas como Vandinho
Estilos à parte, a eficácia de Djamal no trabalho defensivo tem sido igual a Vandinho e, de certo modo, ajuda a perceber o equilíbrio defensivo do Braga, coisa que em plena pré-época era anunciada como um objectivo difícil de alcançar. Em jogos do campeonato, o trinco libanês costuma recuperar 8,8 bolas por jogo e o seu grande desafio será manter-se próximo da média do médio brasileiro (8,9), que, até prova em contrário, tem outro valor, pois foi calculada em função de 23 partidas jogadas. O segundo desafio de Djamal será conquistar o estatuto de principal aspirador de ataques contrários, pois nesta altura o central Paulo Vinícius (11,2) e o lateral-direito Baiano (11,5) apresentam melhores médias. Por aí, Vandinho era a grande referência da equipa. Na sua última época à Guerreiro do Minho, antes de rumar ao Al Sharjah (Dubai), o centrocampista liderava o grupo de melhores recuperadores de bolas, ligeiramente destacado de Paulão
Ainda há 800 bilhetes para bracarenses
Dos 1750 bilhetes que o Guimarães disponibilizou ao Braga, respeitando os cinco por cento de lotação do estádio destinados aos adeptos das equipas adversárias, algo imposto pelas regras da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, restam cerca de 800 nesta altura. Os ingressos para o clássico do Minho, agendado para amanhã no Estádio D. Afonso Henriques (19h15), têm o preço unitário de 22 euros cada um e poderão ser comprados nos locais habituais até às 17h00 de hoje: Estádio 1º de Maio, Galerias de Braga e Braga Parque.
Secretismo total desde Birmingham
Desde que regressou de Birmingham, após a vitória por 3-1 na primeira jornada da fase de grupos da Liga Europa, o Braga treinou sempre à porta fechada, algo que se vai repetir hoje, às 10h00. No final, o treinador Leonardo Jardim vai deslocar-se à sala de Imprensa do Estádio AXA para fazer a antevisão do jogo com o Guimarães. No que toca a lesionados, mantém-se tudo igual, com Ukra, Nuno André Coelho e Zé Luís em tratamento e Custódio condicionado.
O JOGO