A Grécia está para Portugal como o Vitória de Setúbal para o Sporting: somos melhores, sabemos dessa superioridade, toda a gente diz que assim é, mas… perdemos sempre. Porquê? Porque é futebol, e assim é que é bonito.
Quanto à selecção da Grécia, o caso é curioso: muitos dos seus jogadores actuam em clubes que não são propriamente de topo. O herói do jogo de quarta-feira, Karagounis, foi até dispensado por um clube português. No entanto, a Grécia é campeã europeia e voltou a ganhar a Portugal. É a transpiração a ditar leis.
Quanto à nossa selecção, tudo normal. O jogo era a feijões e todos sabemos que em Portugal todos temos um pouco daquele defeitozinho que gostamos de atirar para cima dos funcionários públicos: se o trabalho dá saúde, que trabalhem os doentes! Os nossos jogadores só mostraram anteontem que são bons portugueses; é preciso ter calma!
Ver aquela equipa a jogar foi quase como um exercício zen, excelente para relaxar. Parece-me que há sedativos nas farmácias que são menos eficazes do que aquele jogo. Mas podemos perfeitamente ver isto pelo lado positivo: a nossa selecção é tão boa que até nos faz poupar em medicamentos! Depois de ver aquele jogo senti-me tão calmo que, por momentos, até esqueci as papeladas com que a Ministra da Educação me atafulha a pasta e o espírito. Assim, os portugueses puderam passar uma noite mais descansada, o que certamente se terá reflectido na produtividade das nossas empresas, que terá aumentado umas décimas no dia de ontem. Atrevo-me até a dizer que com mais uns jogos destes, o nosso primeiro-ministro poderia baixar novamente o IVA ainda antes das próximas eleições. Por outro lado, seria a afirmação do futebol como mais uma espécie de medicina alternativa, de grande eficácia no combate às doenças do sistema nervoso. Com o generalizar dos jogos amigáveis da selecção, daqui por uns anos poderíamos encerrar hospitais e postos médicos poupando fortunas no sistema nacional de saúde. Aí têm como o futebol pode contribuir para a felicidade do nosso querido Portugal.
É claro que o mérito não foi só daqueles jogadores (alguns dos quais nem são titulares nos clubes). O mérito foi também dos que estiveram ausentes: os que o treinador Scolari não convocou (talvez por não se encaixarem no espírito amigável da partida) e os que, infeliz coincidência, estavam “tocados”. Se tivéssemos tido em campo Deco, Cristiano, Nani, Bosingwa, Maniche, etc, talvez o efeito zen tivesse sido diluído num jogo de futebol arduamente disputado, o que seria tremendamente nefasto para a saúde mental dos portugueses. Uma vitória, agora, sobre o campeão europeu poderia levar-nos a sonhar demasiado alto. Alguns adeptos e certos pensadores poderiam até fazer este raciocínio malévolo: “se ganhámos ao campeão, temos de assumir a candidatura ao título”. Isso faria subir demasiado a fasquia, que convém manter bem baixinha.
Assim, continuamos a ter consciência que somos pequeninos, pobrezinhos e honrados, como é próprio do bom português, cumpridor do seu dever, amigo do seu amigo, macaquinho no seu galho sem fazer sombra a ninguém, acomodado e caladinho. Depois, um dia, se ganharmos nos penáltis aos ingleses ou aos hermanos espanhóis, aí seremos heróis e o governo já poderá aumentar outra vez o IVA, os professores já poderão ser outra vez achincalhados e algumas urgências tornar-se-ão certamente desnecessárias. Porque nessa altura nada nos tirará a alegria do futebol.
Quanto à selecção da Grécia, o caso é curioso: muitos dos seus jogadores actuam em clubes que não são propriamente de topo. O herói do jogo de quarta-feira, Karagounis, foi até dispensado por um clube português. No entanto, a Grécia é campeã europeia e voltou a ganhar a Portugal. É a transpiração a ditar leis.
Quanto à nossa selecção, tudo normal. O jogo era a feijões e todos sabemos que em Portugal todos temos um pouco daquele defeitozinho que gostamos de atirar para cima dos funcionários públicos: se o trabalho dá saúde, que trabalhem os doentes! Os nossos jogadores só mostraram anteontem que são bons portugueses; é preciso ter calma!
Ver aquela equipa a jogar foi quase como um exercício zen, excelente para relaxar. Parece-me que há sedativos nas farmácias que são menos eficazes do que aquele jogo. Mas podemos perfeitamente ver isto pelo lado positivo: a nossa selecção é tão boa que até nos faz poupar em medicamentos! Depois de ver aquele jogo senti-me tão calmo que, por momentos, até esqueci as papeladas com que a Ministra da Educação me atafulha a pasta e o espírito. Assim, os portugueses puderam passar uma noite mais descansada, o que certamente se terá reflectido na produtividade das nossas empresas, que terá aumentado umas décimas no dia de ontem. Atrevo-me até a dizer que com mais uns jogos destes, o nosso primeiro-ministro poderia baixar novamente o IVA ainda antes das próximas eleições. Por outro lado, seria a afirmação do futebol como mais uma espécie de medicina alternativa, de grande eficácia no combate às doenças do sistema nervoso. Com o generalizar dos jogos amigáveis da selecção, daqui por uns anos poderíamos encerrar hospitais e postos médicos poupando fortunas no sistema nacional de saúde. Aí têm como o futebol pode contribuir para a felicidade do nosso querido Portugal.
É claro que o mérito não foi só daqueles jogadores (alguns dos quais nem são titulares nos clubes). O mérito foi também dos que estiveram ausentes: os que o treinador Scolari não convocou (talvez por não se encaixarem no espírito amigável da partida) e os que, infeliz coincidência, estavam “tocados”. Se tivéssemos tido em campo Deco, Cristiano, Nani, Bosingwa, Maniche, etc, talvez o efeito zen tivesse sido diluído num jogo de futebol arduamente disputado, o que seria tremendamente nefasto para a saúde mental dos portugueses. Uma vitória, agora, sobre o campeão europeu poderia levar-nos a sonhar demasiado alto. Alguns adeptos e certos pensadores poderiam até fazer este raciocínio malévolo: “se ganhámos ao campeão, temos de assumir a candidatura ao título”. Isso faria subir demasiado a fasquia, que convém manter bem baixinha.
Assim, continuamos a ter consciência que somos pequeninos, pobrezinhos e honrados, como é próprio do bom português, cumpridor do seu dever, amigo do seu amigo, macaquinho no seu galho sem fazer sombra a ninguém, acomodado e caladinho. Depois, um dia, se ganharmos nos penáltis aos ingleses ou aos hermanos espanhóis, aí seremos heróis e o governo já poderá aumentar outra vez o IVA, os professores já poderão ser outra vez achincalhados e algumas urgências tornar-se-ão certamente desnecessárias. Porque nessa altura nada nos tirará a alegria do futebol.