3. A entrada de Carvalhal é contudo um risco por dois motivos: em primeiro lugar porque mudar envolve sempre riscos, sobretudo quando se conseguiu uma estabilidade em torno dos lugares europeus; e em segundo lugar, porque a forma de abordar o jogo de Carvalhal é muito diferente do modo de pensar o futebol de Jesualdo (que é muito mais calculista). Este último aspecto deixa-me algo apreensivo porque penso que vai ser preciso um período relativamente largo de adaptação e tenho sérias dúvidas que Carvalhal tenha margem de manobra suficiente para enfrentar um período de transição algo prolongado, caso os resultados não ajudem... Uma transição com um treinador como Manuel Machado era muito mais simples porque as suas ideias são muito próximas das de Jesualdo. Mas também não me parece que fosse homem para ir mais longe que Jesualdo caso a oportunidade se proporcionasse...
4. Este aspecto já foi discutido noutro tópico, mas não é possível assumir a curto prazo a Liga dos Campeões como objectivo... o mais a que podemos aspirar é ter um comportamento que nos permita estar próximo dos metralhas, CASO ESTES FIQUEM ABAIXO DO SEU POTENCIAL, para no último terço do campeonato podermos assumir a luta ombro a ombro. Penso que esta situação dificilmente se passará de forma regular... por isso me refiro às duas últimas épocas como oportunidades históricas... Mas a acontecer é importante que tenhamos a ambição e a ousadia de acossar os metralhas, sem medos... à imagem do nosso capitão, Nem, por exemplo...
Qual a fasquia para a próxima época?
Muito mais elevada do que a do ano passado,e quem a elevou foi o Presidente como tal não quero desculpas!
Não quero saber da qualidade do plantel e não me chamem lírico, pois depois da atitude de mandar o Jesualdo embora não quero saber das consequências mas sim dos resultados...o resto é problema do Salvador como ele próprio assumiu!!!
Desculpa que te diga, mas este tipo de argumento não tem pés nem cabeça...
Quem esteve atento às palavras do presidente, percebeu o porquê da decisão de não renovar com Jesualdo - porque ao contrário da ideia que os media têm passado, o Prof Jesualdo Ferreira NÂO FOI DESPEDIDO. Atente-se no tratamento diferenciado que foi dado ao despedimento (neste caso sim) de Carlos Brito no Boavista. Vou citar o jornal A Bola, porque não ouvi de facto estas palavras da boca de António Salvador:
"A Liga dos Campeões, que terá estado no topo das razões invocadas pela administração para dispensar Jesualdo Ferreira, faz parte de uma espécie de plano B cuja execução dependerá do comportamento da equipa arsenalista e, por arrastamento, das fragilidades de um (ou até dois) dos três grandes. "Queremos estar perto das equipas que lutam pelo título para que, caso se proporcione, o Sp. Braga tenha condições para chegar à Liga dos Campeões", declarou Salvador. Pelas palavras do presidente, fica explícito que Jesualdo Ferreira beneficiou de conjuntura favorável para assegurar o acesso à prova mais importante da UEFA: "Tivemos possibilidades de lá chegar. Não sei se teremos mais oportunidades. Espero que sim.""
Eu concordo com esta análise. As duas temporadas passadas constituiram oportunidade histórica de nos intrometermos na luta dos três metralhas, sobretudo esta última, uma vez que dispúnhamos de um plantel mais rico, do meio campo em diante, pelo menos. Talvez o pior comportamento relativo dos três metralhas seja uma coisa estrutural, resultante da melhoria do nível geral da nossa LIga. Mas duvido que a irregularidade que patentearam nas últimas duas épocas se repita sempre...
De modo que nunca poderemos partir para uma Liga com o objectivo Champions. O desequilíbrio de forças é demasiado elevado à partida. Podemos sim pedir a afirmação como quarta equipa da Liga, o que já não é pedir pouco. E tentar estar próximo da metralhada de forma que, caso pelo menos um deles tenha um comportamento atípico (como nas duas últimas épocas), possamos assumir-nos, NO ÚLTIMO TERÇO DA LIGA, como candidatos a um dos três primeiros lugares...
Em minha opinião, se conseguirmos manter o estatuto europeu, numa época de transição, será muito bom. E significará a consolidação desse estatuto em termos de SAD/clube - e já não do Braga do Jesualdo Ferreira.
Claro que me podem ripostar que se é só para isso, para quê mudar?
Em primeiro lugar, a leitura que faço e que penso que a SAD também fez, é que independentemente do bom trabalho de Jesualdo Ferreira (a nossa História desportiva está aí para prová-lo), dificilmente iríamos mais além com ele. A "conjuntura favorável" (resultante do comportamento decepcionante dos metralhas), um plantel com bastantes soluções não foram suficientes para chegar a um dos três primeiros lugares. Sem querer beliscar o trabalho de Jesualdo e sabendo que dispúnhamos de armas desiguais, ficou-me um sabor a frustração... ampliado pelo facto de raramente o Prof. ter usado a sua boa imprensa (que hoje é patente, basta abrir os jornais) para a usar em seu favor (quando as injustiças arbitrais sobre a equipa eram patentes), quer como arma de arremesso para o exterior quer como forma de motivação para dentro do balneário.
A SAD pensa que podemos ir mais longe. Mostra ambição. Decidiu correr riscos. A mudança é sempre um risco. Hábitos que se alteram, desconfianças que se geram... É um novo ciclo que se reinicia... E um ciclo por princípio, não se esgota numa época...até porque a primeira é sempre mais difícil. O prof. Jesualdo teve o final de uma época para conhecer a equipa e os cantos à casa e preparar a seguinte. Conseguiu um meritório quinto lugar, mas com sofrimento e com um futebol de que ninguém gostava (recordo bem os comentários generalizados). A Carvalhal pede-se que se adapte o mais rapidamente, que se identifique o quanto antes com o plantel e que possa fazer esta transição sem grandes oscilações. Com o objectivo de que, se não na próxima época, pelo menos nas seguintes, a repetirem-se os cenários das últimas duas épocas, possamos desta feita sim, aproveitar a oportunidade.
(textos postados durante a pre-temporada de 2006) 2004/05 2005/06 2006/07
Pontuação % pontual Pontuação % pontual Pontuação % pontual
Braga 58 56,86% 58 56,86% 52 57,78%
Benfica 65 63,73% 67 65,69% 67 74,44%
Porto 62 60,78% 79 77,45% 69 76,67%
Sporting 61 59,80% 72 70,59% 68 75,56%
Esta tabela coloca em perspectiva a nossa temporada, considerando o comportamento da equipa na Liga – em relação à pontuação desta época, adicionei três pontos a cada um dos clubes em causa, considerando que é provável a vitória de cada uma das suas equipas na jornada do próximo Domingo (na parte que nos toca, espero que sim).
Chega-se à conclusão que esta época é, objectivamente, pelo menos de calibre idêntico às anteriores – ligeiramente melhor até, se vencermos o Nacional na última jornada! O que se alterou em relação às últimas duas temporadas? Se nos abstrairmos das oscilações ao longo das épocas, o que em boa verdade se alterou foi o comportamento dos três metralhas. Se 2004/2005 foi uma época verdadeiramente atípica com todos os nossos três adversários a terem comportamentos abaixo que é usual (oportunidade histórica para chegar ao titulo!), 2004/2005 viu também um dos mesmos três (neste caso o Benfica) ter um comportamento menos conseguido que poderia ter possibilitado a discussão do terceiro lugar. Ora, na temporada de 2006/2007 ninguém “falhou” – nenhum dos três metralhas teve um sub-rendimento. E, nessas circunstâncias, dificilmente poderíamos conseguir a qualificação para as competições européias, como no início de época o próprio António Salvador referiu.
O que deixa em todos um certo amargo de boca é o facto de rapidamente as diferenças entre a nossa equipa e os 3G se terem cavado, colocando a nu desde muito cedo a nossa incapacidade para chegar pelo menos a um terceiro lugar. Isso deveu-se a dois factores: um, óbvio pela análise da tabela acima apresentada, é o comportamento qualitativamente superior dos nossos adversários; outro, o facto de o nosso período mais forte ter coincidido com o último terço da Liga (ao contrario das épocas transactas) e portanto, termos deixado aprofundar as diferenças nos dois primeiros terços.
Assim sendo, analisando com frieza, não posso considerar a época um fracasso. É verdade que não demos um salto qualitativo em relação às épocas anteriores, mas como facilmente se infere das minhas palavras de início de época, não o esperava. Esta seria sempre uma época de transição pelo que esse salto em frente dependeria do sucesso com que essa transição fosse operada. Como todos sabemos, tivemos sérias dificuldades em gerir essa transição o que colocou em causa esse objectivo.
Por outro lado, não devemos esquecer que superamos em muito as expectativas nas competições europeias. A passagem à fase de grupos já seria um progresso (e não tivemos propriamente uma pêra doce na primeira eliminatória da UEFA!) mas fomos mais longe: passámos a fase de grupos, passámos os 16 avos frente a mais uma equipa italiana (desta feita o Parma) e caímos com honra frente a uma grande equipa inglesa, o Tottenham. É verdade que tivemos alguma sorte no sorteio dos jogos da fase de grupos, jogando em casa frente aos adversários menos cotados, mas ganhar em casa por 4-0 frente ao campeão da República Checa que (nos) faria sofrer o AZ Alkmaar na partida da Holanda é feito de monta. Grande sucesso a meu ver na frente europeia, que rendeu pontos (para o ranking do País na UEFA), prestígio e bom dinheiro – talvez a maior receita de bilheteira da história frente aos Spurs.
Na Taça de Portugal, morremos na praia, caindo na meia-final, apos prolongamento, mostrando a meu ver superioridade frente ao Belenenses, durante os 90 minutos. Já há duas épocas o mesmo havia acontecido, dessa vez frente ao V. Setúbal no Bonfim, onde perdemos por 3-2 (na temporada passada fomos eliminados de forma precoce pelo Desp. Aves, na altura na Liga de Honra). Ainda não foi desta que conseguimos um brilharete nesta competição mas, de resto, também não o fizéramos nas últimas épocas...
Ora, considerando estes dados objectivos, porquê a sensação que a maioria dos adeptos (braguistas ou não) têm de que esta época foi um fracasso? A meu ver três factores o explicam?
1. Má gestão das expectativas
Disse-o no início da temporada, não era razoável pedir a esta equipa a Liga dos Campeões, porque esse objectivo não estava nas suas mãos, dependeria sempre de um comportamento “menor” de alguns dos nossos três adversários. Os responsáveis da equipa e do clube deixaram que se criasse a idéia de que a Liga dos campeões era objectivo, criando uma pressão desnecessária a uma equipa que era preciso reconstruir e sedimentar. Não cortaram a euforia injustificada que existia no início da temporada perante a formação de um plantel mais caro, com algumas “estrelas” e deixaram que a fasquia fosse colocada demasiado alta.
2. Incapacidade para definir e consolidar um novo modelo de jogo
O início da temporada não correu bem. Havia um modelo de jogo consolidado das épocas transactas, um esquema táctico preferencial que o plantel conhecia de cor e salteado. Carvalhal teve algumas hesitações que lhe (nos) custaram muito caro: por um lado, parecia uma estupidez deitar fora o trabalho de duas épocas, revolucionando todo o futebol da equipa; por outro lado, o anterior futebol do Braga não se coadunava com a sua forma de ver o futebol e, para além disso, o novo plantel não encaixava no modelo de jogo das épocas passadas. A equipa jamais se encontrou em termos exibicionais, mostrando uma irregularidade muito grande e alternando o bom com o mau. A saída de Carvalhal e a entrada de Rogério Gonçalves parecia poder alterar algo, mas apos a pausa de Inverno, regressou a irregularidade. Era difícil a qualquer pessoa exterior à equipa adivinhar um onze inicial. A entrada de Jorge Costa não resolveu logo os problemas exibicionais, mas a equipa ganhou consistência defensiva. Aliás, nesta última fase da temporada parece ter-se identificado um modelo de jogo e uma equipa-tipo e as exibições tem melhorado. Resultado de um trabalho continuado do técnico ou motivado pelo regresso de lesões de pedras-chave (Vandinho e Madrid) e pela menor exigência física do calendário (apos eliminação da Uefa e da taça de Portugal)?
3. Plantel desequilibrado e demasiado “idoso”
O equilíbrio dos planteis não é um valor absoluto. Depende do modelo de jogo que se pretende impor e do esquema táctico ao qual se irá dar preferência. Este plantel mostrou lacunas ao longo da época fruto também da indefinição do futebol da equipa. De todo o modo, parece hoje evidente que faltava qualidade na linha defensiva, sobretudo no eixo da defesa (problema parcialmente resolvido com Rodriguez) e na lateral esquerda. No meio-campo, para o 4-3-3 das épocas transactas, faltou um Hugo Leal (no início de época por lesão, depois pela sua saída não colmatada). Nas alas, a abundancia aparente redundou em escassez de qualidade comprovada, sobretudo durante o período em que Maciel esteve afastado por lesão. Na frente, a saída de Tomás deixou-nos sem alternativa credível na frente (uma vez que Marcel não o quis ser). João Pinto foi ao longo de dois terços da época uma pedra que tinha dificuldades em encaixar na equipa (ao contrario do que acontece neste último terço) – e não existia verdadeira alternativa.
Por outro lado, a equipa mostrou sempre dificuldades físicas: incapacidade para suster ritmos elevados de jogo, dificuldade de aguentar os finais de partidas, dificuldade em recuperar dos esforços. A meu ver, isso deve-se sobretudo ao facto de o plantel ter uma predominância exagerada de jogadores com idades próximas ou superiores aos trinta anos. É necessário também neste aspecto maior equilíbrio. Não digo que se devam correr todos os “velhos” ou que devamos ter uma equipa de jovens mas ter em atenção que deve existir uma mescla de idades no plantel, de forma a equilibrar experiência e frescura física (sem falar na importância que é ter jogadores com potencial de valorização – jogadores de idade dificilmente o serão).
Eu tendo a relativizar os resultados desta temporada. Não me parece que objectivamente sejam maus, até porque encarei sempre esta temporada como uma época de transição. O que torna a meu ver esta temporada pouco conseguida não são os resultados, mas a ideia que tenho de que essa transição ainda não está consolidada. Seria expectável que nesta fase o modelo de jogo da equipa estivesse perfeitamente consolidado, os jogadores perfeitamente encaixados nele, o plantel perfeitamente identificado com ele. Eventuais alterações deveriam ser agora pontuais, ajustes no plantel nesta ou naquela posição. Não me parece que seja isso o que neste momento acontece e se exige. Tivemos duas mudanças de comando técnico durante a temporada. Em função disso (ou talvez não) o plantel mostrou lacunas que não se adivinhavam. Felizmente a época termina num tom que permite acalentar esperanças de que uma parte do que agora se tem feito possa ser rentabilizado na próxima época. Mas é evidente que o plantel necessitará de uma reformulação que ultrapassa o âmbito das alterações pontuais, quer por lacunas que se detectam a nível técnico, quer pela necessidade de rejuvenescimento do plantel, quer pela exigência de uma época menos atribulada em termos disciplinares.
Por tudo isto, se a nível de resultados considero que esta foi uma boa época (quarta vez consecutiva que a equipa se qualifica para as competições europeias!), há aspectos qualitativos que tornam esta época a meu ver menos conseguida. Sobretudo pela incapacidade de produzir a transição necessária para termos agora uma base consolidada para atacar objectivos mais altos na próxima temporada...
NOTA: o quarto lugar parece pouco importante e de facto em termos substanciais não o é. Mas é-o em termos simbólicos, como forma de afirmação da equipa como a quarta potência do futebol português. Por isso, vamos fazer do jogo frente ao Nacional uma verdadeira final... para que a equipa possa dizer, com a autoridade dos números, que esta foi a melhor das últimas três épocas! FORÇA BRAGA!