A primeira parte foi tão má que a minha percepção ao escrever o comentário foi de que já estava 0-1 ao intervalo ...a verdade é que fosse o Martial mais eficaz, e ao intervalo já contávamos pelo menos duas batatas antes do golo do Kante.Jogamos contra uma boa seleção(o 0-1 era lisonjeiro ao intervalo), mas é gritante a falta de agressividade desta equipa.Falta de agressividade, só 2 velocidades: lento e muito lento, com dificuldades de progressão pelo meio (mérito da França) não tínhamos apoio nas alas, não havia desmarcações nem diagonais.
Uma equipa montada para não perder, sem grande ambição e que fica limitada pela necessidade do selecionador em querer acomodar certos jogadores no 11. Jogar com um duplo pivot (muito baixo no terreno), um Bruno Fernandes que se esconde do jogo e é incapaz de vir buscar a bola e o Bernardo encostado a uma linha sem oportunidades de ter bola é limitar ao máximo o que pode ser feito. Depois sofre-se um golo, e toca a meter a tática que devia ter sido utilizada de início...
Demasiado tempo com o duplo pivot lento e amarrado e Bruno Fernandes era mais 3⁰ medio defensivo que ofensivo.
Foi pena esta abordagem porque acho que conseguiríamos mais hoje contra esta França que parece menos forte que em 2016 e 2018 (tb faltou o seu melhor elemento).
O Fernando Santos e as suas manias fazem com que a abordagem a este jogo seja das mais inócuas de sempre, parece que não conhece as características dos jogadores que tem ao dispor sinceramente. Quer acomodar todo o hype no 11 que depois são duas mãos cheias de nada. O Bernardo a extremo, com este meio campo nem f*ode nem sai de cima, é o mesmo que nada...O BF desaparece quer a defender quer a atacar (mais vale ter o Bernardo ali e um verdadeiro extremo em campo), e como o CR defende o GR contrário, tem de ser o Felix a vir “defender com os olhos” na linha e aí entra o poderio físico da nossa dupla de pivots, o William e o Danilo (além de exibirem uma forma deplorável) que pareciam baratas tontas contra o trio do meio campo mais os laterais franceses, que tinham via aberta com aqueles “extremos”. O Fonte mete pena sinceramente...foi tantas vezes comido no espaço que foi um milagre aquele 0-0 ao intervalo. Se há recuperação de bola, ela acontecia sempre muito lá atrás. Depois a construir não há ideia de jogo (a não ser que os franceses não pressionassem) o William tinha de vir buscar a bola aos centrais, o Danilo foge para não atrapalhar e o BF não era capaz de se mostrar...lá tinha de vir o Ronaldo tabelar, e tentar abrir no meio, enfim, tudo muito previsível e sem imaginação. Reagimos bem ao golo, e parecia que íamos atrás do resultado (aquela bola no poste bem que podia ter ido lá para dentro), mas mexemos tarde.
Tudo bem que temos uma defensiva limitada, principalmente os centrais e o Raphael (que contra boas equipas não tem capacidade defensiva) e é neste momento “overrated” na minha opinião...mas não me parecem problemas de tal maneira impeditivos para que se faça bem melhor, principalmente no movimento atacante. O FS fez num passado recente um bom trabalho, com um leque de jogadores (na globalidade) mais limitados. Parece-me que tem ao seu dispor jogadores com maior versatilidade e qualidade...também ele tem de dar mais do que isto a nível tático e nas escolhas, ou a coisa corre o risco de não correr muito bem no europeu.
Nós jogamos da forma habitual com o FS. A final de 2016 foi no mesmo diapasão, mas toda a gente me caiu em cima no outro dia quando critiquei a qualidade de jogo da seleção só porque ganhámos o Euro. Ontem perdemos jogando da mesma forma e já tudo critica o nosso jogo. Bloco baixo, defender o espaço e aproveitar 1 contra-ataque ou bola parada. Foi isto que Portugal fez em todo o Euro 2016. Foi isto que fez ontem. Tal como perdemos contra o Uruguai jogando exatamente da mesma maneira, ou empatamos 3-3 com a Espanha exatamente da mesma forma com 2 golos de bola parada e um frango. Só que a sorte não nos vai acompanhar em todos os jogos. Mas a verdade é que ontem na 1ª parte depois do baile que levamos podíamos até ter ido a ganhar para o intervalo com aquela oportunidade num canto do Ronaldo. A estratégia era a mesma de sempre e quase funcionava apesar dos 3 falhanços monumentais do Martial. Tivesse a bola do Ronaldo sido 5cm mais baixa e se calhar estava tudo a elogiar a prestação da seleção. Na 2ª parte até aos 70mn foi quase igual. Depois do golo do Kanté há 1 grande oportunidade para o Pogba que não consegue cabecear e outra jogada em que o Griezmann finaliza mal. Só quando o FS libertou o meio campo tirando um trinco e quando a França nos aplicou a mesma receita (recuou e apostou em transições) é que tivemos oportunidades. E o que é certo é que podíamos perfeitamente ter empatado no fim, e se calhar ninguém viria no fim criticar. O FS falou muito ontem que jogamos da mesma forma em Paris, só que com mais intensidade. É verdade, mas também é verdade que na 2ª parte de Paris, depois da França se ajustar, tivemos novamente dificuldades e ontem foi apenas a continuação daquela 2ª parte. A partir do momento que o meio-campo francês pegou no jogo e os avançados deram profundidade, abrindo espaço no meio ao Griezmann acabou a nossa "grande exibição de Paris".
O resultado não só é justo como é lisonjeiro para Portugal. Tivesse jogado o Mbappé no lugar do Martial e se calhar estávamos aqui a falar de uma goleada. Isto apesar da reacção no fim que quase nos dava o empate. O Paulinho (ou um avançado como ele) encaixa que nem uma luva na forma de jogar do Ronaldo. Ter alguém como referência que joga bem de costas e faz bem de pivot, que "agarra" os centrais para deixar o Ronaldo entrar nas costas deles em diagonais, mas para jogarem félix, bernardo e jota alguém tem que ficar no banco e percebo isso, mas colocá-lo a 5mn do fim é o mesmo que nada, porque naquele momento já eles estão com bloco baixo e já não conta muito ter a tal referência. O Ronaldo neste esquema não ganha muito porque ou cai na ala e fica o centro sem referências, ou fica ele no centro e depois não consegue fazer as diagonais. o Paulinho pode ser o melhor complemento do Ronaldo na seleção (tal como o Benzema o era no RM).
A seleção tem talvez neste momento uma das melhores gerações da sua história (sendo para mim a melhor a de 2000/2002). A aposta na formação de Benfica, Porto e Braga a juntar à que o Sporting já fazia há anos deu nos últimos anos muitas soluções a juntar ao que já tínhamos em 2016: Ruben Neves, Jota, Félix, Bernardo, Ruben Dias, Guedes, os 2 Semedos, Cancelo, André Silva e agora Pedro Neto, Trincão e o próprio Paulinho. Temos muito mais soluções que em 2016. Mas com um treinador que a única coisa que sabe fazer é colocar a equipa a defender e a especular com o jogo a maior parte destes jogadores pouco brilham. Aliás, as nossas melhores exibições nos últimos anos têm sido em jogos sem o Ronaldo e onde a equipa joga mais liberta sem as amarras táticas do costume (na maior parte das vezes amigáveis ou os jogos iniciais da 1ª Liga das Nações onde o FS, e bem, apostou em gente nova sem grandes preocupações defensivas).
Ainda assim, é preciso reconhecer que apesar do aumento de qualidade dos nossos selecionáveis, ainda estamos uns furos abaixo de uma seleção como a França. Aquele meio campo ontem fez o que quis do jogo e aquele quarteto defensivo é de classe mundial (e ainda têm Lenglet, Upamecano, Mendy, etc no banco).
Mas este tipo de jogo de ontem é o que vamos ter no Euro 2020. E aí pode perfeitamente voltar a correr bem. Se marcarmos 1º e aguentarmos bem atrás é possível fazermos algo como 2016. Não deixa de ser interessante ver que basta o resultado ser diferente para se criticar treinador e jogadores, quando eles jogaram exatamente da mesma forma que têm sempre jogado nos últimos 5 anos. Estas críticas feitas ontem são as mesmas depois da derrota com o Uruguai ou quando empatamos com o Irão. Quando em 2016 ganhamos à França e à Croácia jogando da mesma maneira ninguém criticou.