Bom resultado na Mata Real com uma exibição q.b., mas à qual faltou continuidade. De realçar, pela positiva, o excelente apoio braguista nas bancadas e em sentido contrario, mais uma lesão de um médio defensivo, que vai criar problemas sérios para o jogo da UEFA, na Bósnia.
O onze inicial não surpreendeu, sabendo-se das limitações de Leone. Na verdade, não havia muito mais alternativas para a linha defensiva e meio-campo defensivo, mantendo o sistema. A equipa entrou bem, assumindo as despesas do jogo, frente a um adversário a actuar num 4-4-2 mais clássico. Durante cerca de 25 minutos, esteve por cima do adversário, criando algumas situações de remate (não muitas), mantendo o adversário remetido ao seu meio-campo. Contudo, a meio da primeira parte, o Paços de Ferreira conseguiu acomodar melhor as suas peças ao nosso futebol e conseguiu repartir o jogo – embora os seus balões à procura das costas da nossa defesa jamais tenham criado embaraço. A partida tornou-se menos interessante, jogada mais longe das baliza. Tal como mostráramos em partidas anteriores, tivemos alguma dificuldade em criar lances de perigo por força de alguma falta de mobilidade e (em conseqüência) alguns passes sem nexo – não me vou repetir em relação à dupla de pontas-de-lança, não gosto do “casamento” Linz-Meyong.
Felizmente o segundo tempo abriu praticamente com o nosso primeiro golo, numa boa combinação, com os jogadores sempre em movimento (grande abertura ao primeiro toque de Luís Aguiar) e com alguma colaboração do guarda-redes rival. O golo galvanizou a equipa que nos minutos seguintes poderia ter aumentado a contagem por várias vezes. Há nesta fase um lance que me pareceu de grande-penalidade por mão na bola de um defesa pacense – lance que, junto com outro também de mão na área do Paços, não pude rever na TV... O 2-0 contudo, não surgiu e começaram as substituições... de Paulo Sérgio. O Paços passou a jogar com três defesas, arriscando. E empurrou a nossa equipa para o nosso meio-campo. Sem criar grandes lances de perigo, é verdade, mas corremos riscos desnecessários durante demasiado tempo. Urgia introduzir um homem com velocidade para explorar o espaço que o Paços, mais subido no terreno, concedia nas suas costas. Não foi essa a opção de Jesus. Optou (ainda assim, quanto mim, tarde) por substituir o desgastado César Peixoto por Matheus (que entrou para uma posição em que não faz a diferença), deixando na frente uma dupla de avançados sem capacidade para explorar o contra-ataque. Percebo a intenção de fechar melhor o flanco, mas era preciso “assustar” o adversário e, com Linz e Meyong na frente, pouco velozes, não o conseguíamos. É neste contexto que surge o lance que poderia ter-nos custado os três pontos – penalty claro... na TV (no campo, não se via praticamente nada para aquela área!) por mão na bola, não de Alan, mas de João Pereira. Felizmente, o lance passou incólume e, já com Paulo César em campo (finalmente alguém com velocidade na frente!), pudemos sentenciar a partida e até poderíamos ter selado a vitória com números mais expressivos.
Foi um resultado justo numa partida que vencemos com clareza mas... poderíamos ter facilitado as coisas, se o nosso banco tem reagido mais prontamente às alterações tácticas do Paços de Ferreira. Ainda assim, foi uma exibição com pouca continuidade, ainda que deva ser dito que, do ponto de vista defensivo (mesmo com as dificuldades em compor a faixa central da defesa e do meio-campo), a equipa esteve francamente bem. O pior do jogo foi... mais uma lesão num médio defensivo. Grandes dificuldades se adivinham para formar um onze para a partida da Bósnia...
Eduardo: espectador. Deve ter sido dos seus jogos mais tranqüilos.
João Pereira: defensivamente, não teve problemas. Talvez tenha sido menos afoito que o habitual.
Rodriguez: imperial. Jogo simplesmente imaculado. Ganhou todos os lances que disputou.
Frechaut: como central, jogou numa fase em que o Paços praticamente só defendeu. Subiu para a posição de trinco em que esteve ao seu nível. Viu um amarelo por uma falta “útil”, cortando a saída para o contra-ataque.
Evaldo: curiosamente com mais iniciativa do que João Pereira, mas aqui e ali algumas dificuldades para estancar as investidas do Paços pelo seu flanco – sobretudo na segunda metade do segundo tempo. É muito bem no 1x1 do ponto de vista defensivo, fazendo valer o seu físico... mas nem sempre tem uma leitura táctica perfeita – as suas costas são algo vulneráveis.
Leone: percebe-se que vem jogando limitado. Revelou, talvez por isso, algumas dificuldades quando solicitado em velocidade. Ainda assim, cumpriu com o que se lhe pedia.
César Peixoto: mais um jogo que confirma a sua vontade de agarrar um lugar no onze. Em funções para as quais as suas actuais características estão talhadas, revela uma influência crescente na construção de jogo. Saiu numa fase em que,cansado, mostrava dificuldades em fechar o flanco. Será que teremos este César Peixoto por mais tempo?
Alan: é um jogador desconcertante. Capaz do melhor e do pior em pouco tempo. Esteve em alguns dos melhores lances atacantes da equipa (cruzamento para o primeiro golo, passe para Meyong que inicia o lance do segundo golo), mas ao mesmo tempo é capaz de perder a posse de bola de forma inexplicável, com passes desastrados. É verdade que se está a adaptar a uma posição à qual não estaria habituado. Ainda assim, foi influente no futebol ofensivo da equipa.
Luís Aguiar: é um jogador notável do ponto de vista técnico. Recepção, passe, remate são gestos que domina na perfeição e mostrou-o nesta partida – dois pontapés de primeira mereciam melhor sorte. O passe para Alan cruzar para o primeiro golo é delicioso. Para alem disso, é um jogador que trabalha para a equipa. Faltar-lhe-á talvez ser mais forte no 1x1 o que, quando o adversário pressiona muito o portador da bola, é um handicap. Bom jogo.
Linz: jogo discreto. Esforçou-se por movimentar-se na frente de ataque, mas teve poucas chances. Apenas uma na segunda parte, mas faltou-lhe velocidade para fugir ao corte do defesa contrario.
Meyong: não muito diferente do seu companheiro de ataque, valeu-se da sua capacidade para segurar a bola na frente – o que faz com mestria, funcionando por vezes como pivot. Pareceu-me muito cansado na fase final (esperava que fosse ele a sair e não Linz), mas a verdade é que o passe com conta, peso e medida para o golo de Paulo César é de sua autoria.
Matheus: não entrou muito bem. Terá contribuído para estancar as iniciativas contrarias pelo seu flanco, mas viu-se pouco no ataque. Continuo a pensar que não rende no meio-campo. Poderia ter sido ele a opção para a linha da frente, onde a sua velocidade faria certamente mossa, face ao adiantamento dos pacences. De resto, apareceu apenas para falhar um golo feito na fase final da partida.
Paulo César: não é um jogador tecnicamente evoluído (e isso viu-se num lance em que um mau domínio estragou um lance de grande perigo), mas a sua velocidade é importante nalgumas circunstâncias. Nesta partida, foi importante quando entrou. Em pouco tempo, conseguiu tornar a equipa perigosa no contra-ataque, acabando por, ele próprio, fechar a partida.