Concordo em absoluto com a apreciação feita por vocês neste tópico. Tenho a ideia que uma imensa maioria dos "adeptos" portugueses não aprecia o desporto que é o futebol na sua essência. Há um etologista, Konrad Lorenz, que lança a ideia de que a evolução de Darwin provocou nos animais e nos humanos um sentido inato de agressividade e atendendo à história da humanidade isso é verificável nas inúmeras e omnipresentes guerras, conflitos, competição. Diz ele que nos dias que correm, nos países onde não há um perigo real ou a existência de conflito aberto, as pessoas tendem a canalizar essa agressividade para outras actividades. Entre elas está evidentemente o desporto. A partir daqui, transpondo a ideia para Portugal, a actividade desportiva com mais tradição e representatividade é o futebol, como todos sabemos. E associado ao estado de constante depressão em que Portugal está mergulhado, as pessoas tendem a procurar no futebol a compensação emocional. Longe de ser uma adesão meramente desportiva, parece-me que as pessoas se agarram á "causa" para que ao menos aí possam ser vencedoras ao invés das derrotas nas muitas batalhas do quotidiano. E aí, como é evidente, o interesse é evidentemente ganhar, vencer, ser um dos fortes, dos poderosos. E o resultado é o que todos sabemos. Ao invés, há adeptos diferentes, que não frequentam o futebol para se aquartelarem numa bancada com mais uns milhares de "soldados", que constituem a "chusma" que ao indivíduo dá a sensação de poder, de força, de fazer parte de algo. Para essa outra estirpe de adeptos o prazer está no jogo, na técnica, na táctica, nos jogadores, nos estádios, no ruído, no som da bola a ser batida com força e aninhar-se nas redes, no passe de 40 metros em que observou a bola girar sobre si própria e ser recolhida como se de um bebé se tratasse pelo avançado. O gosto pelo jogo propriamente dito é coisa rara neste país. Dos muitos jogos que vejo em cafés (porque me recuso a assinar a Sportv) o que mais me irrita é a presença de outra raça de "adeptos", que conseguem passar 90 minutos a resmungar do árbitro, das faltinhas, do fiscal de linha, do adversário. Não são capazes de se comover com um golo esteticamente perfeito, mesmo que seja do adversário. É por estas razões que admiro um certo campeonato, onde o público acompanha a trajectória de cada remate com um "uuuuuuuu", onde o jogo é celebrado pelo que ele tem de bom, de belo - as fintas, a técnica, o golo, a intensidade, a bravura, a velocidade. Vêm-se pessoas a ir aos jogos ás 2 da tarde com a família porque adoram futebol. Podem dizer-me que é a pátria dos hooligans e sim, é, mas não me parece que esses sejam a maioria, as pessoas que emprestam aquele ambiente ao jogo são uma grande maioria. E a pancadaria normalmente acontece fora dos estádio, longe até, combinada entre eles, num fenómeno sucedâneo do futebol mas aparte. Quem é capaz de, amando de verdade o jogo do futebol, e não se emocionar quando é presenteado com um estádio repleto de pessoas de pé a entoar em uníssono, canções de alento á sua equipa? Arrepia, não arrepia? Aí vejo pela televisão estádios sempre cheios, quase só por adeptos das equipas que jogam em casa. Espero que nós, Braguistas, possamos um dia ter um ambiente assim, nem que seja apenas parecido, na beleza da pedreira e á maneira de Braga e que possamos assistir ao que realmente me apaixona, a visão da bola a rolar na relva e partilhar com os adeptos ao meu lado o entusiasmo pelo jogo.