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Parte I da entrevista a Dyego Sousa Dyego Sousa:
«O único clube com quem assinava já, sem esperar pelo mercado, era o SC Braga»Luís Rocha
Parte II - Dyego Sousa: «Fico triste por não ter ajudado mais o Benfica da forma que queria» (
https://www.zerozero.pt/news.php?id=321206 ) Há algum tempo que tentávamos a entrevista com Dyego Sousa. Quando o conseguimos, o início de conversa trouxe logo uma grande novidade: o avançado está a finalizar a rescisão com os chineses do Shenzhen FC e vai ficar livre no mercado, pelo que, no verão, vai procurar novo destino. Acessível, leve no discurso e sem esconder jogo, o avançado foi bom falante e teve claros indicadores de que Portugal será para sempre...
qEu e o Abel, aquilo foi sempre uma espécie de relação amor-ódio. (...) Ele dizia-me «Tu só vais jogar quando começares a correr mais do que 10kms». E eu «Então eu vou correr, porque eu tenho de jogar».
Nesta primeira parte (de três) da entrevista, o internacional português falou sobre o que não correu bem na passagem pelo futebol asiático e explicou o que vai fazer quando voltar da China - vem para Portugal.
Além disso, neste excerto é abordada a passagem pelo SC Braga, onde o avançado teve a melhor época com Abel Ferreira [20 golos e chegada à seleção], um treinador com que, admitiu-nos, nunca teve uma relação totalmente pacífica e amistosa, embora tal não tenha significado o outro lado: os ensinamentos em campo. Mais amigável é a ligação com António Salvador, que mereceu palavras de elogio.
«Na Europa, podem ter menos dinheiro, mas têm 10 vezes mais organização»
zerozero: Em que ponto está a tua carreira?
Dyego Sousa: Obrigado pela oportunidade, é sempre um gosto falar para o zerozero. Neste momento estou em processo de rescisão com o clube aqui da China.
ZZ: E está a ser complexo?
DS: Não, não, está a ser bem tranquilo. Conversei com os diretores do Shenzhen e avançámos para um acordo que foi bom para as duas partes. Está quase finalizado e estou livre. Já assinámos e está tudo certo.
ZZ: Assim sendo, está aí um aviso ao mercado: Dyego Sousa está livre.
DS: Sim, sim, estou livre para escolher entre as opções que surgirem. Ainda estou aqui na China porque aguardo a segunda dose da vacina, já que, se surgir uma oportunidade num clube chinês, já fico com esse processo concluído.
ZZ: Mas tens prioridades nesta altura?
DS: Não, não tenho, só estou a deixar as portas abertas, pois aqui a maior dificuldade nesta altura é isso da vacina. Tive a oportunidade de tomar a primeira dose ainda no clube e portanto fico a aguardar, pode ser que me ajude no futuro.
ZZ: Com o fim do capítulo no Shenzhen, vens para Portugal e, a partir daqui, procurar clube.
DS: Sim, volto para aí, tenho aí a mulher, família, amigos...
ZZ: O que vais fazer neste tempo em que vais estar parado?
DS: Vou ficar mais perto da família, manter a minha forma, jogar futvólei e estar bem equilibrado. Quando os mercados reabrirem, quero estar pronto, embora vá sempre passar por uma pré-época, seja para que clube ou campeonato for. Vou tentar não ficar totalmente parado. Felizmente, não tenho nenhuma lesão. Estive a trabalhar aqui com a equipa até eles irem para estágio.
ZZ: Porque é que optaram pela rescisão no Shenzhen, com quem tinhas mais dois anos de contrato?
DS: Aqui na China passa-se por uma situação muito financeira. O que posso dizer é que eles têm que fazer rodar o dinheiro, não pode ficar parado. Trazendo outro jogador, o dinheiro roda e é uma questão mais financeira do que de jogador.
ZZ: Ficas agradado com este desfecho?
DS: Posso dizer que sim. No ano passado, já tinha tido uma experiência menos boa aqui, não me adaptei ao futebol chinês, à cultura, à alimentação. Este ano, fiz a pré-época já com outros dirigentes, outros colegas também... Consegui adaptar-me, mas não foi totalmente. Então, não foi difícil para mim querer aceitar a rescisão.
ZZ: Já tinhas tido uma grande mudança, quando vieste do Brasil para Portugal, mas esta não terá sido menor. Quais as maiores dificuldades?
DS: A adaptação ao futebol e à língua. Temos de estar sempre a usar o tradutor e eu até com o inglês sou ruim [risos], então foi difícil. A cultura de futebol deles é muito diferente, a forma como eles se organizam... Na Europa, podem ter menos dinheiro, mas têm 10 vezes mais organização. Aqui é muito atrasado nesse aspeto.
Fez 20 golos na última época em Braga
«O SC Braga tem duas equipas, se tirarem os titulares, os outros são do mesmo nível»ZZ: Foste feliz em Braga. O que recordas daí?
DS: Em Portugal, a minha carreira foi sempre a crescer desde a minha chegada. Deixei boas referências nos clubes onde passei, bons amigos, mas o SC Braga foi o clube onde foi mais feliz e que eu mais gosto. Foi onde mais gostei de jogar, a cidade onde mais gostei de viver, tanto que tenho casa em Braga, os adeptos, as pessoas, o clube em si, tudo o que ali passei e ganhei faz com que eu leve o SC Braga com muito carinho.
ZZ: Se amanhã o SC Braga te ligar, tu vais imediatamente?
DS: [risos] Neste momento, acho que seria o único clube por quem eu assinava já, não esperava por julho. De outros, eu teria de pensar, mas para o SC Braga seria carta branca [risos]
ZZ: Vamos ver se o presidente António Salvador vai ver isto...
DS: [risos] Ele é um amigo que eu tenho, falamos por mensagem e ele sabe o quanto me ajudou e o carinho que tenho por ele. É um presidente um pouco complicado, como todos os outros, mas é uma pessoa por quem tenho enorme carinho e a quem agradeço pelo que me ajudou.
ZZ: Antes de assinares pelo Famalicão, chegou-se a falar que o Vitória SC seria uma hipótese. Foi mesmo?
DS: A mim não chegou nada. Quando saí do Benfica, a única possibilidade que tinha para fazer apenas os três meses [n.d.r.: o jogador teria de voltar ao Shenzhen em janeiro] foi o Famalicão.
ZZ: O SC Braga tem crescido nos últimos anos, ganhou o estatuto de quarto grande e vai ameaçando os outros três. O que falta ao SC Braga para chegar ao tão desejado título?
DS: [suspiro]... Acho que o presidente tem reforçado a equipa todos os anos e feito boas contratações, tem plantel de peso e vai buscar os melhores jogadores que jogam no futebol português, e acho que, neste momento, o SC Braga tem duas equipas, se tirarem os titulares, os outros são do mesmo nível. Acho que nem é uma questão de experiência, será uma pontinha de sorte que ainda não chegou ao SC Braga, alguma peça que encaixe ali e que torne a equipa ainda mais vencedora. Tem equipa, tem estádio, tem adeptos... é a pontinha de sorte para lutar pelo campeonato, porque normalmente, quando chega ali a meio do campeonato, perde uns jogos e quebra. Acompanho sempre e nem eu entendo o motivo.
ZZ: A propósito do não entender, há uns anos havia um treinador que dizia: «Eu não entendo como é que o máximo de golos do Dyego numa época são só 12». Lembras-te quem foi?
DS: [risos] Foi o Abel...
ZZ: Nessa época, fizeste 20! Mas, com o Abel, aquilo nunca foi 100%, pois não? Marcavas, marcavas, mas, se tiravas um bocadinho o pé, ias logo para o banco...
DS: [gargalhada] Era, era, mais ou menos assim... Eu e o Abel, aquilo foi sempre uma espécie de relação amor-ódio. Mas foi um treinador que me motivou, que puxou por mim. Já lho disse e a outras pessoas: não foi o melhor treinador que tive em questões de amizade e confiança cega, mas foi um treinador que me ensinou a estar dentro de campo, a correr, a movimentar-me, a picar-me na hora certa. Isso ajudou-me muito. Ele dizia-me «Tu só vais jogar quando começares a correr mais do que 10kms». E eu «Então eu vou correr, porque eu tenho de jogar».
ZZ: Portanto, dele não vias muitos sorrisos...
DS: Pois... Mas marcou-me e não esqueço muitos ensinamentos. Nunca tive boas relações com o Abel, tivemos alguns conflitos, mas foi o treinador que, taticamente, me soube posicionar em campo. Antes, eu corria à toa, depois eu passei a saber correr.
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