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«Os dois anos no Vitória FC foi onde eu desfrutei mais de jogar» - Entrevista BnR com Artur Jorge Por Romão Rodrigues
Artur, Jorge ou Artur Jorge. As designações não devem interessar no contexto futebolístico. Nascido e criado em Braga, Artur Jorge privou essencialmente com um objeto: a bola. Trocou impressões, construiu uma relação sólida e duradoura e realizou uma jura de amor eterno. Pode afirmar-se que o esférico representa um filho não gerado, mas educado e fonte dos seus valores.
Desde cedo que acompanha todos os movimentos do universo do Futebol, proporcionados pelo pai, Artur Jorge, antigo capitão do SC Braga. Fez formação em casa, rodopiou em campeonatos inferiores e regressou à ribalta do futebol português pela mesma porta na qual entrou. Conta com duas experiências internacionais, separadas por duas temporadas no histórico Vitória de Setúbal, paixão recente do seu âmago. Brincadeiras à parte – foram duas nesta conversa, a encetá-la e a terminá-la – o central posicionou-se sobre o seu futuro e marcou-o como indeferido.
-O crescimento no SC Braga, os empréstimos e a afirmação-
«O meu grande sonho era poder chegar à equipa principal»Bola na Rede: Olá, Artur Jorge! Antes de mais, quero agradecer-te por teres aceite o convite para a entrevista. De modo a quebrar o gelo e a dissipar a distância que nos separa, vou encetar isto com uma espécie de brincadeira. Posso tratar-te por tu?
Artur Jorge: Olá! Obrigado pelo convite! Sim, vamos a isso, claro que aceito. E claro que me podes tratar por tu!
Bola na Rede: Preferes que te trata por Artur, Jorge ou Artur Jorge?
Artur Jorge: No mundo do futebol todos me tratam por Artur Jorge. Mas, quando convivem comigo, acaba por ser só Artur.
Bola na Rede: Marcar um golo decisivo ou cortar uma bola em cima da linha de golo, para lá do minuto 90?
Artur Jorge: A segunda opção, claramente. Se o resultado for favorável para nós, sem dúvida.
Bola na Rede: Esta última considero ser a mais difícil de responder. Preferes marcar o Ronaldo, o Messi ou o Mbappé? Em termos de posicionamento, claro…
Artur Jorge: O que prefiro ou o que acho mais difícil?
Bola na Rede: Ambas. O que preferes e o que achas mais difícil.
Artur Jorge: Em termos de dificuldade, o Ronaldo. Não existe finalizador como ele. Preferia marcar o Ronaldo também, ter a experiência de marcar o Ronaldo.
Bola na Rede: Agora sim, passamos para a entrevista propriamente dita. Conta-me lá como foi a tua infância… A bola era presença assídua nas tuas brincadeiras?
Artur Jorge: Era, era. Aliás, diria que era o único brinquedo, a única forma de brincar que eu tenho, que eu gostava. Muito por influência do meu pai, que era jogador e que eu acompanhava de muito perto. E, desde muito novo, que sempre tive essa grande paixão. Acompanhava-o nos treinos, vi os adultos e tinha oportunidade de ver ali os profissionais a treinar. Isso encantava-me. Era a forma que me entretinha. Isso e jogar à bola a toda a hora também.
Bola na Rede: O teu pai jogou no SC Braga? Foi capitão?
Artur Jorge: Sim, durante alguns anos. Não sei precisar quantos, mas foi.
Bola na Rede: A tua formação, pelo que consta nos registos, foi sempre efetuada no SC Braga. Tiveste, durante esse período, outras propostas para abandonar o clube?
Artur Jorge: Não. Quando tens aquela idade dos 14/15/16 anos, se te destacas um bocadinho, acabas por ser associado, porque falaram dos três grandes, disto e daquilo. Mas, de forma concreta, nunca me chegou nada. Ao clube, não sei, não me diz respeito. A verdade é que, ali no SC Braga, sempre subi de patamar, sempre fui capitão de equipa, sempre joguei em escalões acima da minha idade, num processo muito natural. Era ali que eu queria estar…
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Bola na Rede: Após a tua subida ao escalão profissional, fazes a estreia pela equipa B do SC Braga. Pensaste, em algum momento, abandonar o clube por almejares outros voos?
Artur Jorge: Não, honestamente não. Tinha – obviamente – desde muito pequeno, tinha ambição de o ser muito por causa do meu pai. Depois, a partir de uma certa idade, comecei a ter mesmo essa ambição e, de facto, o meu grande sonho era poder chegar à equipa principal. Até o conseguir, nunca pensei noutro tipo de possibilidade ou de sair para onde quer que fosse. Estava em casa, sentia-me muito bem ali. Era o sítio onde eu queria estar. Sentia-me valorizado e bem! Eu acreditava – seriamente – que o meu tempo na equipa principal ia chegar. Portanto, sempre optei por esperar por ela e ver como é que ia correr.
Bola na Rede Inclusive tu também tiveste uma época no Vilaverdense e no Freamunde. Consideras que esses empréstimos foram fundamentais na projeção da tua carreira, que serviram de rampa de lançamento? Também sentiste carinho fora do SC Braga?
Artur Jorge: Sim, eu nesses dois sítios fui muito bem tratado. Mas isso surgiu em condições muito específicas. No meu primeiro ano de sénior, fraturei a perna; depois, no meu regresso, houve a possibilidade de ser emprestado. O treinador da altura também tinha essa vontade. Isto para que eu pudesse ganhar ritmo competitivo para uma equipa situada num patamar inferior, digamos assim. Surgiu o Vilaverdense. Na altura, eles tinham um protocolo com o SC Braga. Eu estive lá três/quatro meses. Depois, em janeiro, surge a opção do Freamunde. Lembro-me que eles estavam nos primeiros lugares e na luta pela subida à Primeira Liga. Eu pedi ao SC Braga que me libertassem, porque estavam num patamar acima e porque também já reunia as condições físicas necessárias para voltar a competir num escalão superior, estava apto. Foi um desafio aliciante. Sabia, também, que no fim dessa mesma época, retornaria a Braga porque era isso que tinha ficado estipulado: eu ia rodar, fazer jogos, ganhar ritmo e depois regressava a casa.
Bola na Rede: Tu já afloraste o tema no qual eu iria incidir. Após esses empréstimos, regressas à equipa B novamente. Realizas uma temporada sólida e regular. Foi isso que catapultou a chamada à equipa A?
Artur Jorge: Sim, acho que sim. Essa época correu-me muito bem. O treinador era o mister Abel Ferreira, que agora está no Palmeiras. Creio não ter sido só totalista por convocatórias para a equipa A, ou seja, eu falhei um ou dois jogos só. Fiz 40 e tal jogos nessa época! Uma regularidade muito boa, sem lesões, sem qualquer tipo de problemas, sempre a jogar. Depois, a partir de certo momento, umas lesões na equipa principal ou uma simples gestão do plantel fizeram com que fosse chamado à equipa principal. Primeiro, a treinar e a integrar a equipa durante a semana, sendo que no fim de semana baixava para jogar pela equipa B. Até que depois, de forma natural, comecei a ser mais uma opção.
Bola na Rede: Na época 2016/2017, completas grande parte dos jogos ao serviço da equipa A. Só te inteiraste desses momentos quando pisaste o relvado ou andaste uma semana a pensar nisso?
Artur Jorge: A partir do momento em que comecei a ficar no plantel de forma mais regular, senti que estava mais perto de conquistar a oportunidade que me tinha sido concedida e só precisava de algum problema físico de um colega meu – é mesmo assim que as coisas funcionam – ou alguma oportunidade. E a verdade é que nesse ano surgiu, com o mister Peseiro. Nós tínhamos alguns problemas físicos na defesa com o André Pinto, com o Ricardo Ferreira. Na primeira vez que o André Pinto tem esse problema, o mister Peseiro deu-me oportunidade e colocou-me em campo logo na Luz. Ele confiava muito em mim e sempre me disse que me ia colocar a jogar, não interessava onde fosse. Foi perfeito! Quer dizer, não foi perfeito porque não vencemos, mas foi uma estreia contra um grande de Portugal, contra um clube que tem mais adeptos. Foi um momento fantástico para mim!
Bola na Rede: Também te sentiste assim quando jogaste na Liga Europa, quando te estreaste?
Artur Jorge: Foi tudo muito rápido aquele começo de época. Na verdade, inicialmente eu entrei na equipa devido ao problema físico de um colega. Mas, com o passar do tempo, senti que também conquistei ali o meu espaço e o facto de ser opção para o mister Peseiro. Tanto é que depois já jogava de forma natural. Penso até que, nessa mesma época, fui o central com mais minutos nessa época. Depois, adquiri a ambição de jogar todos os jogos e ser titular. Na Liga Europa foi um bocadinho assim também: eu já vinha a jogar para o campeonato e depois a escolha para jogar na competição recaiu sobre mim. Fiz a minha estreia no Shahktar, na Ucrânia. Foi um jogo dificílimo, mas também foi mais um sonho que realizei. Joguei pela equipa que eu mais queria, que era o SC Braga.
Bola na Rede: Finalizamos aqui o capítulo do SC Braga. Queria perguntar-te qual foi o treinador que mais te marcou a nível mental e emocional durante a estadia?
Artur Jorge: Tenho sempre de fazer menção ao mister José Peseiro, porque foi ele quem me lançou e que apostou em mim sem qualquer tipo de receio. Depois, existe também o Abel, importantíssimo nesse meu ano da equipa B. Sinto que dei ali um salto de qualidade no meu jogo. Além disso, gostei muito de trabalhar com o mister Jorge Simão, mesmo apesar de a passagem dele pelo clube ser muito curta. Identifiquei-me muito com a personalidade dele e com o seu método de treino.
- De estrela de aeroporto à regularidade encontrada em Setúbal-
“Quando cheguei ao aeroporto, tive uma receção como acho que nunca mais vou ter na vida ”Bola na Rede: Na época que se seguiu, tu vivenciaste a primeira experiência internacional e logo num clube que, no passado, integrou o lote dos grandes europeus. Foste transferido para o Steaua de Bucuresti. Mas a época não te corre de feição. O que aconteceu?
Artur Jorge: A opção do Steaua já surgiu muito tarde no mercado e foi quase uma opção de recurso. Aquilo cativou-me porque, como disseste, foi um grande europeu e, a nível interno, era o maior clube da Roménia. Sabendo que teria de sair, a escolha incidiu sobre o Steaua. Não me arrependo, mas, depois de lá estar, percebi que era um clube com umas dinâmicas um bocadinho diferentes e complicadas. O presidente/dono (Gigi Becali) era muito polémico e a verdade é que eu também tive a infelicidade de, na minha estreia, marcar um autogolo. Eu cheguei e, no dia seguinte, estreei-me. Estávamos a meio dos playoffs da Liga dos Campeões, contra o Sporting CP, e, nessa gestão, eu joguei logo. Não tinha feito pré-época, não tinha feito nada. Devido à gestão que ele faz ali na equipa – é ele que manda e ponto final – decidiu (falo logo nisso durante essa semana) que não saberia se eu iria ter mais oportunidades porque não tinha gostado da estreia. De facto, na primeira semana, vi logo que ia ter uma época complicada.
OFICIAL: Braga empresta Artur Jorge ao Steaua
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https://t.co/gin3G0Q1A6 https://twitter.com/zerozeropt/status/897495124057501698?ref_src=twsrc%5Etfw Bola na Rede: Falaste aí do autogolo, eu ia perguntar-te isso precisamente agora. Eu pesquisei notícias sobre ti, tive que realizar o trabalho de casa, naturalmente. Existe uma notícia muito interessante, avançada – na altura – pelo ZeroZero, que dizia “autogolo aos 14 segundos… e estrela no aeroporto”. Queres contar-nos o que se passou?
Artur Jorge: No dia anterior, eu tinha chegado e a equipa tinha empatado em Alvalade (0-0), na primeira mão do playoff de acesso à Champions League. Estava num bom momento e lá está, como te disse, é um gigante na Roménia. Se estiveres dentro da realidade, consegues ter essa ideia e perceber o que estou a dizer. Eu não tinha bem, no início. Quando cheguei ao aeroporto, tive uma receção como acho que nunca mais vou ter na vida. Sobretudo da imprensa. Aqui em Portugal nunca tinha vivenciado isso e não estava habituado, naturalmente. Achei aquilo diferente e motivador, ao mesmo tempo. Acompanhavam-te desde a chegada ao aeroporto até ao carro, com as câmaras atrás de ti e tudo mais. Penso que seja daí que venha o termo “estrela do aeroporto”. De facto, fui recebido como tal. No dia seguinte, acontece aquela infelicidade; na primeira vez que toco na bola, faço um autogolo. É caricato, é raro, mas aconteceu.
Bola na Rede: Na época que se seguiu, 2018/2019, regressas a Portugal e assinas contrato com o Vitória de Setúbal. Representas os sadinos durante duas temporadas. Sentes que foi daquelas situações nas quais dás um passo atrás para no futuro dar dois à frente?
Artur Jorge: Claramente, claramente. Depois dessa época na Roménia, onde joguei muito pouco para aquilo que é uma temporada inteira, eu tinha muito poucas opções. E só tinha dois caminhos: ou continuava por mercados alternativos, não estando nas equipas mais fortes, ou voltava a Portugal, que era uma liga que eu conhecia e a um clube que me quisesse de modo a que voltasse a ganhar confiança, condição física e regularidade, fatores essenciais para um jogador. Abdiquei da parte financeira, de tudo, para olhar só para a parte desportiva. Eu venho da Roménia numa realidade contratual completamente diferente daquela que encontrei em Setúbal. Em relação ao Steaua de Bucuresti, o Vitória de Setúbal foi completamente diferente: desde a abertura do mercado, foi um clube que demonstrou sempre muito interesse. Ligaram-me, quiseram contar comigo e eu não hesitei. Enquadrava-se dentro daquilo que que queria. Uma equipa de Primeira Liga, com muita História, com histórico de lançar jogadores nas últimas épocas, porque nas temporadas anteriores tinha lançado imensos jogadores, mesmo para os três grandes. O tempo veio dar-me razão. Eu tinha que jogar, senti que a minha carreira precisava disso.
Bola na Rede: Qual foi o treinador que mais te marcou em Setúbal?
Artur Jorge: Velásquez, talvez…
Bola na Rede: Identificaste-te com ele pela personalidade, pelo método de treino?
Artur Jorge: Sim. Muito metódico, muito ao pormenor, e eu vejo o futebol um bocadinho também dessa forma. Portanto, identificava-me com aquilo. E depois pelo facto de coincidir – apesar de eu não acreditar nesse mundo – com o meu melhor momento de forma a nível de rendimento até hoje, se calhar. Foi uma fase na qual eu estive muito bem e juntou-se o útil ao agradável. Poderá ser um bocadinho por aí. Contudo, todos os treinadores que eu tive no Vitória de Setúbal (o mister Lito, o mister Sandro) joguei com todos eles, retirei um bocadinho de todos eles e gostei, honestamente, de ser treinado por todos eles. Portanto, eu estou aqui a dizer o Velásquez porque apanhou o meu pico de forma, mas, sinceramente, entre os três, não existe grande diferença nesse aspeto. Até seria injusto da minha parte…
Bola na Rede: Para além de completares duas temporadas de forma sólida, também marcaste alguns pontos fora das quatro linhas. Existe um vídeo na internet que demonstra a surpresa que preparas a um adepto do clube, no dia do seu aniversário e em frente à escola que ele frequentava. Foi combinado ou partiu da tua iniciativa/ iniciativa do clube?
Artur Jorge: Não, partiu da minha iniciativa. Se me recordo, era um miúdo que gostava imenso de mim, esperava por mim à porta do estádio. Ele já me tinha pedido a camisola algumas vezes, no final dos jogos. Em conversa com um diretor, soube que o miúdo fazia anos, já não me recordo bem como. Surgiu essa ideia, de preparar uma surpresa e levar-lhe a camisola assinada. O próprio clube ganha com isso porque desempenhava uma boa ação, eu próprio também e o miúdo ficava feliz. Seguíamos todos a ganhar. Ele adorou. É de vincar que o Vitória de Setúbal tem muitas iniciativas desse género. Daí, eu te digo. Foram os dois anos onde eu desfrutei mais de jogar, foi ali, até hoje. Mesmo na cidade, senti-me muito valorizado, como nunca me senti até hoje em lado nenhum. Foram dois anos muito bons.

15′ | Vitória Setúbal 0-0 Porto
Artur Jorge já leva 5 alívios em apenas 15 minutos. Mantendo a média, chega ao fim do jogo com 30#LigaNOS #VFCFCP #SomosVitória #FCPorto
https://t.co/4v4EDJcwZJ https://twitter.com/_Goalpoint/status/1223673139735007232?ref_src=twsrc%5Etfw (continua no post seguinte)
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