Só vi o jogo até aos 75 minutos (pouco depois do 3-0) e devo dizer que fiquei muito apreensivo com a nossa partida. Até conseguimos dividir o jogo territorialmente em boa parte do tempo mas nunca fomos muito perigosos ao contrário do adversário a quem permitimos diversas ocasiões. E se em termos ofensivos compreendo que seja mais demorada a mecanização, em termos defensivos tínhamos obrigação de mostrar outra organização defensiva. Não me refiro apenas à linha defensiva mas à postura colectiva da equipa em momento defensivo. Mostrámos graves lacunas numa altura em que a temporada oficial está aí à porta.
Começamos a partida no esquema habitual (4-2-3-1), com Stélvio a assumir de forma surpreendente o papel de trinco (estará Madrid de saída? já experimentámos Brum, depois Frechaut, agora Stélvio!?) e Vandinho com maior liberdade para subir, pressionando o adversário ainda no seu meio-campo, cabendo a JVP, teoricamente, a condução do jogo. Tentámos desde o início uma pressão muito alta (que penso que Jorge Costa quererá tornar um hábito da sua equipa) e causámos de facto alguns engulhos ao adversário logo à saída do seu meio-campo. Não fomos contudo capazes de aproveitar bem as diversas recuperações de posse de bola que conseguimos no meio-campo adversários: houve sempre pouco discernimento e muita lentidão no passe. Em contrapartida, sempre que o Villareal conseguia quebrar a nossa primeira linha de pressão encontrava demasiado espaço que aproveitava para criar lances de perigo. Foi-o conseguindo mais vezes à medida que o tempo passava: a nossa pressão alta exige grande capacidade física e não creio que a equipa tenha ainda capacidade para o fazer ininterruptamente durante toda uma partida e, mais, creio que temos jogadores que nem estão talhados para isso nem têm já frescura física para o suportar durante todo o jogo. Finda a primeira metade, apesar de termos dividido o jogo com o Villareal, a verdade é que os grandes lances de perigo (que não foram muitos) haviam ocorrido junto à nossa baliza e até poderíamos ter ido para intervalo já em desvantagem.
A segunda metade apenas acentuou as nossas lacunas. Foi notória por um lado a nossa incapacidade para manter a pressão a todo o campo que Jorge Costa pretende e, agora de forma mais evidente, o excessivo espaço concedido entre linhas, sobretudo entre a primeira linha de pressão e a retaguarda e o meio-campo defensivo. Exigia-se que jogássemos com as linhas mais unidas de forma a que os médios do Villareal não pudessem manobrar a seu bel-prazer, com tempo para pensar o jogo e lançar os seus avançados. Não sei contudo se teremos essa capacidade. Para jogarmos com uma defesa subida é necessário termos defesas rápidos e, dos que actuaram ontem, apenas João Pereira tem alguma velocidade. Vezes sem conta o Villareal, trocando bem a bola e quebrando a nossa primeira linha de pressão, pôde lançar com à vontade os seus avançados em profundidade, mercê do espaço concedido aos seus médios para ler a movimentação dos homens da frente e fazer o passe. As oportunidades e os golos sucederam-se fruto também de alguns erros individuais:
- Wender "esquece-se" de subir no lance do primeiro golo, colocando Gille Franco em jogo;
- Dani faz um passe disparatado para um adversário que tenta de imediato o chapéu - que apenas não resulta em golo porque a bola caprichosamente bate na trave;
- Anílton hesita entre entrar ao lance ou ficar com Tomasson (como dizia, demasiado espaço entre linhas) e permite o passe nas suas costas que o dinamarquês aproveita para marcar o segundo, embora em posição irregular;
- João Pereira perde a bola infantilmente ainda no nosso meio-terreno, permitindo um contra-ataque fulminante com mais uma bola nas costas da nossa linha defensiva que Rossi aproveita para fazer o terceiro.
Como referi, não assisti aos últimos 15 minutos, em que Jorge Costa terá testado novamente o 4-2-4, com Jaílson a acompanhar JT, Zé Manel à direita e Frechaut ao lado de Stélvio no meio-campo. Valha-nos o ponto de honra que amenizou um resultado bastante pesado.
Do ponto de vista individual, destaco pela positiva Vandinho, claramente o nosso melhor homem, este sim talhado para a pressão a todo o campo, o que fez bem enquanto teve pernas - a até esteve a um nível razoável no capítulo do passe, a sua habitual pecha. Tenho dificuldade em destacar mais gente pela positiva. Talvez João Pinto pelo discernimento que mostrou na primeira metade. E Dani (se "esquecermos" o passe disparatado para o adversário) que, a meu ver não teve qualquer culpa nos golos sofridos e esteve bem em tudo o resto (que não foi muito, diga-se).
Fiquei preocupado com algumas prestações na linha defensiva, embora como referi, pense que os problemas são de natureza colectiva e de falhas no posicionamento e dinâmica defensiva da equipa na globalidade:
- O César Peixoto que jogou hoje não tem lugar na equipa. Defensivamente mal nos duelos individuais (constantemente ultrapassado), no posicionamento, na (falta de) velocidade. Marcar livres e cantos e fazer aqui e ali um bom cruzamento não chega. Carlos Fernandes é melhor que o César que jogou no Madrigal.
- A dupla de centrais não funcionou bem. Não acho que individualmente quer um quer outro tenham estado propriamente mal (tirando a hesitação no lance do segundo golo de Anílton), mas parecem-me dois jogadores demasiado iguais, muito físicos, "pesados", sem grande velocidade ou capacidade de antecipação dos lances. Faltou o contraste que Rodriguez proporciona. Mas como é se falta Rodriguez?
- João Pereira, apesar do erro grave que originou o terceiro golo, foi o melhor da linha defensiva. Esteve bem nos duelos individuais e subiu sempre com algum a-propósito.
- Stélvio não foi o tampão que a equipa precisava. Falta-lhe ainda algum rigor posicional e maior rapidez a executar o primeiro passe, mesmo que simples. Não foi capaz de unir a equipa mas se calhar é injusto culpá-lo de uma falha que é sobretudo colectiva.
- Wender passou ao lado do jogo. Registei apenas uma boa abertura para Yasser que este desperdiçou dominando mal a bola.
- Yasser voltou a mostrar qualidade técnica mas quanto mais o vejo jogar mais me convenço de que não é extremo. Nessa posição é apenas mais um, não tem velocidade para desequilibrar. è um desperdício deslocá-lo da faixa central...
- João Tomás foi apenas esforçado. Dois cabeceamentos potencialmente perigosos falhados foi tudo quanto registei. Mas parece que ainda foi a tempo de picar o ponto...
Fiquei algo apreensivo porque pensei que, pelo menos do ponto de vista defensivo, as coisas estavam mais consolidadas. Frente a um adversário poderoso, mostrámos que mesmo nesse aspecto há muito trabalho a fazer. falta também alguma acutilância e rapidez de movimentos na frente. E já não há muito tempo para afinar as coisas...