Se bem se recordam, a questão da cedência dos “naming rights” do Estádio Municipal de Braga, foi discutida aqui no fórum há pelo menos um ano. Muitos foristas deram o seu contributo para a discussão – recordo inclusivamente ter-se discutido a possibilidade legal de um negocio no género poder ser concretizado à luz do protocolo de cedência do estádio celebrado entre a Câmara Municipal de Braga e o clube – o Cardoso teve inclusive, na altura, a gentileza de me enviar o texto do protocolo.
A minha “proposta” passava por uma cedência, definitiva ou por um prazo muito alargado” dos “naming rights” a uma entidade que mostrasse nisso interesse, revertendo os proveitos decorrentes do negócio em favor da Câmara Municipal e do clube em percentagens a acordar entre si – com a maior fatia a reverter em favor dos interesses municipais. Não sendo jurista, do meu ponto de vista, um tal negocio obrigaria sempre a uma reformulação do protocolo entre a Câmara Municipal e o clube, estabelecendo-se de uma forma expressa os termos em que este negócio se faria.
Qual a racionalidade da minha “proposta”? Sendo senão consensual pelo menos opinião maioritária que a construção do novo EMB terá comprometido desnecessariamente os recursos camarários por um período demasiado alargado, sem que as contrapartidas para a população fossem proporcionais ao esforço despendido, a hipótese de um acordo de longo prazo que envolvesse a cedência dos “naming rights” do estádio poderia proporcionar do meu ponto de vista valores que poderiam ser de tal forma significativos que permitiriam abater uma parcela importante do investimento feito pela CMB, libertando recursos para outras áreas porventura de intervenção mais premente (acção social, apoio ao tecido produtivo do município, urbanismo mais “amigo” do cidadão). Ao clube caber-lhe-ia uma fatia dos proveitos desse negocio (do meu ponto de vista, necessariamente minoritária) na medida em que lhe caberia a si a “procura” de investidores que revelassem interesse no negocio e bem assim pelo facto de, na realidade, lhe caber a si a promoção comercial do espaço, através da sua utilização nas provas desportivas nacionais e internacionais em que está envolvido.
A meu ver, a opção de ceder os “naming rights” do estádio teria potencial para ser um negocio milionário porque o EMB, goste-se ou não dele, tem uma dimensão que ultrapassa o âmbito da cidade e do próprio clube – é quase um ícone da arquitectura moderna portuguesa, com visibilidade internacional e portanto, tem associado um activo imaterial valiosíssimo.
O que realmente aconteceu?
O clube cedeu por três anos os “naming rights” a uma grande seguradora mundial (AXA), arrecadando (ao que se diz) cerca de 4 milhões de euros – valor que contudo inclui também o patrocínio da equipa de futebol nos equipamentos entre outros aspectos. A Câmara terá dado o seu assentimento.
Ora, do meu ponto de vista, parece-me um grande negocio... para a AXA! Esta associa o seu nome a um recinto cujo prestígio ultrapassa a dimensão local e regional associada ao município e ao clube. Paga por isso cerca de 1 milhão de euros anuais (se considerarmos como plausível que 1 milhão da verba entregue será imputável ao patrocínio nas camisolas durante três épocas) – uma ridicularia para uma empresa que é porventura a maior seguradora europeia.
A Câmara Municipal abdica da possibilidade de, a meu ver real, de estabelecer um negocio de longa duração e de valores mais significativos que lhe permitissem mostrar que se calhar no final das contas o custo do Estádio poder-se-ia situar em valores razoáveis libertando significativas verbas do erário municipal. Ao excluir-se do negocio, voluntariamente ou por omissão, objectivamente apoia o clube mais representativo da cidade.
O clube (através da SAD) faz um negócio que pode ser avaliado diferentemente sob dois pontos de vista diversos:
1. Do ponto de vista estritamente económico-financeiro, a curto/médio prazo, é indiscutivelmente uma opção de gestão merecedora de elogios. Já algumas vezes aqui manifestara aqui a minha preocupação em relação ao facto de a SAD continuar a deixar agravar os seus resultados correntes, a despeito da boa gestão que tem sido conduzida no que diz respeito às transferências e à rentabilização dos passes dos atletas. Ao acréscimo nos custos correntes não vinha correspondendo um acréscimo concomitante dos proveitos da actividade corrente – pelo menos até 2005/06, esta “fraqueza” é patente, com os resultados correntes a apresentarem um saldo negativo de cerca de 3 milhões de euros!!! Ora, este negocio, consegue indubitavelmente inverter um pouco isto, garantindo para os próximas três temporadas um acréscimo de entre 1 a 1,5 milhões de euros no que respeita a receitas correntes anuais. Torna a SAD indiscutivelmente menos dependente do que consiga fazer no mercado com a compra e venda de passes de atletas.
2. Do ponto de vista institucional e mesmo numa vertente económica se considerarmos um horizonte temporal suficientemente alargado, não é uma boa decisão. Em primeiro lugar, porque sedimenta nas pessoas de Braga (e naquelas que com elas se relacionam) a ideia “velha” de um clube dependente das “ajudas” da Câmara Municipal que, para apoiar o clube, abdica de pensar em problemas prementes dos munícipes. Ora, quanto a mim, isto é um dos factores que afasta muitas pessoas do clube, fundamentalmente aqueles que até não ligam muito ao futebol precisamente porque não lhes agrada tudo aquilo que de negativo envolve a sua imagem: falta de transparência, tráfico de influências, culto de ódios descabidos, etc.... É que, como já várias vezes referi e ao contrario do que há uns tempos pensava, estou hoje convencido que a maioria das pessoas “de Braga” que estão afastadas do clube não tem uma preferência clubística definida. É preciso reforçar a relação do clube com a cidade e promover o desporto como uma festa. Só assim o clube crescerá. Este negocio quanto a mim promove uma imagem que afasta as pessoas do clube – damos uma imagem de um chico-espertismo de que as pessoas estão fartas.
Não seria um meio poderosíssimo de promoção se o clube apresentasse publicamente uma proposta de negócio que favorecesse o município ainda que numa perspectiva financeira de curto prazo tal não lhe fosse tão favorável?
Notas:
• A meu ver, não faz sentido ceder os “naming rights” do EMB por apenas três anos a favor da AXA. Estamos a reduzir o valor do activo, a banalizá-lo. O que acontece daqui a três anos? Fica sem nome comercial? Muda para estádio Vodafone? Penso que para as marcas se torna complicado entrarem num tal negocio quando há um “lastro” de três anos em que o EMB viu a sua imagem associada a uma outra empresa.
• Curiosamente, tenho lido muitas criticas a aspectos que para mim são menores no negocio. Não vejo problema em que o nome do EMB esteja associado a uma empresa (desde que idónea) se a propriedade do Estádio não deixa de ser da Câmara Municipal. Como eu gostaria de ceder os “naming rights” da pedreira à AXA (ou a outra empresa qualquer) com esta a suportar a totalidade (ou boa parte) dos encargos financeiros do investimento no estádio! Teríamos todos uma infra-estrutura que quanto mais não seja, para além de servir o clube mais representativo do município, projecta a imagem da cidade nacional e internacionalmente, sem que no fim das contas tivéssemos pago um tostão. E libertaríamos recursos da Câmara Municipal para áreas mais prementes da vida dos cidadãos...
A minha “proposta” passava por uma cedência, definitiva ou por um prazo muito alargado” dos “naming rights” a uma entidade que mostrasse nisso interesse, revertendo os proveitos decorrentes do negócio em favor da Câmara Municipal e do clube em percentagens a acordar entre si – com a maior fatia a reverter em favor dos interesses municipais. Não sendo jurista, do meu ponto de vista, um tal negocio obrigaria sempre a uma reformulação do protocolo entre a Câmara Municipal e o clube, estabelecendo-se de uma forma expressa os termos em que este negócio se faria.
Qual a racionalidade da minha “proposta”? Sendo senão consensual pelo menos opinião maioritária que a construção do novo EMB terá comprometido desnecessariamente os recursos camarários por um período demasiado alargado, sem que as contrapartidas para a população fossem proporcionais ao esforço despendido, a hipótese de um acordo de longo prazo que envolvesse a cedência dos “naming rights” do estádio poderia proporcionar do meu ponto de vista valores que poderiam ser de tal forma significativos que permitiriam abater uma parcela importante do investimento feito pela CMB, libertando recursos para outras áreas porventura de intervenção mais premente (acção social, apoio ao tecido produtivo do município, urbanismo mais “amigo” do cidadão). Ao clube caber-lhe-ia uma fatia dos proveitos desse negocio (do meu ponto de vista, necessariamente minoritária) na medida em que lhe caberia a si a “procura” de investidores que revelassem interesse no negocio e bem assim pelo facto de, na realidade, lhe caber a si a promoção comercial do espaço, através da sua utilização nas provas desportivas nacionais e internacionais em que está envolvido.
A meu ver, a opção de ceder os “naming rights” do estádio teria potencial para ser um negocio milionário porque o EMB, goste-se ou não dele, tem uma dimensão que ultrapassa o âmbito da cidade e do próprio clube – é quase um ícone da arquitectura moderna portuguesa, com visibilidade internacional e portanto, tem associado um activo imaterial valiosíssimo.
O que realmente aconteceu?
O clube cedeu por três anos os “naming rights” a uma grande seguradora mundial (AXA), arrecadando (ao que se diz) cerca de 4 milhões de euros – valor que contudo inclui também o patrocínio da equipa de futebol nos equipamentos entre outros aspectos. A Câmara terá dado o seu assentimento.
Ora, do meu ponto de vista, parece-me um grande negocio... para a AXA! Esta associa o seu nome a um recinto cujo prestígio ultrapassa a dimensão local e regional associada ao município e ao clube. Paga por isso cerca de 1 milhão de euros anuais (se considerarmos como plausível que 1 milhão da verba entregue será imputável ao patrocínio nas camisolas durante três épocas) – uma ridicularia para uma empresa que é porventura a maior seguradora europeia.
A Câmara Municipal abdica da possibilidade de, a meu ver real, de estabelecer um negocio de longa duração e de valores mais significativos que lhe permitissem mostrar que se calhar no final das contas o custo do Estádio poder-se-ia situar em valores razoáveis libertando significativas verbas do erário municipal. Ao excluir-se do negocio, voluntariamente ou por omissão, objectivamente apoia o clube mais representativo da cidade.
O clube (através da SAD) faz um negócio que pode ser avaliado diferentemente sob dois pontos de vista diversos:
1. Do ponto de vista estritamente económico-financeiro, a curto/médio prazo, é indiscutivelmente uma opção de gestão merecedora de elogios. Já algumas vezes aqui manifestara aqui a minha preocupação em relação ao facto de a SAD continuar a deixar agravar os seus resultados correntes, a despeito da boa gestão que tem sido conduzida no que diz respeito às transferências e à rentabilização dos passes dos atletas. Ao acréscimo nos custos correntes não vinha correspondendo um acréscimo concomitante dos proveitos da actividade corrente – pelo menos até 2005/06, esta “fraqueza” é patente, com os resultados correntes a apresentarem um saldo negativo de cerca de 3 milhões de euros!!! Ora, este negocio, consegue indubitavelmente inverter um pouco isto, garantindo para os próximas três temporadas um acréscimo de entre 1 a 1,5 milhões de euros no que respeita a receitas correntes anuais. Torna a SAD indiscutivelmente menos dependente do que consiga fazer no mercado com a compra e venda de passes de atletas.
2. Do ponto de vista institucional e mesmo numa vertente económica se considerarmos um horizonte temporal suficientemente alargado, não é uma boa decisão. Em primeiro lugar, porque sedimenta nas pessoas de Braga (e naquelas que com elas se relacionam) a ideia “velha” de um clube dependente das “ajudas” da Câmara Municipal que, para apoiar o clube, abdica de pensar em problemas prementes dos munícipes. Ora, quanto a mim, isto é um dos factores que afasta muitas pessoas do clube, fundamentalmente aqueles que até não ligam muito ao futebol precisamente porque não lhes agrada tudo aquilo que de negativo envolve a sua imagem: falta de transparência, tráfico de influências, culto de ódios descabidos, etc.... É que, como já várias vezes referi e ao contrario do que há uns tempos pensava, estou hoje convencido que a maioria das pessoas “de Braga” que estão afastadas do clube não tem uma preferência clubística definida. É preciso reforçar a relação do clube com a cidade e promover o desporto como uma festa. Só assim o clube crescerá. Este negocio quanto a mim promove uma imagem que afasta as pessoas do clube – damos uma imagem de um chico-espertismo de que as pessoas estão fartas.
Não seria um meio poderosíssimo de promoção se o clube apresentasse publicamente uma proposta de negócio que favorecesse o município ainda que numa perspectiva financeira de curto prazo tal não lhe fosse tão favorável?
Notas:
• A meu ver, não faz sentido ceder os “naming rights” do EMB por apenas três anos a favor da AXA. Estamos a reduzir o valor do activo, a banalizá-lo. O que acontece daqui a três anos? Fica sem nome comercial? Muda para estádio Vodafone? Penso que para as marcas se torna complicado entrarem num tal negocio quando há um “lastro” de três anos em que o EMB viu a sua imagem associada a uma outra empresa.
• Curiosamente, tenho lido muitas criticas a aspectos que para mim são menores no negocio. Não vejo problema em que o nome do EMB esteja associado a uma empresa (desde que idónea) se a propriedade do Estádio não deixa de ser da Câmara Municipal. Como eu gostaria de ceder os “naming rights” da pedreira à AXA (ou a outra empresa qualquer) com esta a suportar a totalidade (ou boa parte) dos encargos financeiros do investimento no estádio! Teríamos todos uma infra-estrutura que quanto mais não seja, para além de servir o clube mais representativo do município, projecta a imagem da cidade nacional e internacionalmente, sem que no fim das contas tivéssemos pago um tostão. E libertaríamos recursos da Câmara Municipal para áreas mais prementes da vida dos cidadãos...