Já muito foi dito quanto à envolvência do jogo, não vou acrescentar nada, a não ser dizer que assim, mesmo quando o futebol nas quatro linhas não é grande coisa, vale a pena ir aos estádios...
Quanto à partida, não foi de grande nível. Mostrámos o que já mostráramos no jogo da meia-final da Taça em Belém, durante os 90 minutos: que somos (bem) melhor equipa que este Belenenses. E desta feita nem estivemos tão bem quanto em Belém...
Agora que a época está a dar as últimas, parece que já há um modelo de jogo e um esquema-tipo que se vão repetindo jogo após jogo: 4-2-3-1, com um estilo de jogo menos apoiado, mais objectivo e vertical. Contudo, nesta partida, a malta da frente não esteve muito inspirada e não foi capaz de aproveitar melhor o bom trabalho do nosso meio-campo, particularmente de Madrid e Vandinho (para mim, o melhor em campo). De modo que, após uma melhor entrada em jogo do Belenenses, o jogo pautou-se por um domínio territorial da nossa equipa que conteve facilmente o Belenenses e, sem forçar muito o ritmo, se foi acercando da baliza do Belenenses embora quase sempre sem verdadeiro perigo. Verdade seja dita, o golo surge na segundo lance de verdadeiro perigo junto da baliza lisboeta, após um trabalho fabuloso de Zé Carlos, embora com alguma conivência dos defensores belenenses. Diga-se aliás que esta partida mostrou também que a ideia de que o Belenenses dispõe de uma defesa de betão não passa de um mito, tantas vezes andou para ali aos papéis.
Do primeiro golo até final da primeira parte, o nosso domínio territorial intensificou-se sem que o Belenenses reagisse. O intervalo chegou e parecia perfeitamente ao nosso alcance um resultado por três golos que permitisse a ultrapassagem do Belenenses na tabela. Assim mostrássemos ambição e forçássemos o ritmo.
Não foi isso que aconteceu. O início da segunda parte mostrou com clareza que "apenas" queríamos a vitória, apesar de alguns raides de Maciel poderem ter alargado a vantagem. Foi pena porque tínhamos o adversário completamente à nossa mercê. Optámos por não forçar o ataque, jogar pelo seguro e com isso demos oportunidade a que o adversário pensasse que era possível pelo menos empatar - com apenas um golo de desvantagem no marcador qualquer adversário pode de um momento para o outro ameaçar o resultado. Jesus esteve bem lançando Garcês para a linha da frente (em detrimento da nulidade Roma) e obrigando a nossa linha defensiva a adaptar-se a uma dupla de pontas-de-lança altos e corpulentos. O nosso meio-campo tornou-se menos eficaz por duas razões: por um lado porque, como é hábito, muitos jogadores não duram mais que uma hora ao seu melhor nível; por outro lado, o Belenenses, com dois pontas-de-lança, conseguiu estender-se mais no campo, obrigando a que o nosso meio-campo fosse forçado a recuar mais que o normal em situações defensivas. Após uma primeira ameaça, o Belenenses acabou por marcar, já a poucos minutos do final, num lance de descoordenação da nossa defensiva: Frechaut não lê bem o lance e acompanha o movimento de Fernando(?) para o centro quando deveria ter feito a troca posicional com os seus colegas do eixo da defesa, ficando com Dady que fazia o movimento contrário. De qualquer modo, mérito a quem o tem, era um lance de leitura difícil porque muito rápido e sempre ao primeiro toque.
Parecia impossível que um jogo tão "fácil" pudesse acabar desta forma. A mesma falta de ambição, a mesma atitude acomodada que se vira nos últimos 20 minutos de Coimbra parecia desta vez ir passar factura. Não aconteceu porque a equipa fez o que lhe competia, foi para a frente e tentou tudo até ao fim. Com alguma dose de sorte lá surgiu o golo da vitória pelo muitas vezes (injustamente) mal-amado Carlos Fernandes e de pé direito. Foi um final em apoteose para uma plateia que merecia o prémio da vitória.
A vitória tem contudo, pelo menos para mim, um travo amargo: o de, mais uma vez, por falta de ambição (e depois também por falta de frescura física), termos colocado em risco um resultado que do meu ponto de vista, poderia ter sido bem mais cómodo, face à forma como a partida decorreu. Estou convencido que estaríamos aqui a discutir o jogo, já sentados no quarto lugar...
Notas:
- Boa arbitragem de Lucílio Baptista!!! É dos árbitros de que menos gosto porque tem o condão de estragar as partidas com autênticos concertos de apito, não falando da habilidade com que "controla" os jogos. Desta vez, apitou pouco, quase não se deu por ele. Muito bem!
- Mais uma vez, pareceu-me que Jorge Costa não esteve bem no banco. Tenho que admitir que a atitude menos activa da equipa após o intervalo tenha partido do banco. Pode não ter sido, mas se os jogadores regressam do intervalo e não são capazes de cumprir com a estratégia que o técnico define... Por outro lado, Jorge Jesus esteve melhor nas alterações tácticas. Penso que Castanheira poderia e deveria ter entrado mais cedo, reagindo à entrada de Garcês com um maior controlo do meio-campo. De todo o modo, em abono do técnico, surge evidentemente a melhoria do jogo colectivo, a maior coesão da equipa (é só consultar o número de golos sofridos nas últimas partidas) e finalmente o facto de termos um modelo e um esquema de jogo. Já é possível à maioria dos adeptos acertarem no onze inicial!!!
- Boas exibições de Madrid, secando Silas por completo e de Vandinho, muito activo e desta vez mais esclarecido que o habitual!
- Jogo completamente desinspirado e sem alma de Wender; Maciel também não esteve particularmente inspirado, mas esteve bem mais activo, procurou a bola e tentou sempre as desmarcações nas costas da defesa...
- Carlos Fernandes confirmou o excelente fim de época que vem fazendo. Já o tinha mostrado em Coimbra. Em minha opinião, o seu bom momento também se explica pelo facto de Frechaut ter sido nos últimos jogos o lateral direito. Com Luís Filipe, Fernandes estará mais tolhido nos seus movimentos ofensivos, cabendo-lhe a si preferencialmente encostar aos centrais em caso de necessidade. Com Frechaut, a sua liberdade é claramente maior.
Vamos ainda com esperança ao Bessa. Precisámos de pelo menos um empate para chegar ao quarto lugar.Contudo, uma vitória deixar-nos-ia com bem maiores possibilidades...