TRIBUNA EXPRESSO - LÍDIA PARALTA GOMES - 26 DEZEMBRO 2022
A I Liga está de regresso. Espero que aguente acordado
Uma Liga em que se continua a tentar tudo por tudo para ter bancadas vazias
Escrevi-o mais ou menos aqui e mesmo depois de duas (ou dezassete) rabanadas ainda não consegui atinar: após um mês de Mundial e daquela final de há uma semana, ainda não estou totalmente preparada e de coração aberto para o regresso do futebol de clubes.
Falta-me um período de luto, a inclemente passagem do tempo que traz a saudade. Mas como nada disso nos será dado neste ano de Mundial no inverno, mais vale assumir a dura realidade: os campeonatos estão de volta e quarta-feira recomeça verdadeiramente a I Liga após quase sete semanas de paragem. E, por aqui, o que esperamos é que o digníssimo leitor tenha o sono em dia. Se for adepto de um dos três grandes vai precisar, na medida em que FC Porto, Sporting e Benfica, que jogam quarta, quinta e sexta-feira, respetivamente, vão entrar em campo às 21h15, pelo que não pense desligar a TV antes das 23h30.
O “desligar a TV” não é inocente, porque imagino que tais horários façam os adeptos pensarem duas vezes antes de enfrentarem o mau tempo a estas indecorosas horas da noite, mais ainda a meio da semana e com necessidade de agarrar o labor pelos colarinhos logo pela fresquinha no dia seguinte. A cadeira do estádio, onde as emoções se aceleram, onde as cores são mais vivas e os sons no mais puríssimo stereo, podem perder esta batalha até porque os números dizem-nos que é isso mesmo que acontece quando a noite já vai alta.
O Anuário do Futebol Profissional Português, que está aí fresquinho que nem pãezinhos quentes, garante-nos que, apesar de mais de 40% dos jogos da I Liga serem marcados para os slots noturnos, aqueles que têm uma mais simpática assistência média no estádio aconteceram entre as 17 e as 19 horas, um horário que permite a um humilde cidadão levar os filhos ao estádio e, quem sabe, conviver antes e depois da partida. E não é isso que todos queremos levar desta vida?
As marcações dos jogos obedecem à Liga, aos slots horários das TVs e aos clubes (Rúben Amorim admite, por exemplo, que prefere jogar à noite) e por isso não há só um culpado. Mas, provavelmente, apenas um prejudicado: o adepto. O regresso do futebol, infelizmente, não traz nada de novo e esta semana, principalmente para os corajosos que ainda assim se vão aventurar numa ida ao estádio, será mais uma de poucas horas de sono, pouco convívio, zero espírito. Em outras latitudes há tradição, há Boxing Day, há futebol para todos. Por aqui, só mesmo para os bravos.