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Francisco Trincão, o canhoto que encantou o Minho Mário Rui Mateus
Viana do Castelo, terra da Senhora da Agonia, do rio Lima e de um dos pés esquerdos mais promissores do futebol português. Francisco Trincão nasceu apaixonado pelo desporto rei, destacou-se desde muito cedo, mas teve de mostrar muita resiliência no seu trajeto.
Agora, o antigo campeão europeu de Sub-19 vai regressar ao seu país para continuar a ser lapidado. Rúben Amorim vai assumir as rédeas dessa tarefa, que executou na cidade dos arcebispos e à qual vai dar continuidade em Alvalade.
Talento vianense, que se acanhou no Olival
Ao contrário de outros craques, Francisco Trincão não teve referências futebolísticas no seu seio familiar. Em compensação, o jogador natural de Viana do Castelo apaixonou-se pelo futebol ainda muito novo. Um 'bichinho' que lhe foi incutido pelo pai, com quem jogava futebol no hall de entrada da antiga casa, utilizando a porta da rua e a porta da sala como balizas.
Francisco Trincão na formação do Vianense
João Branco
Não demorou muito até que esse talento passasse do hall de entrada para o campo do Vianense, onde foi treinar com apenas quatro anos. O jeito para a bola impressionou os responsáveis do clube, só que as regras obrigaram a um compasso de espera de um ano até ser inscrito. Ultrapassada a burocracia, o extremo pôde finalmente exibir toda a sua qualidade, na companhia dos conterrâneos Pedro Neto e Tomás Silva.
Alegre, franzino e dono de um pé esquerdo que, ora servia para fazer ‘cuecas’ ao treinador, ora servia para driblar e marcar golos. Assim se apresentava Trincão, um talento que o FC Porto caçou. No entanto, a experiência nos dragões durou apenas meia época. O avançado não conseguiu destacar-se da concorrência e, a pedido de Gonçalo Trincão (seu pai), que viajou para o Olival várias vezes por semana, acabou por regressar ao clube que o viu nascer.
Conforto na cidade dos arcebispos
Pouco depois desta experiência, Francisco Trincão voltou a aventurar-se fora de Viana do Castelo, mas desta vez com sucesso. A transferência para o SC Braga foi acordada entre Gonçalo Trincão e Pedro Pires, treinador das camadas jovens dos minhotos, num torneio internacional em Ponte de Lima, em que Trincão representou a seleção da AF Viana do Castelo.
Apesar do talento, o trajeto do jovem vianense não foi fácil. Nem sempre jogou, nem sempre foi titular, contudo isso não o abalou. O canhoto mostrou muita resiliência e foco, caraterísticas com as quais contagiava os companheiros. Mas, de onde vem esta mentalidade tão madura? Segundo consta, a família está na base de tudo, principalmente, o pai, que contou uma história curiosa, em entrevista ao canal Next.
«Quando ele tinha dois ou três anos, íamos jogar futebol para o hall da nossa antiga casa. Para o preparar mentalmente, dizia ‘vamos jogar até aos 10, Francisco’. Marcava até aos 9 e depois, para ele não desanimar dizia ‘o jogo ainda não acabou Francisco, ainda podes ganhar, só acaba aos 10’. A seguir ia deixava-o marcar e dizia ‘estás a ver? É sempre possível, nunca podes desistir, tens de trabalhar sempre’. Deixava-o chegar aos 9-9 e começava a pôr-lhe pressão ‘está o estádio cheio, tudo a olhar’. Fazia essas brincadeiras para ele nunca desistir, para saber que se trabalhar e se esforçar vai conseguir chegar aos objetivos», contou.
De Braga para as bocas do mundo
qDeixava-o chegar aos 9-9 e começava a pôr-lhe pressão ‘está o estádio cheio, tudo a olhar’. Fazia essas brincadeiras para ele nunca desistir, para saber que se trabalhar e se esforçar vai conseguir chegar aos objetivos, contou.
Francisco Trincão seguiu o seu trajeto na formação bracarense e, no seu primeiro ano de juvenil, foi chamado à seleção de Sub-17. Ainda na época 2015/16, chegou a estreia a nível sénior, pela mão de Abel Ferreira, na visita dos bês a Freamunde. Por fim, numa temporada memorável, tornou-se no jogador mais novo de sempre da história do SC Braga a receber um contrato profissional e no jogador com a maior cláusula de rescisão: 30 milhões de euros.
A ascensão do extremo não parou. Passou a integrar os trabalhos da equipa principal, com a qual chegou a viajar diversas vezes (precisou da autorização dos pais para ir à Turquia) e, no verão de 2018, fez parte de um momento histórico para o futebol português. Juntamente com os companheiros David Carmo e Francisco Moura, ajudou a seleção das Quinas a sagrar-se campeã europeia de Sub-19, tendo sido o melhor assistente e marcador, a par de Jota.
O desempenho do jovem vianense na Finlândia não deixou os colossos europeus indiferentes. Nesse mesmo verão, o FC Barcelona ofereceu cinco milhões de euros por Trincão, que iria integrar a equipa B numa fase inicial, tendo em vista a equipa principal. Noutra fase, Juventus, Atalanta, Nápoles e Benfica também mostraram interesse. Contudo, todas as ofertas foram declinadas.
Maturação com Amorim e o salto natural
Os blaugrana não desistiram da promessa lusa e voltaram à carga um ano volvido, com Éric Abidal e Ramón Planes a trazerem uma oferta de 15 milhões de euros. A resposta foi novamente negativa, mas estas negociações lançaram as bases para uma boa relação entre minhotos e catalães.
Por esta altura, Francisco Trincão já estava na equipa principal, promovido por Abel Ferreira. Ricardo Sá Pinto manteve a aposta no internacional jovem luso e Rúben Amorim potenciou o seu talento, que culminou com a conquista da Taça da Liga. Por esta altura, tornou-se muito difícil segurar o extremo em Braga e o Barça, desta vez, surgiu em força.
A 31 de janeiro de 2020, os blaugrana fecharam um negócio histórico: 31 milhões de euros, contrato até 2025 e cláusula de rescisão de 500 milhões de euros, números que significaram um encaixe recorde para os bracarenses. No final da temporada, consumou-se a sua mudança para a cidade Condal e novo feito: estreia pela Seleção A.
No início de setembro, o novo reforço dos catalães foi chamado por Fernando Santos para os compromissos da Liga das Nações, aperitivo para a época de estreia ao serviço do gigante espanhol, por quem ganhou uma Taça do Rei e realizou 42 jogos.
Reencontro com Amorim
Com o intuito de ter mais minutos, o jogador de 22 anos seguiu para Inglaterra, cedido ao Wolverhampton. Apesar de ter sido comandado por Bruno Lage e de ter contracenado com vários compatriotas, a época não correu de feição a Francisco Trincão, que não foi capaz de mostrar a sua qualidade.
Ruma agora a Portugal, para jogar num clube e sob a batuta de um treinador que têm conseguido extrair o melhor de jovens jogadores. Veremos se Trincão voltará a ser feliz com Amorim, mas agora num Sporting diferente.
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