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HISTÓRIA
Midtjylland Texto por Ricardo Miguel Gonçalves
É, por vezes, descartado como um daqueles «nomes estranhos» e impronunciáveis que surgem ocasionalmente nos sorteios da UEFA, mas o Football Club Midtjylland é muito mais do que isso.
Trata-se de uma história que não é propriamente longa, uma vez que o clube foi fundado em 1999, mas é rica à sua maneira, pois trata-se de um clube que funciona muito pelas suas regras e que por esse motivo tem vindo a atrair interesse da Europa e do Mundo.
O (re)nascer dos lobos e o sucesso imediatoÉ na Jutlândia, especificamente no seu centro - não fosse isso o que o nome do clube significa -, que se encontra o condado de Ringkobing e, por fim, a pequena cidade de Herning. Neste município de menos de 60 mil habitantes nasceu o FC Midtjylland, das calosas mãos do carpinteiro Johnny Rune, que se juntou a um revendedor de Mercedes (Steen Hessel) para fundar um clube de futebol, antes do virar do milénio.
Sob a premissa do reerguimento dos lobos - animal que aparece no emblema - nesta zona da Dinamarca, por terem ressurgido dois séculos depois de terem desaparecido, o clube acaba por nascer através da fusão de dois clubes locais: o Herning Fremad e o Ikast FS. Tratavam-se de dois emblemas rivais com várias décadas de existência, mas com pouca expressão a nível nacional.
Na primeira temporada oficial, o Midtjylland somou o máximo de pontos na história do segundo escalão para chegar à Superliga dinamarquesa em estilo, e desde aí nunca mais de lá saiu. A rapidez com que chegou ao máximo escalão foi tão impressionante como os resultados nessa prova, uma vez que em 2006/07 e 07/08 já terminou como vice-campeão, chegando pela primeira vez às competições europeias.
Em 2014/15, já sob a liderança do novo dono no clube, os lobos da Jutlândia sagraram-se pela primeira vez campeões da Superliga dinamarquesa, sucesso que precedeu uma boa prestação na fase de grupos da Liga Europa, onde só caíram na fase a eliminar, frente ao Manchester United, depois de uma histórica vitória por 2x1 em casa.
Desde aí, o Midtjylland fixou-se permanentemente como uma das maiores forças do futebol escandinavo, conquistando o título de campeão também em 2017/18 e 2019/20, pelo meio uma Taça da Dinamarca, mas ao mesmo tempo ganharam alguma proeminência por outros motivos, uma vez que são, neste momento, uma das instituições mais inovadoras a nível do futebol mundial.
O moneyball à dinamarquesaUm filme de 2011 de Bennett Miller sobre uma equipa de basebol é, surpreendentemente, a história que mais se aproxima da deste pequeno clube dinamarquês, que se fez grande com a utilização inteligente de dados estatísticos e analítica.
Não houve Brad Pitt, mas sim Matthew Benham, um empresário que fez milhões com a sua empresa SmartOdds, que utilizava modelos matemáticos para prever resultados no futebol. Benham já tinha mostrado que o seu conhecimento era útil na hora da gestão de um clube, uma vez que, enquanto dono do Brentford, intrometeu-se nos lugares cimeiros do Championship e serviu a Premier League com vários jogadores, mesmo tendo um orçamento inferior a toda a concorrência.
Ora, se hoje em dia esse Brentford tem uma ligação próxima à Dinamarca e ao Midtjylland, é porque desde que Benham adquiriu o seu segundo clube, em 2014, teve igual ou maior sucesso. Foram apenas 6,2 milhões de euros investidos inicialmente. Parece pouco, mas foi suficiente para levar a equipa à conquista do campeonato pela primeira vez.
«O Matthew é o fator x. O dinheiro dele é extremamente importante, mas o uso de estatística e matemática é a coisa extra que nos dá vantagem. É como Moneyball», disse Erik Sviatchenko, defesa central formado no Midtjylland que chegou a capitão e internacional dinamarquês.
Esse primeiro título, conquistado com quatro pontos de vantagem sobre o favoritíssimo FC Kobenhavn, foi um hino à boa utilização dos modelos estatísticos de Benham e toda a sua estrutura. Destacavam-se as bolas paradas, que constituíam quase metade dos golos e tornavam a equipa na mais bem sucedida da Europa nestes parâmetros, a par do Atlético Madrid.
Não seria moneyball se o arsenal dos números não fosse também utilizado a nível do recrutamento: «Antes tínhamos um olheiro e ele passava metade do tempo a treinar a equipa, agora temos uma equipa em Londres a analisar os números e a sugerir alvos adequados. Deixámos de usar nosso coração para usar nosso cérebro», disse Claus Steinlein, que fez de tudo no clube desde treinador adjunto a presidente.
O futuro prometeCom um segundo título conquistado em estilo sobre o Brondby e depois ainda um terceiro no qual a equipa já treinada por Brian Priske foi dominante ao ponto de se sagrar simultaneamente melhor ataque e melhor defesa do país, chegando à fase de grupos da Liga dos Campeões, o Midtjylland alcançou o estatuto de equipa do momento na Escandinávia. Ainda assim, o futuro continuava a parecer tão mais brilhante do que o presente.
Esse futuro sempre fez parte da identidade do clube, desde a sua fundação em fevereiro de 1999. A formação de jogadores foi o principal objetivo do FCM Klubsamarbejdet, uma cooperação de clubes que começou no mesmo ano e que atualmente já conta com mais de 145 emblemas. Trata-se de uma comunidade que se foca no desenvolvimento de jogadores.
Foram também pioneiros na Dinamarca a nível da criação de uma Academia. Fizeram-no em 2004 e desde aí lançaram para o Mundo do futebol vários jogadores de renome. Simon Kjaer, Lossl, Sviatchenko e Winsto Reid foram os primeiros, num clube que mais tarde produziu nomes como Pione Sisto, Frank Onyeka, Fischer ou Paul Onuachu. Não foram formados, mas jogaram no clube nomes como Mohamed Zidan, Alexander Sorloth, Evander ou Anders Dreyer.
Um clube que olha para a frente e que por esse motivo tem sempre mais um projeto na manga. Vision 2025 é a lista dos atuais objetivos do clube, a concretizar até esse ano. O primeiro é chegar ao top-50 no ranking da UEFA (no momento em que este artigo é escrito, em setembro de 2021, ocupam o 103º lugar); o segundo objetivo é atingir uma média de 10 mil espetadores por jogo, numa cidade de poucos habitantes; o terceiro é atingir um volume de negócios de 100 milhões de coroas dinamarquesas (cerca de 13,5 milhões de euros) num só ano, de modo a poder reinvestir o dinheiro no clube.
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