Resolvi aguardar uns dias para fazer um balanço desta época. Esperava, com expectativa, o desfecho da novela Abel Ferreira e também as conclusões da reunião da Liga que estava prestes a realizar-se. Andava curioso para ver o papel do G-15. Existia ou estava moribundo? Respirava ou tinha sido sufocado pelo TRIO? Ainda bem que o fiz. Para além da notícia sobre a renovação da Keane e da Murnan, vi os dois casos serem “encerrados” da melhor forma.
Tenho lido as opiniões de vários foristas e congratulo-me por o debate estar a ser feito noutros tópicios com ideias interessantes e que “acrescentam” valor à reflexão.
Falarei apenas sobre o caso do Futebol, embora entenda que as outras modalidades mereceriam outro destaque nestas páginas.
Comecemos então:
1 – Projecto Desportivo: contrariamente ao que já vi expresso, penso que é claro, contrariamente ao que acontece noutros Clubes, que existe um Projecto Desportivo para o Futebol. Esse projecto passa, obviamente, pela Cidade Desportiva/Academia e não me parece correcto estar a negá-lo. Ressalvo, no entanto, que uma coisa é existir o projecto, outra, completamente diferente, é saber se está a ser implementado ou em que “medida” é que isso acontece.
A Academia foi criada há dois anos. Havendo já trabalho anterior nesta área, passámos a dispor de condições excelentes para desenvolver as capacidades de “Jovens Gverreiros” para que, no futuro, integrem a nossa equipa principal.
O caminho é árduo e muito difícil. A maioria dos empresários, já o sabemos, levam os melhores valores para Benfica, Porto e Sporting. Nem precisam de olheiros. Será com a excelência, e as condições, do nosso trabalho na Academia que poderemos ser alternativa para aqueles que estão a nascer para o futebol. O Seixal – há quanto tempo existe ? - só há muito pouco tempo é que está a retirar dividendos sérios do seu trabalho. Alcochete perdeu, ao que parece, o comboio e vai ter que recuperar o tempo perdido.
Ainda estamos a aprender. Nem sequer chegamos à velocidade de cruzeiro, mas todos referem que está a ser feito um trabalho de excelência. Mas temos de o fazer depressa para podermos competir com o apelo mais forte que clubes como o Benfica, o Porto e o Sporting têm sobre os miúdos. Ter na selecção Trincão, Moura e o nosso antigo jogador Pedro Neto, é um excelente sinal. Pena David Carmo estar de fora. Precisamos de trabalhar para que os nossos jovens possam crescer no Clube, percorram o caminho para a equipa principal e se valorizem no seu seio antes de serem vendidos os seus passes.. Estamos nas Fases Finais de dois dos Campeonatos mas devíamos estar nas três.
Há sinais muito positivos neste aspecto, mas esperam-se melhores resultados. É este o caminho e não tenho dúvidas de que vamos retirar bons dividendos desta aposta.
O Projecto Desportivo também passa pela forma como a Equipa B e a de Sub-23 são encaradas e formatadas. E aqui há muita coisa para mudar. Defensor que fui da coexistência das duas equipas, tenho agora dúvidas, que quero dissipar, quanto à sua continuação, e que resultam do modo como não têm sido montadas equipas sérias e competitivas nos BB, admitindo, no entanto, que a exigência dos dois campeonatos, sendo totalmente diferentes, possa justificar a aposta em ambas.
Mas, sendo assim, que sejam perceptíveis os critérios da escolha dos jogadores.
Desportivo das Aves e Rio Ave, sem equipas BB, deram cartas nos sub-23. Teria sido bonito poder competir pelos primeiros lugares nesta prova. Seria também um cartão de visita excelente para a Academia se tivéssemos vencido uma das duas provas disputadas pelos Sub-23.
Não parece existir, admito poder estar completamente enganado, muito critério para a formação da equipa B e a verdade é que temos dado um mau sinal daquilo que se pretende que seja este projecto. Não é a venda do passe do Loum que muda a minha opinião.
Foi péssima a descida de divisão da Equipa B, mas não transformemos isso numa tragédia. Diga-se, aliás, que nunca vejo nos jogos dessa equipa alguns dos que, agora, aparentam estar tão indignados. Aprendamos a lição e saibamos retirar as devidas ilações para darmos a volta ao texto e subirmos de divisão. Pena as lesões de Assis e de Trincão, assisti às duas, sendo que a de Assis comprometeu imenso a consistência do nosso jogo.
O Caminho do Gverreiro parece claro: Academia, Escalões Jovens, Sub-23, Equipa B, Equipa Principal. Quantos mais jogadores seguirem este percurso de êxito, mais o Projecto se consolidará. Sou também da opinião de que há jovens que devem passar por outras equipas do campeonato da I Liga para poderem crescer competitivamente.
Importa agora implementar o projecto em toda a sua “extensão”, coisa que, admito, não está a acontecer, faltando entendimentos quanto à circulação de jogadores entre as equipas, ainda que, valha a verdade, não esteja ainda a “sentir”, neste momento, jogadores dos BB preparados para jogar nos AA.
Não podia deixar de falar no Futebol Feminino. Não tenho qualquer dúvida de que estamos perante uma aposta a ser abraçada por todas as grandes equipas europeias.
Fomos Campeões Nacionais com todo o mérito. É um título conseguido percorrendo o caminho das pedras, depois de dois anos em que nos “fugiu dos pés” e pela via do apito dos árbitros. Quero acreditar que a participação no Grupo de Apuramento para a Liga dos Campeões poderá garantir a constituição reforçada da nossa equipa para a próxima época, capaz de fazer frente aos novos desafios.
Temos, neste momento, duas equipas ainda em competição e com todas as condições para chegar à final nas respectivas provas: SCB B e Sub-19. Muito Bom.
Foi lamentável, para que conste, o episódio da mudança do jogo da Equipa Feminina, futura Campeã Nacional, no jogo com o Estoril, para deixar jogar no 1º de Maio a Equipa B que desceu de divisão. Empatámos esse jogo. Valha a verdade que assim ainda soube melhor. Fomos Campeões no último jogo. E logo no 1º de Maio. Mas não era preciso sofrer tanto.
2 – O Provedor, os Adeptos, O Clube, o G15
Foi um ano repleto de acontecimentos que importa analisar com toda a frontalidade e sem medo de expressar a nossa opinião.
Assim:
. Começo pelo Provedor dos Sócios e dos Adeptos, cargo que foi lançado, e muito bem, por António Salvador. Representou, em minha opinião, uma pedrada no charco na ausência de espírito associativo no nosso Clube. Sem termos uma Sede, ou estando esta num bunker em que os órgãos directivos estão rodeados por um anel de protecção intransponível, o Provedor do Sócio acabou por assumir, embora para a maioria isso nem sequer tenha sido perceptível, sendo várias vezes até muito mal interpretado, um papel muito mais interventivo do que aquele que, em princípio, está adstrito a estas funções. Com um objectivo claro em vista: defender intransigentemente os adeptos. Encontrou um mundo de resistências constantes, perdendo-se a eficácia da sua acção pela falta de poder efectivo. As ideias estavam lá, várias delas até foram implementadas, a dinâmica pessoal existia, mas a estrutura não foi capaz de sair do seu imobilismo e de cooperar com lealdade. António Salvador não conseguiu, não soube ou não quis garantir as condições para que o cargo tivesse poder e capacidade de intervenção que lhe permitisse ser um factor de mudança. Poderá ter cometido erros, mas não tenho dúvidas de que, se ocorreram, foi sempre pela sua vontade de bem servir os Sócios e o Clube. Tendo pedido a sua substituição, aguardou meses, repito, meses, por uma resposta. Face a esta situação, formalizou-a por escrito e, até este momento, não foi encontrado o seu substituto. Palavras para quê? Que não se perca a bondade desta ideia no futuro. Obrigado Provedor, que foi o primeiro, pelo trabalho desenvolvido.
. Os Adeptos, o Clube, a Liga e o G15
Passámos um ano de tremendas emoções do qual temos de retirar as conclusões que melhor sirvam o Sporting Clube de Braga. Vivi-as com intensidade, também com “assuidade”, dentro e fora de portas. Fomos massacrados com horários que não lembram ao diabo e, mesmo assim, conseguimos fazer grandes deslocações, fruto também da política de preços baixos praticada nas viagens. Guimarães foi o expoente máximo do desrespeito pelos adeptos. Grande invasão.
Encetaram os nossos adeptos uma luta justa contra a Liga e os horários indecentes, que foi seguida pelos adeptos de outros Clubes, numa demonstração rara de oposição aos poderes da LIGA/SPORTV. Apoiei obviamente este combate e o meu grupo até teve oportunidade de participar com uma tarja alusiva no jogo de Portimão. Não estive de acordo, afirmei-o, e reafirmo-o, com a entrada tarde no jogo.
Os nossos adeptos têm demonstrado uma dedicação e imaginação incríveis, de que é um expoente máximo o painel do jogo contra o Benfica, sendo que este foi, sem dúvida, do mais espectacular que tenho visto nos estádios. Mas a luta dos adeptos, quando joga a nossa Equipa, tem que acontecer sempre dentro do Estádio, a não ser num caso de verdadeira excepção e se houver um trabalho de “conquista” dos outros adeptos para essa forma de expressão do descontentamento.
E se sou o primeiro a apoiar aqueles que tornam os jogos numa festa de paixão pelo Sporting Clube de Braga, sou também o primeiro a condenar os insultos injustos aos jogadores num jogo em que aqueles tudo fizeram pela vitória, conseguindo-a, ou naquela manifestação de falta de respeito, até pelos outros adeptos, no jogo de Setúbal.
Há muito para fazer no apoio que é dado à nossa equipa, sobretudo no nosso estádio, já que fora conseguimos ser dos melhores entre os melhores. Escolham, definitivamente, cânticos ou incitamentos que os outros adeptos conheçam, que sejam de fácil apreensão e em que todos sejam capazes de participar. Podemos ser muito melhores. Se estivermos juntos.
Estiveram muito bem, em primeiro lugar, os adeptos que saíram vencedores, ao que tudo indica, nesta luta titânica contra os poderes estabelecidos. Podem estar orgulhosos deste combate.
Mas se os adeptos estão de parabéns, é justo salientar também o trabalho desenvolvido pelo Clube que soube gerir a situação nos bastidores. E não se está a dar o verdadeiro valor ao que foi alcançado.
Fez comunicados, é certo, e foi muito atacado por só fazer “comunicados” mas, constatámos agora, o trabalho estava a ser feito no G-15. Pelo nosso Clube e pelos que estão connosco. E até foi mais longe, isto é:
. Manteve-se, contra as expectativas de muitos, o regime de empréstimos que tinha sido aprovado, apenas com uma alteração sem significado e que me parece justa.
Considero esta conquista irreversível e se acontecesse um retrocesso, por pressão de FCP/SCP/SLB, seria, para mim, uma derrota impensável;
. Reforçou-se a posição dos Clubes aquando das viagens organizadas de adeptos fora de portas, garantindo-se agora a sua participação nas reuniões de preparação das deslocações, conforme o SCB, pelos vistos com razão, transmitiu em comunicado na altura das desastrosas viagens à Luz e a Guimarães, estive em ambas, e, já agora, ao Porto (onde também entrei 17 ou 18 minutos depois de o jogo ter começado);
. Deu-se corpo, esperemos agora que isso seja espelhado na próxima época, à luta dos adeptos por horários decentes dos jogos, acabando os jogos à segunda-feira, excepto se isso for do interesse dos Clubes que estarão nas Competições Europeias.
Afinal o G-15 pode ter muitos defeitos, tem muitos detractores, pode ser acusado de ter muita basófia, mas mostrou serviço e é justo salientar estas conquistas. E não fez espectáculo do seu trabalho. Como deve ser. Não ouvi dar qualquer relevo na CS a esta reunião da Liga. Nem a própria Liga.
Saibam, pelo menos, os adeptos reconhecer que o trabalho foi bem feito.
3 – A época da Equipa principal
Para aqueles que tiveram a paciência de me ler, peço desculpa por não falar de futebol no campo. Outros já o fizeram noutros tópicos.
Considerei sempre que, no ano passado, atingimos um patamar de resultados e de exibições, sobretudo no último terço do Campeonato, que seria praticamente impossível igualar, muito menos de ultrapassar, após a saída de André Horta/Danilo/Vukcevic. Não vale tentar tapar o Sol com a peneira.
Espero que a equipa seja reforçada por jogadores de qualidade e que Abel aposte também na fantasia, promovendo uma rotação competitiva e saudável.
Adequem-se os nossos objectivos à qualidade da equipa que formos capazes de construir. Não deixemos de ser ambiciosos. E falemos, de uma vez por todas, a uma só voz.
Há assuntos importantes que se abrem para o Clube nos próximos tempos e não os vou abordar aqui e agora. Faltam ainda muitos elementos. Aguardemos.
Entretanto, faço votos para que entremos unidos no apoio à nossa equipa nesta época que vai principiar. Vamos fazer uma grande época.