António Salvador: 'Temos o objectivo claro de voltar à final do Jamor'
O SC Braga apresenta razões de sobra para assinalar, em ambiente festivo, os 95 anos do clube, fruto da campanha desenvolvida pela equipa de futebol profissional… e não só. A efeméride é celebrada numa altura em que a equipa principal está envolvida em quatro frentes desportivas, disputando os lugares europeus no campeonato, a segunda fase da Taça da Liga, os dezasseis avos-de-final da Liga Europa e ainda a meia-final da Taça de Portugal. António Salvador revela-se nesta entrevista exclusiva ao 'Correio do Minho', apontando o feito inédito do clube.
A par do FC Porto, o SC Braga é o único clube em Portugal que ainda está em discussão em todas as frentes desportivas e alimenta o desejo especial de repetir a presença no Jamor. No ano em que se assinalam 50 anos depois da última conquista da Taça de Portugal (1966) para o SC Braga, está vivo o sonho de repetir essa proeza.
P - O SC Braga festeja os 95 anos com a equipa em quatro frentes desportivas (Campeonato, Taça da Liga, Taça de Portugal e Liga Europa), só por isso já é motivo de festejos?
R - Em primeiro lugar importa assinalar os 95 anos de vida, com grande sucesso no passado, servindo de alavanca para o futuro. O momento actual é importante, uma vez que o SC Braga é a única equipa em Portugal — a par do FC Porto — que se encontra a disputar quatro competições, sendo um marco muito importante.
P - Qual o balanço que faz da actual campanha?
R - Estamos dentro daquilo que é o normal e projectámos no início de época. Houve uma mudança no clube, revolucionámos o plantel com muitas saídas de jogadores, inclusive sete a oito jogadores que eram titulares. O plantel foi planeado para os próximos anos, em concordância com o treinador. Temos um grupo renovado mas está dentro daquilo que nos propusemos e a prova disso é que estamos em quatro competições. Conseguimos algo inédito na Liga Europa ao passar em primeiro lugar na fase de grupos, com adversários muito difíceis. Estamos na meia-final da Taça de Portugal e ainda na Taça da Liga, com tudo em aberto.
P - Destas quatro frentes desportivas, alguma que define como prioridade?
R - Os nossos objectivos foram muito claros no início da época: ficar entre os quatro primeiros na Liga e, obviamente, voltar a chegar à final do Jamor pela responsabilidade que tivemos no ano passado. Estamos nas meias-finais, temos um adversário muito difícil e é importante concentrar-nos nessa meia-final, frente a um adversário que nos merece muito respeito pela qualidade que tem. Depois de passar este adversário, podemos voltar ao Jamor.
P - No arranque deste mandato assumiu alguns projectos como prioridade, desde logo o projecto da televisão do clube e também a construção da academia desportiva. Em que ponto estão estes projectos?
R - A Academia é uma infra-estrutura pela qual muito temos lutado e vai ser um marco importante na vida do clube. As condições que dispomos de trabalho são muito precárias, são insuficientes para o estatuto e a grandeza que este clube detém. É público que a doação de terrenos para a construção da academia já foi consumada, estamos numa fase final com os projectos quase prontos e as obras vão iniciar muito em breve. A Academia do SC Braga será uma realidade ainda dentro deste mandato, conforme o compromisso assumido por esta direcção.
P - Houve intervenção das forças políticas locais neste processo, ficou satisfeito pela forma como decorreram essas intervenções?
R - Sempre disse que um projecto desta dimensão só resultaria com o envolvimento de todos, inclusive do poder local. O clube é o maior embaixador da cidade de Braga e região do Minho e só com o apoio de toda a gente foi possível ultrapassar esta situação e finalmente estamos em condições de dar o primeiro passo para a construção da academia.
P - Quanto ao projecto da televisão?
R - É outro projecto que está em curso, devidamente elaborado e será uma realidade dentro de pouco tempo, conforme prometemos aos associados.
P - Na vertente desportiva, face a alguma instabilidade nos três clubes grandes, considera que este ano o SC Braga pode voltar a intrometer-se na luta pelo pódio?
R - Temos de ter a noção da realidade: o SC Braga é o clube que mais se destaca a seguir aos três grandes, por muito que alguém não queira aceitar a verdade é que o SC Braga é o quarto grande do futebol português, pela sua história recente, e vai continuar a ser no futuro. E é o quarto grande não só pelas estruturas que está a criar, os resultados que apresenta, mas também pela sua massa associativa que demonstra cada vez mais um envolvimento muito próximo do clube. Mas, por outro lado, temos de reconhecer que nem sempre é possível ficar à frente dos três grandes. Aquilo que podemos garantir é que a ambição, em campo, vai estar sempre presente. A ambição é grande, mas o orçamento entre os clubes é muito diferente e não podemos fugir dessa realidade.
P - Os orçamentos entre os grandes e os restantes clubes, incluindo o SC Braga, parecem cada vez mais distantes. Concorda?
R - É claro que o valor dos orçamentos dos três grandes é impossível de ser comparado aos restantes clubes. Mas também sabemos que o SC Braga já está num nível a cima de outros clubes, como o Vitória de Guimarães ou Marítimo…
P - Esta é uma data especial no aniversário do clube, daí há algumas novidades no programa de comemorações?
R - Há pouco tempo fizemos alterações nos estatutos, com o objectivo de estarmos ainda mais próximos dos nossos associados e isso já se vai reflectir neste aniversário. No dia 19 de Janeiro celebramos o aniversário do clube, com as cerimónias habituais, teremos ainda a entrega dos emblemas de ouro e prata. Além disso, está instituída a Gala Legião de Ouro, que este ano de realiza no dia 15 de Fevereiro, no Theatro Circo. Nessa gala, iremos homenagear todos aqueles que durante o ano anterior se destacaram ao serviço do clube.
P - As apostas no futsal e futebol de praia estão a ter o sucesso esperado?
R - O SC Braga é um clube ecléctico e tem uma atenção especial para as modalidades desportivas. É importante realçar que o SC Braga movimenta cerca de dois mil atletas diariamente, entre o futebol de formação e modalidades. É bom que as pessoas percebam o papel que o clube desenvolve na comunidade e não vivemos somente de futebol. Há um envolvimento enorme na área das modalidades e, muitas vezes, até consegue-se ter uma intervenção importante na área social através destas modalidades e é importante ter esses jovens. Existe uma maior afirmação das modalidades desportivas no SC Braga, sendo um trabalho que terá continuidade em termos futuros.
P - A este nível ganha importância o apoio da academia, por forma a concentrar todas as modalidades?
R - Isso é óbvio. O projecto da academia, além do centro de estágio para o futebol de formação, engloba a cedência do espaço das piscinas olímpicas onde queremos criar um pavilhão multiusos a fim de garantir um espaço próprio para as nossas modalidades trabalharem. Aí iremos ainda criar uma área administrativa do clube assim como um museu digno da história do SC Braga, além dos espaços de lazer e residencial para os atletas que necessitam de estar cá de uma forma permanente.
P - A grande aposta será o regresso de uma equipa de futebol feminino?
R - É um ponto consumado que iremos apostar numa nova modalidade a partir da próxima época desportiva, que passa pela constituição de uma equipa de futebol feminino para competir no futebol nacional. E vamos fazer tudo para honrar a camisola do SC Braga nessa competição, a exemplo do que fizemos no futebol de praia onde somos tri-campeões nacionais e vamos reforçar essa aposta para chegar ao quarto título consecutivo e assim sermos a única equipa em Portugal a conseguir quatro títulos de campeão consecutivos na modalidade de futebol de praia.
P - Nas últimas eleições para a presidência do SC Braga, surgiram duas listas, com António Salvador a ver reforçada a confiança dos adeptos. No entanto, o clube ficou unido?
R - Acho que este clube está mais unido do que nunca, pois fazemos um trabalho que está voltado para a sua massa adepta e para os associados. O exemplo disso mesmo foi a aprovação da alteração dos estatutos, com um sinal de aproximação aos associados. Queremos que os sócios sintam que o clube é deles e que vibrem com o dia-a-dia do clube.
P - Em que moldes foi realizado o negócio com a operadora NOS, sobre os direitos televisivos?
R - Estamos perante um novo paradigma nos direitos televisivos, com mais que um 'player' a negociar com os clubes. Isso foi muito bom para o futebol, prova disso é aquilo que os clubes recebiam e aquilo que as operadoras estão dispostas a pagar. O SC Braga fechou o acordo com a operadora que apresentou a melhor proposta. Recebemos propostas das duas operadoras (NOS e MEO) e fechámos com aquela que apresentou as melhores condições. Ainda assim, há uma grande distância entre os clubes grandes e os restantes do futebol português…
P - Pode confirmar que o valor respeitante ao SC Braga ronda os 100 milhões de euros?
R - Não confirmo valores, até porque os contratos estabelecidos são de confidencialidade e naturalmente isso pode ser consultado nos relatórios de contas.
P - Qual a opinião que tem sobre esta recente intervenção das operadoras de televisão no futebol nacional?
R - Estamos perante uma mudança de paradigma e só pelo facto de injectarem dinheiro no futebol português já é positivo, vai melhorar e garantir alguma estabilidade aos clubes. Se existiam défices nos orçamentos dos clubes grandes e pequenos isso será encurtado… ajudará os clubes a serem mais criteriosos, a terem melhores soluções nos seus plantéis e provavelmente a pagar mais. Mas o SC Braga não vai mudar a sua estratégia, pois não podemos fugir dos valores que já se investem no clube. Reparem que os orçamentos anteriores do SC Braga apresentavam défices entre o que é receita operacional e despesas operacionais, sendo forçado a vender todos os anos os seus activos. Sabemos que essa é a gestão que se faz numa SAD de futebol, mas no futuro isso pode não ser assim tão necessário em função dos novos contratos que os clubes realizaram.
P - Quer dizer que o encaixe destes valores não será para investir mais forte no futebol com o pensamento de chegar aos títulos?
R - Não estaria a ser correcto ou sério se dissesse que íamos pegar no dinheiro da televisão para lutar para o título de campeão. Iremos ter um clube mais estável e naturalmente em condições de estar mais próximo dos lugares de topo.
P - O negócio com a NOS cinge-se aos direitos televisivos?
R - Sim, negociámos os direitos televisivos e não a publicidade. Por isso, o SC Braga continua livre para negociar as camisolas, publicidade no estádio e o próprio naming, o que pode originar uma receita mais considerável em comparação com outros contratos.
P - Está em aberto a possibilidade de voltar a negociar o naming do Estádio?
R - Fizemos um contrato com a NOS para a cedência dos direitos televisivos, todos os restantes espaços ficaram livres para podermos negociar, ao contrário de outros clubes que incluíram tudo no pacote. Neste momento, posso adiantar que estamos a trabalhar para termos publicidade nas camisolas, o naming do estádio… com mais ou menos tempo, este estádio voltará a ter um naming e as camisolas a terem publicidade digna, pelos valores que o SC Braga merece.
P - Neste momento isso não existe, mas não é por falta de propostas?
R - Houve algumas propostas, mas não estão dentro daquilo que achamos o mais correcto. Entendemos que o patrocínio para a camisola do SC Braga tem um determinado valor, deve apresentar uma marca de prestígio e, no momento certo, vamos apostar na melhor situação para o clube.
P - Qual a avaliação que faz ao trabalho do treinador Paulo Fonseca?
R - É reconhecido por todos que SC Braga é o clube que melhor pratica futebol em Portugal na actualidade. Tendo em linha de conta que houve necessidade de construir uma equipa quase de novo, sendo considerada uma das equipas que melhor futebol pratica, é porque existe um grande trabalho do Paulo Fonseca. É um treinador que está a corresponder àquilo que projectámos, desde as conversas que tivemos antes de avançar para a sua contratação e estamos muito satisfeitos com o trabalho que está a desenvolver ao serviço do clube.
P - Para o António Salvador este é o ano em que o SC Braga está a praticar melhor futebol, em comparação com outras épocas?
R - Em futebol jogado este é dos anos em que o SC Braga está a praticar melhor futebol. Houve o ano do Peseiro em que perdemos o terceiro lugar — curiosamente para a equipa treinada pelo Paulo Fonseca — em que o SC Braga também praticou futebol de muita qualidade. Além disso, não podemos esquecer as épocas com o Domingos Paciência, onde conseguimos o segundo lugar e chegamos à final da Liga Europa, provavelmente não era um futebol muito vistoso, mas era muito eficaz e por isso ficou na história.
P - Nesta altura do mercado não se verificam grandes movimentações, tanto de entradas comi saídas, no SC Braga. Isso ainda vai acontecer?
R - É importante realçar que não estamos com grandes alterações porque esta época foi muito bem preparada. E não temos necessidade de vender em Janeiro, isso só acontecerá se surgir alguma proposta irrecusável por algum jogador. É certo que recebemos algumas propostas por alguns jogadores, mas foram recusadas porque não temos interesse em deixar sair jogadores a não ser que essas propostas sejam irrecusáveis.
P - É uma posição firme, só sai alguém se surgir proposta irrecusável?
R - Exactamente.
P - Quanto a entradas, é possível a chegada de mais algum reforço?
R - Tínhamos um lugar em aberto para a posição de lateral-esquerdo, entretanto já contratámos o Ringstad. Agora aguar-damos pelo fecho do mercado a ver se pode surgir mais alguma coisa. Garanto que se entrar algum jogador terá de garantir qualidade ao plantel e acrescentar algo mais, não queremos jogadores apenas para fazer número.
P - A nível internacional, o SC Braga continua a afirmar-se no futebol europeu. O que espera, agora, do jogo com o Sion?
R - O nosso objectivo era passar à fase seguinte da fase de grupos e isso foi conseguido. Agora, queremos passar a próxima eliminatória alimentando sempre a ambição, neste momento teremos de nos concentrar no jogo com o Sion e a seguir logo se verá o que vai acontecer. O adversário é de grande valor, mas o SC Braga tem aspirações em ultrapassar este adversário e chegar aos oitavos-de-final da Liga Europa.
P - Os adeptos têm estado, cada vez mais, ao lado da equipa. É um apoio determinante?
R - Sem dúvida. Os adeptos são os maiores impulsionadores da equipa e é importante destacar este apoio. Os adeptos bracarenses têm contribuído para o sucesso da equipa e do clube.
CORREIO DO MINHO
Ficamos a saber pelo CM que já assinamos um novo contrato televisivo, mas via oficial nem uma pequena nota a informar os socios, mesmo podendo omitir valores.Enfim.