Não gosto de falar do que sei muito pouco... mas, enfim, se fosse a levar esta máxima à letra e a contar com a informação de clube/SAD, de nada poderia falar porque os esclarecimentos prestados aos sócios são completamente omissos.
Neste caso do atletismo, não vou ser hipócrita e dizer que era um particular seguidor da modalidade. Creio que a maioria dos adeptos do Braga não vai sentir particular falta da modalidade (e o mesmo se poderia dizer de outras). O grosso dos nossos adeptos são adeptos de futebol e creio que esta é uma afirmação sem polémica.
Mas isto não significa que as modalidades ditas amadoras sejam pouco importantes para o clube. As modalidades, mais do que tudo o resto, são fonte de ligação do clube com os seus praticantes. Não sei se esta direcção o percebe. Admito que não. Não reconheço a esta direcção, em termos gerais, grande preocupação com o fomento do crescimento humano do clube. A sua estratégia, neste campo, limita-se a fazer crescer o futebol, confiando que com isso, os adeptos chegarão. E, enfim, não digo que a estratégia esteja completamente errada - mas tenho dúvidas de que os laços que se estabelecem desta forma com os adeptos sejam tão profundos e duradouros. E, sinceramente, penso que esta frente (da conquista de adeptos) deveria ser mesmo uma prioridade.
A prática de um desporto por um clube é, acredito eu, uma forma de fazer crescer a afeição por esse clube. Não serão assim tão poucos aqueles que praticam ou praticaram um desporto "amador" pelo nosso clube e, se quisermos, talvez possamos contar alguns dos amigos e familiares e, então, o número de pessoas que, desta forma, se afeiçoaram ao clube não é nada desprezável.
Nesse sentido, olho esta decisão de forma negativa, embora me pareça que o fundamental é garantir a prática da modalidade (e de todas as outras) aos mais jovens. Esta é verdadeiramente a função social do clube: proporcionar aos mais jovens a prática de modalidades a que, de outra forma, não têm acesso, pelo menos com um mínimo de condições. Temo contudo que esta propalada desistência da prática da modalidade entre os "seniores" acabe por descambar no abandono da modalidade à sua sorte, com degradação das condições proporcionadas para a prática da modalidade aos mais novos.
Julgo que faria falta uma justificação para esta decisão. Recordo que, ao contrário do que sucedia até há pouco, o clube deixou de dar prejuízo nos dois últimos exercícios. No entanto, à semelhança do que tem sucedido época após época, a SAD continua a financiar o clube (nas duas últimas épocas, sobretudo para abate do passivo bancário e dívidas antigas ao Estado, escalonadas ao abrigo do plano Mateus). Na época passada, a SAD financiou o clube em mais cerca de 600 mil euros, ascendendo a dívida do clube à SAD em 30 de Junho de 2011, a quase 5 milhões de euros. E é talvez por aqui que se explique esta decisão, atendendo às novas condições de financiamento que certamente hoje a SAD enfrenta.
Apesar de tudo, parece estranho que esta decisão surja numa altura em que o clube começava a equilibrar contas - ainda que, volto a repetir, a SAD e o clube não estejam isoladas dos problemas económicos do país e sobretudo do racionamento do financiamento bancário que é generalizado. É preciso sublinhar que 20% das receitas do clube (cerca de 440 mil euros) provêm de subsídio camarário para apoio às actividades amadoras e não sei se as coisas se manterão no futuro próximo. Mas, de qualquer forma, se estamos a cortar nas amadoras...
Para além disso - e esta é uma questão que creio que passou ao lado dos sócios - é ridículo o protocolo entre clube e SAD. A SAD pagou, na época passada, menos de 150 mil euros ao clube (cerca de 2% das receitas de bilheteira e lugares anuais) mas, como o clube entregou 20% das quotas à SAD, o saldo é aproximadamente zero. Como é evidente, isto significa que, desta forma, o crédito da SAD sobre o clube, mesmo que não aumente, será virtualmente incobrável. Mas o protocolo SAD-clube não tinha de ter estes contornos e poderia perfeitamente salvaguardar a posição do clube de outra forma...