3-0, fora de casa, frente ao actual Gil Vicente – vinha de três vitórias frente a Porto, Sporting e Académica e depois de ter dificultado muito a tarefa ao Benfica, na Luz – é um resultado excelente, sem dúvida. Merecido, sim, mercê sobretudo de uma excelente segunda parte mas durante muito tempo não pareceu ser fácil sair de Barcelos com os três pontos. A primeira parte foi algo táctica e divida em termos de oportunidades de golo. Quim e a nossa melhor eficácia fizeram a diferença, nessa fase e tornaram as coisas mais simples no segundo tempo.
Como Jardim disse no final do jogo, o Braga entrou com alguns cuidados em relação ao contra-ataque gilista, jogando com a sua linha defensiva um pouco mais recuada e procurando jogar com alguma segurança no passe. Isso tornou o nosso jogo menos acutilante, mesmo se o controlo das operações a meio-campo e a iniciativa de jogo eram predominantemente nossos – o que também estava de acordo com o guião trazido para o jogo pelos barcelenses. A verdade é que é o Gil Vicente que tem o primeiro lance de frisson numa das balizas, fruto de um lançamento nas costas da nossa defesa (e uma desatenção de Elderson que se “esqueceu” de subir no terreno, colocando Hugo Vieira em jogo). Quim foi brilhante e decisivo, saindo com decisão aos pés do gilista. Refeitos do susto, mantivemos a mesma toada e chegamos ao golo num lance “marca registada”: lançamento à distância de Viana para um dos flancos, cruzamento teleguiado de Alan e entrada fulgurante de Lima. Era a primeira vez que criávamos um lance de golo iminente e... marcámos. Não se pode pedir mais. É evidente que o golo nos trouxe alguma confiança. Acresce que a alteração forçada do Gil Vicente não lhes foi benéfica: Zé Luís entrou bem mas perdeu rapidamente o gás (falta-lhe ritmo evidentemente) e em contrapartida perderam alguma capacidade de pressão a meio-campo. No entanto, jogando com algum coração, o Gil poderia ainda ter igualado antes do intervalo num lance de muito mérito (ainda que com alguma sorte no início do lance) de Júnior Caiçara, numa fase em que tínhamos recuado um pouco as nossas linhas, talvez tentando dar a provar ao Gil do seu próprio veneno. Uns minutos antes, Hélder Barbosa poderia, também ele, ter marcado, num grande remate à entrada da área.
À saída para o intervalo, não obstante o nosso maior domínio, podemos dizer que estávamos em vantagem com alguma sorte ou, se quiserem, fruto da nossa maior eficácia. E é um jogo parecido com o que aconteceu neste primeiro tempo que espero na meia-final da Taça da Liga, frente a este mesmo adversário. Apesar de algumas baixas e das nossas precauções, o Gil Vicente mostrou que sai muito bem para o contra-ataque... Na sua máxima força, são uma equipa a ter em conta. Nós respeitámo-los e estudámos bem os seus pontos fortes. Teremos de o voltar a fazer quando os voltarmos a visitar.
No segundo tempo, a nossa entrada forte decidiu. Marcámos muito cedo, num lance brilhante de Hugo Viana, a aproveitar a maior liberdade concedida pelo meio-campo gilista, agora menos povoado e tendo que procurar ter maior iniciatia de jogo, papel que não lhes assenta tão bem. A entrada de Amorim (apesar de talvez motivada por lesão de Mossoró) fechou o jogo. Passámos a controlar a bel-prazer, circulando melhor a bola, obrigando o Gil a correr atrás dela. A expulsão de Cláudio, depois, simplificou ainda mais o jogo. Poderíamos ter marcado mais do que fizemos (Lima poderia ter marcado facilmente mais dois golos), aproveitando também a coragem do Gil Vicente que, honra lhe seja feita, tentou até ao fim ir à procura do resultado. O 3-0 final acaba por ser justo (e definido por um golo portentoso de Lima) mas não espelha as dificuldades iniciais que o Gil Vicente nos colocou.
O destaque do jogo tem de ir, claro, para Lima. O seu terceiro golo é uma amostra das suas qualidades: disparar com aquela violência e colocação após um sprint daqueles não é para todos. Viana continua também em grande. Esteve nos três golos (brilhante na definição do segundo golo) e isso diz tudo. Gostei muito, também, de Custódio. Foi incansável na recuperação da bola e na ocupação dos espaços. E, não se pode esquecer, Quim foi fundamental – ainda que continue com problemas nas saídas da baliza. A sua defesa aos pés de Vieira, na primeira parte (teve ainda outra, no segundo tempo) provavelmente valeu pontos.
Não vi nenhuma exibição negativa. Contudo, não posso deixar de assinalar o mau momento, em termos físicos, de Alan. Está sem capacidade de explosão e frequentemente complicativo (retendo demasiado a bola). Quando se decidiu pela simplicidade, deu (o primeiro) golo. Saúdo ainda o regresso de NAC, embora não concorde com a ideia de uma grande exibição. Não me pareceu propriamente confiante (falhou três ou quatro despejos) mas, enfim, acho natural que após seis meses sem competir isso possa acontecer. De qualquer modo, é bom ter mais uma opção credível para o eixo da defesa. [Mas por onde anda Samuel!?]
Segue-se uma partida dificílima, na Turquia. Sê-lo-ia sempre, é bom lembrar, mesmo que não houvesse um resultado negativo na primeira mão. Mas, como Jardim pragmaticamente afirmou, não temos mais de 10% de possibilidades de passar a eliminatória. Penso que a estratégia para esta partida será a de tentar simplesmente ganhar o jogo, sabendo das dificuldades. Jogando com equilíbrio, sem ir a correr à procura de marcar muitos golos. Penso que só assim poderemos sonhar um “milagre” – porque do outro lado teremos uma equipa que apostará por um jogo calculista, tal como fez em nossa casa (e essa será uma dificuldade acrescida que teremos). Mas, com franqueza, o que quero ver é uma equipa a dar uma imagem condizente com o seu valor e, se tiver de ser, a cair de pé. Mas tentando sempre...
NOTA: ambiente muito bom no estádio. Muita gente do nosso lado (e muita animação) mas também muita gente gilista, o que é de saudar.