Leonardo Jardim, perfil: um homem nascido para treinar
A história do treinador do Sp. Braga: da Madeira para o continente, da luta por não descer à luta pelo título. Episódios, filosofias e detalhes de uma personalidade vincada.
Por Sérgio Pereira2011-11-08 10:00h
A história foi contada pelo próprio: quando tinha 15 anos e seguia um jogo na televisão, atirou cheio de certezas que um dia ainda treinaria aquela equipa. Era o Sporting, o clube que fazia bater mais forte o coração da família Jardim. «Ele disse aquilo um bocadinho na brincadeira», recorda o pai António.
O clube aqui não é relevante, importante mesmo é sublinhar a vocação precoce de Leonardo. «Isso sim, sempre quis ser treinador. Enquanto a maior parte dos miúdos sonha ser jogador, ele sonhava ser treinador.» Por isso tornou-se um daqueles jovens sem sossego, e era disso mesmo que gostava.
Nascido na Venezuela, onde os pais foram emigrantes, viajou com apenas três anos para a Madeira. «Há quatro anos quis voltar lá para ver onde tinha nascido e onde era a nossa loja comercial. Mas foi só isso: esta é a nossa terra.» Os pais regressaram a Santa Cruz e foi lá que Leonardo cresceu.
Filho de uma família definida pelos amigos com séria e trabalhadora, desenvolveu muito cedo um carácter empenhado. Duarte Freitas, treinador da equipa de andebol do Madeira SAD, conheceu-o com oito anos. «As primeiras vezes que o vi foi atrás do balcão do restaurante dos pais», recorda.
Partilharam mais de quinze anos de um trajecto comum, feito de amizade, sonhos e confidências. «Às vezes íamos beber um copo ou ao cinema, mas nunca fomos jovens de sair muito à noite. A nossa paixão sempre foi o desporto.» No clube da terra, o Santacruzense, jogava andebol e futebol.
«Quando chegou a juvenil deixou o andebol e dedicou-se só ao futebol. Ainda fez um ano como sénior, mas depois desistiu.» Por essa altura, já sabia, o futuro estava mais no banco do que no relvado. Terminou o secundário e inscreveu-se no curso de Educação Física e Desporto da Universidade da Madeira.
Hélder Lopes era por essa altura professor de Leonardo Jardim e desenvolveu com ele uma relação de amizade. «Fui o orientador da tese, que era sobre os cantos no Euro 96», conta. «Ele defendia que naquela altura havia pouco aproveitamento dos cantos no futebol. Teve uma nota alta, 17 ou 18 valores.»
Leonardo já então tinha um brilho... seleccionado. «Nas cadeiras que não gostava, era um aluno razoável. Nas que gostava, e que tinham a ver com o futebol, era o melhor.» Terminou a licenciatura e inscreveu-se no curso de treinadores, que completou com 24 anos, tornando-se o mais jovem a ter o quarto nível.
Duarte Freitas, o tal amigo de infância, fez a licenciatura com ele. «Nunca o vi stressar por causa de um exame ou trabalho. Nós íamos todos os dias para o Funchal no meu carro ou no carro dele e aproveitávamos para falar da matéria, enquanto mandávamos umas piadas. Estava sempre confiante.
A capacidade de descomplicar é aliás uma virtude que todos lhe apontam. Marcelo Delgado, por exemplo. Era presidente do Desp. Chaves e abriu-lhe as portas do futebol no continente. «O que mais me surpreendeu na primeira conversa com ele foi a capacidade de simplificar as coisas», refere.
«O treinador adora complicar tudo: que não tem campos para treinar, que não tem condições e que assim não pode trabalhar. Ele é o contrário, não complica. Trabalha com o que há, não arranja problemas e quando eles aparecem, e apareciam muitos, ele tratava de os resolver para causar o mínimo de danos.»
A história do treinador do Sp. Braga: da Madeira para o continente, da luta por não descer à luta pelo título. Episódios, filosofias e detalhes de uma personalidade vincada.
Por Sérgio Pereira2011-11-08 10:00h
A história foi contada pelo próprio: quando tinha 15 anos e seguia um jogo na televisão, atirou cheio de certezas que um dia ainda treinaria aquela equipa. Era o Sporting, o clube que fazia bater mais forte o coração da família Jardim. «Ele disse aquilo um bocadinho na brincadeira», recorda o pai António.
O clube aqui não é relevante, importante mesmo é sublinhar a vocação precoce de Leonardo. «Isso sim, sempre quis ser treinador. Enquanto a maior parte dos miúdos sonha ser jogador, ele sonhava ser treinador.» Por isso tornou-se um daqueles jovens sem sossego, e era disso mesmo que gostava.
Nascido na Venezuela, onde os pais foram emigrantes, viajou com apenas três anos para a Madeira. «Há quatro anos quis voltar lá para ver onde tinha nascido e onde era a nossa loja comercial. Mas foi só isso: esta é a nossa terra.» Os pais regressaram a Santa Cruz e foi lá que Leonardo cresceu.
Filho de uma família definida pelos amigos com séria e trabalhadora, desenvolveu muito cedo um carácter empenhado. Duarte Freitas, treinador da equipa de andebol do Madeira SAD, conheceu-o com oito anos. «As primeiras vezes que o vi foi atrás do balcão do restaurante dos pais», recorda.
Partilharam mais de quinze anos de um trajecto comum, feito de amizade, sonhos e confidências. «Às vezes íamos beber um copo ou ao cinema, mas nunca fomos jovens de sair muito à noite. A nossa paixão sempre foi o desporto.» No clube da terra, o Santacruzense, jogava andebol e futebol.
«Quando chegou a juvenil deixou o andebol e dedicou-se só ao futebol. Ainda fez um ano como sénior, mas depois desistiu.» Por essa altura, já sabia, o futuro estava mais no banco do que no relvado. Terminou o secundário e inscreveu-se no curso de Educação Física e Desporto da Universidade da Madeira.
Hélder Lopes era por essa altura professor de Leonardo Jardim e desenvolveu com ele uma relação de amizade. «Fui o orientador da tese, que era sobre os cantos no Euro 96», conta. «Ele defendia que naquela altura havia pouco aproveitamento dos cantos no futebol. Teve uma nota alta, 17 ou 18 valores.»
Leonardo já então tinha um brilho... seleccionado. «Nas cadeiras que não gostava, era um aluno razoável. Nas que gostava, e que tinham a ver com o futebol, era o melhor.» Terminou a licenciatura e inscreveu-se no curso de treinadores, que completou com 24 anos, tornando-se o mais jovem a ter o quarto nível.
Duarte Freitas, o tal amigo de infância, fez a licenciatura com ele. «Nunca o vi stressar por causa de um exame ou trabalho. Nós íamos todos os dias para o Funchal no meu carro ou no carro dele e aproveitávamos para falar da matéria, enquanto mandávamos umas piadas. Estava sempre confiante.
A capacidade de descomplicar é aliás uma virtude que todos lhe apontam. Marcelo Delgado, por exemplo. Era presidente do Desp. Chaves e abriu-lhe as portas do futebol no continente. «O que mais me surpreendeu na primeira conversa com ele foi a capacidade de simplificar as coisas», refere.
«O treinador adora complicar tudo: que não tem campos para treinar, que não tem condições e que assim não pode trabalhar. Ele é o contrário, não complica. Trabalha com o que há, não arranja problemas e quando eles aparecem, e apareciam muitos, ele tratava de os resolver para causar o mínimo de danos.»