Domingos Paciência
"Não perder já seria bom"
A esperança de que Domingos Paciência pudesse ontem esclarecer, um pouco mais, o ponto de situação sobre a proposta de renovação que recebeu de António Salvador esvaneceu-se ainda antes da primeira pergunta. Ricardo Lemos, director de comunicação do Braga, esclareceu que o assunto da conferência de Imprensa era, apenas, o jogo de hoje com o Dínamo de Moscovo. Vai daí, o que pensa o treinador do Braga do adversário dos quartos-de-final da Liga Europa? "Sabemos que, pelo seu passado e também porque tem no plantel 17 jogadores internacionais, se trata de uma equipa forte". Raio X feito, expectativas contidas, aparentemente, apenas no discurso para fora. "Não perder já seria bom", admite Domingos Paciência, para, sem pausas, acrescentar que "o Braga procurará ganhar, porque é esse o seu princípio de jogo, é assim que treino os meus jogadores". O discurso pode parecer contraditório, mas explica-se para além dos lugares comuns do respeito pelo adversário e vontade de ir o mais longe possível. Domingos não concorda com quem diz que o Braga chegou ao fim de linha . "Não concordamos quando se diz que o Braga já fez a parte dele chegando aos quartos-de-final. O Braga pode fazer mais". Domingos elevou a voz e explicou que "a equipa está mais confiante, graças aos resultados".
O interesse da comunicação social ucraniana era outra. Aliás, eram duas. Matheus, ex-jogador do Braga e actualmente no Dnipro, deu informações sobre o Dínamo de Kiev? E qual a diferença entre este Braga e o que perdeu duas vezes com o Shakhtar Donetsk, na Liga dos Campeões? O treinador do Braga não os deixou sem resposta. "Sim, o Matheus passou-nos alguma informação e ainda hoje [ontem] esteve no nosso hotel", referiu. Sobre a diferença do Braga de 2010 para este de 2011, a ideia de que com o Shakhtar "foram cometidos erros" e que hoje em dia a sua equipa "está mais confiante". A comparação entre as equipas de Kiev e de Donetsk também foram pedidas. "O Shakhtar, parece-me, é uma equipa que joga com maior intensidade, já o Dínamo de Kiev mostra-se mais forte nas transições e a experiência será, também, um dos pontos fortes".
A figura do Braga
Paulo César
À procura de um presente tardio
Longe de ser figura proeminente do Braga, Paulo César surge nesta fase como um dos jogadores em melhor forma. Hoje completa 301 jogos desde que chegou a Portugal e 101 no Braga - passou a ser este o clube onde mais vezes alinhou - e procura o presente pela marca cumprida no jogo anterior, contra o Beira-Mar. Principal mola do contra-ataque arsenalista, será importante na estratégia de Domingos.
Miguel Garcia
"Vencer era excelente"
Mesmo estando em risco de exclusão, Miguel Garcia recusa entrar limitado. "Estou assim há cinco jogos e ainda não vi nenhum amarelo. Não me vai condicionar em nada. Se levar, depois o treinador arranjará uma solução", respondeu. Esta foi a última intervenção do lateral, mas ilustra o que o Braga irá hoje fazer: jogar nos limites. "Teremos a mesma postura do campeonato e da Liga Europa. Não será diferente", garantiu. "Um bom resultado é empatar com golos. Vencer seria excelente", prosseguiu, num discurso honesto, sem diferenciar o adversário de hoje e o Shakhtar. "O Dínamo não é mais fraco [do que o Shakhtar]. Conhecemos melhor o Shakhtar porque fazia parte do nosso grupo. Mas estão ao mesmo nível", disse.
Apesar da veterania, Shevchenko ainda é uma referência. "É o jogador mais experiente e talvez o que mais pode desequilibrar", opinou. Informado está. "O Matheus esteve connosco e está a fazer tudo para que passemos à próxima fase", encerrou.
Teste ao bloco arsenalista
Miguel Garcia e companhia não sofreram golos nos últimos três jogos da Liga Europa, mas hoje vão enfrentar aquele que é só o melhor ataque da competição. O Dínamo de Kiev já acertou com as redes adversárias por 20 ocasiões (mais uma que o FC Porto), oito das quais nos 16 avos-de-final, contra o Besiktas de Quaresma, Hugo Almeida, Simão e Manuel Fernandes.
Museu religioso para descontrair
Não durou mais de cinco minutos nem teve como cenário as imagens que fazem os postais de Kiev. Para descontrair, o plantel do Braga deu um curto passeio matinal junto ao hotel, tendo passado pelo Museu Mykhaylivske, uma antiga igreja onde agora é exposta arte religiosa. Um passeio sem adeptos do Braga por perto e alguma curiosidade ucraniana, em especial relativamente a Hugo Viana e Domingos, solicitados para autógrafos e fotografias.
O jogo mais europeu
Há lugar para o optimismo e esperança de que o Braga consiga ultrapassar o obstáculo que é o Dínamo de Kiev, adversário dos quartos-de-final da Liga Europa, oponente na histórica participação do clube minhoto na inédita presença em tão avançada fase de uma prova europeia. O Braga nunca chegou tão longe e nem o facto de regressar à Ucrânia, em cujo solo se despediu da primeira presença na Liga dos Campeões - com uma derrota, por 2-0, com o Shakhtar Donetsk, líder destacado do campeonato ucraniano -, pode esmorecer a esperança em manter a condição de maior surpresa da época nas competições europeias. O Dínamo de Kiev é forte? Não há dúvida que o seja, mas a vantagem não ultrapassa o campo teórico. Na prática, as duas equipas chegam aos "quartos" exactamente com o mesmo andamento europeu. Ambas disputam hoje o 15º jogo europeu da temporada e não há ninguém a competir nas provas europeias com tantos minutos em campo. O Braga ganha ao Dínamo Kiev na análise das parcelas: disputou 10 jogos na Liga dos Campeões (pré-eliminatória e play-off incluídos), a mesma quantidade apresentada pela equipa ucraniana, mas na Liga Europa. Ou seja, Domingos Paciência apresentará hoje o 5º onze inicial na segunda prova da UEFA, enquanto o seu homólogo, Yuri Semin dirigirá, pela 11ª vez, o Dínamo de Kiev na Liga Europa. Não é de crer, que se possa considerar vantagem ter mais jogos naquela que foi, em tempos, conhecida como Taça UEFA.
O peso da história é que desequilibra a balança, porque se hoje em dia a glória do passado do Dínamo de Kiev é suplantado, no plano interno, pelo poderio do Shakhtar Donetsk, a sala de troféus do clube da capital continua a pesar muito no que se pensa ser, hoje, a equipa de Yuri Semin. À primeira vista, será mais do que a equipa de Shevchenko, na prática o Dínamo de Kiev é uma equipa imbatível em casa desde 9 de Dezembro de 2009, altura em que foi derrotada no Estádio Valery Lobanovski pelo Barcelona, por 2-1. e que para encontrar uma derrota caseira, em jogos da Liga Europa/Taça UEFA é preciso recuar até Novembro de 1992. É verdade que durante este período disputou quase sempre a Taça dos Campeões/Liga dos Campeões, mas, dado mais recente, a especialidade caseira do Dínamo sente ainda hoje: não sofreu golos em casa nos últimos quatro jogos. Preocupante? Talvez, mas apenas se esquecermos que o Braga empatou em Liverpool, ganhou em Sevilha e Belgrado e ainda garantiu a presença na Liga dos Campeões ao perder, tangencialmente, em casa do Celtic de Glasgow.
20h05
Sport TV2
Estádio Valery Lobanovsky
Árbitro Bjorn Kuipers [Holanda]
Assistentes Sander van Roekel e Berry Simons
Assistentes Adicionais Richard Liesveld e Ed Janssen
4º Árbitro Pol van Boekel
Dínamo Kiev
treinador
Yuri Semin
1 Shovkovsky GR
2 Danilo LD
44 Leandro Almeida DC
37 Yussuf DC
6 Popov LE
5 Vukojevic MD
23 Roman Eremenko MO
20 Gusev AD
9 Yarmolenko AE
7 Shevchenko AV
10 Milevsky AV
35 Koval GR
3 Betão DC
30 El Kadouri DC
26 Nesmachny LE
19 Garmash MD
36 Ninkovic MO
22 Kravets AV
Braga
Treinador
Domingos Paciência
1 Artur GR
15 Miguel Garcia LD
3 Paulão DC
4 Kaká DC
28 Sílvio LE
88 Vandinho MD
45 Hugo Viana MD
25 Salino MO
30 Alan AD
9 Paulo César AE
18 Lima AV
42 Cristiano GR
43 Dani LD
48 Aníbal DC
27 Custódio MD
8 Mossoró MO
10 Hélder Barbosa AE
19 Meyong AV
Certeza de Matheus vale 300 dólares
Já com saudades do Braga, ainda que só esteja na Ucrânia há dois meses, Matheus não podia deixar passar em branco a visita da ex-equipa. A residir em Dnipro, a 400 km de distância de Kiev, o jogador meteu-se num avião e às 16h30 de ontem estava no hotel onde está instalada a comitiva minhota. Tempo para muitos abraços e para conversar com O JOGO, ao qual confessou ter a certeza de que serão os portugueses a apurar-se. "Já apostei com dois colegas do Dnipro [Denisov e Kravchenko] e ainda com o médico da equipa. Apostei cem dólares e um almoço com cada um", contou. Não será apenas o coração a falar? "Não. Aliás, já apostei quando jogaram com o Liverpool e ganhei. Eu conheço esta equipa. Vi o jogo em directo e sabia que os meus ex-companheiros também acreditavam. Era essa a nossa força, e já tínhamos feito grandes jogos na Europa. As pessoas com quem apostei não sabiam", sorri.
"O Braga tem muito mais hipóteses agora do que quando jogou com o Shakhtar. Primeiro porque o Dínamo de Kiev não tem nem comparação. O Shakhtar é muito mais forte, e o Braga também está numa fase melhor. E uma eliminatória é diferente de uma fase de grupos", justificou. "Quando eu e Moisés saímos, a equipa acusou um pouco. Mas hoje tudo melhorou, e as condições para o apuramento são totais", completou.
A Domingos Paciência e ao resto da comitiva deixou alguns conselhos sobre a forma como abordar o jogo. Mas poucos. "Não adianta explicar muito. Eles já conhecem tudo. Há Shevchenko, que toda a gente conhece. E Yarmolenko, que é jovem, mas titular há dois anos e meio. A ala direita deles é muito perigosa, pois Gusev é muito bom e o lateral brasileiro ataca muito. Mas isso também pode ser uma fraqueza. São muito mais fortes no ataque do que na defesa", dissecou o ex-avançado arsenalista.
Promete presença em Dublin
O primeiro a ser cumprimentado por Matheus foi Paulo César, a par de Mossoró o melhor amigo que deixou em Braga. Seguiu-se António Salvador. "Foi uma conversa cordial. Perguntou se estava a gostar da Ucrânia", revelou. E está? "No começo foi complicado. Mas tenho de gostar. Vou passar aqui três anos e meio e não três dias e meio", continuou. A ajudá-lo está um assistente pessoal que contratou por conta própria. Sandro é de Curitiba e ganha a vida a ajudar os estrangeiros de Dnipro. "A língua é complicada, e ele ajuda muito nisso. Faz-me compras, anda comigo no dia-a-dia e evita que passe dificuldades", explicou o avançado. Depois, Matheus desejou boa sorte à restante comitiva. Novo contacto com os bracarenses, só amanhã, depois do jogo que verá na televisão. Matar as saudades pessoalmente, só em Dublin. "Se não tiver treino ou jogo, lá estarei. Acredito que possam ir à final", fechou.
Domingos devia renovar
Com a renovação de Domingos na ordem do dia em Braga, Matheus não muda de opinião. "Já o disse uma vez: devia renovar. É um grande treinador, e o facto de o Sporting o querer prova isso mesmo", comentou. "Tudo depende dele e de António Salvador. Eles é que sabem. Mas Domingos é muito bom", reforça.
Ambiente e frio suportáveis
Matheus garante que o Estádio Valeriy Lobanovskiy vai estar cheio. Mas acha que o ambiente não será um problema. "Com certeza vai estar cheio. Ainda por cima ganharam no fim-de-semana. Mas há ambientes bem piores", descreve. A pressão do público não será por isso um problema. Nem o frio. "Se fosse quando cheguei... Agora, já está óptimo", ri-se. E está. À tarde estavam 15 graus.
Fisioterapeuta só há um!
O Dnipro é o segundo clube mais rico da Ucrânia e está bem dotado de recursos humanos, mas, em matéria de lesões, Matheus só confia em Francisco Miranda, fisioterapeuta do Braga que continua a ser visitado por muitos ex-jogadores, tal a sua competência. Por isso, à chegada ao hotel dos bracarenses o avançado procurou-o. E esteve uma hora a ser tratado!
O JOGO