QUASE 30 MIL ADEPTOS DO CHARLTON A APLAUDIR VIBRANTEMENTE E A AGRADECER OS BRILHANTES SERVIÇOS PRESTADOS
«Good luck, Jorge!»
LONDRES — Absolutamente impressionante: o Charlton a definhar na tabela classificativa — é cada vez mais último na Premier League — e o mítico estádio The Valley completamente lotado! Foi envolvido por esse ambiente frenético, vibrante, e com quase 30 mil espectadores de pé, a aplaudi-lo ininterruptamente durante cinco minutos, que Jorge Costa recebeu sentida e admirável homenagem, pelos brilhantes serviços prestados de Dezembro de 2001 a Maio de 2002. Em seis meses apenas, o tank, como o português ainda aqui é conhecido e reconhecido, conseguiu conquistar os corações dos adeptos de tão popular e já centenário emblema inglês.
A 11 de Maio de 2002, Jorge Costa despediu-se do Charlton, com um empate a zero em Old Trafford, frente ao Manchester United, perante uma plateia de 67 mil espectadores.
Seduzido pelo apelo de José Mourinho, o bicho regressaria ao Dragão para mais três épocas que haveriam também de marcar a história do clube — entre títulos de campeão nacional e Taças de Portugal destacar-se-iam uma Taça UEFA, uma Champions League e uma Taça Intercontinental! —, deixando em Londres um elevadíssimo capital de prestígio e uma imensidão de admiradores que o escolheriam, na festa de centenário do clube realizado há um ano, como um dos três melhores jogadores estrangeiros que passaram pelo The Valley.
Ontem, deu-se o regresso a Londres — regresso necessariamente fugaz (o Sporting de Braga joga amanhã em Setúbal e o cargo de adjunto não lhe permitia prolongar a visita —, mas extremamente sentido, porque havia quem não tivesse conseguido despedir-se convenientemente de Jorge Costa.
Pouco antes do início Charlton-Everton — Nuno Valente também testemunhou o acto —, os 26.435 adeptos que se preparavam para assistir ao jogo, levantaram-se e aplaudiram, durante mais de cinco minutos, o português. E com um berro espantosamente longo — «Thank you, taaaank!» — e uma mensagem de boa sorte significativamente intensa, dita à boa maneira inglesa — «Good luck!» —, demonstraram a enormíssima estima que possuem para com Jorge Costa.
No final da homenagem, os batimentos cardíacos eram fortíssimos, as emoções jorravam e a alma contraía-se assustadoramente. Jorge Costa, à conversa com a A BOLA, não tinha como camuflar quadro emocional tão esclarecedor, ocasião aproveitada igualmente para abordar pela primeira vez o início da nova etapa profissional.
Portistas homenageiam-me todos os dias
— Decididamente, os seis meses passados no Charlton foram, para si, tão especiais quanto parecem ter sido para o clube?
— Foram. Essencialmente porque a oportunidade de jogar em Inglaterra aconteceu numa fase difícil da minha vida profissional, que, evidentemente, tinha reflexos a nível pessoal. Não sei porquê, ou se calhar porque nada nesta vida acontece por acaso, dos milhares de clubes que há espalhados pelo mundo tive a sorte de cair num que é de facto excepcional, com pessoas de uma seriedade incrível.
— Surpreendido com a homenagem?
— Muitíssimo, porque não foram mais do que seis meses que cá vivi. Mais do que surpreendido, fiquei e fico extremamente orgulhoso porque uma homenagem destas é sinal de dever cumprido.
— No Charlton seis meses bastaram para o homenagearem. No FC Porto, onde esteve mais de uma década a somar títulos, nada foi feito. Compreende a diferença de tratamento ou indiferença?
— Relativamente ao FC Porto, aquilo que mais me alegra e mais me deixa feliz, bem como de consciência tranquila, é o facto de diariamente ser reconhecido pelos adeptos. As pessoas, seja na rua, no café, no mercado, no cinema, dão-me o devido valor. Isso é que é essencial para mim. O resto...
Em Inglaterra joga-se nas quatro linhas
— Está a querer convencer-nos de que nem uma ponta de mágoa subsiste?
— Pautei sempre a minha vida e a minha carreira pela discrição. E se vim a esta homenagem do Charlton foi porque fui convidado. Nunca fiz, nem faço questão em ser homenageado por quem quer que seja. A maior homenagem que me fazem é continuar a sentir por parte dos portistas anónimos um incondicional apoio e um carinho incomensurável.
— E como se explica que em tão pouco tempo tenha entrado tão rapidamente na história do Charlton?
— Isso não me surpreende... [risos] Não, a sério: as coisas correram-me excepcionalmente bem. Tive a felicidade suprema de ficar associado a uma das melhores campanhas do clube, e isso, como devem imaginar, também me marcou bastante. Em Inglaterra e no Charlton, renasci para o futebol. Essas são recordações que tempo algum apagará. Além disso, jogar num campeonato tão fabuloso como é o inglês acaba por ser uma experiência por si só inolvidável. Aqui, vive-se apaixonadamente o jogo entre as quatro linhas. E fora das quatro linhas raramente se disputam jogos... É uma cultura diferente...
JORNAL A BOLA