Foi um jogo esquisito. Tinha tudo para ter sido a partida mais fácil da época – após o belo comportamento da equipa na primeira metade do encontro – mas acabou por se tornar uma vitória sofrida.
Registo, facto de resto sublinhado por Domingos, a opção por uma nova forma de jogar, em face do rombo que o plantel levou ao nível do meio-campo. A equipa apresentou-se uma vez mais num 4-4-2 muito ofensivo (em situação de ataque é quase um 4-2-4), apostando na mobilidade dos homens da frente para abrir espaços na defensiva contrária para os lançamentos de longa distância, sobretudo dos dois homens do meio-campo (vide primeiro golo de Alan). É um futebol menos rendilhado, com menor segurança, com menor controlo... mas talvez mais contundente, quando a dupla da frente usa de grande mobilidade e agressividade. Renteria e Matheus fizeram-no.
No jogo de Sábado, o nosso esquema táctico apresentou ainda algumas nuances curiosas: Alan jogou um pouco mais recuado e numa posição por vezes mais interior – sendo muitas vezes o terceiro homem do meio-campo; Madrid teve um raio de acção maior do que o habitual, surgindo muitas vezes um pouco mais adiantado relativamente a Aguiar, pressionando o portador da bola e libertando o uruguaio para, de posições mais recuadas mas menos pressionado pelos adversários, lançar o ataque, frequentemente através de bolas longas.
Podemos dizer que esta arrumação táctica funcionou na perfeição no primeiro tempo. Fomos também benefiados pelo esquema de três centrais a jogar em linha por parte do adversário – que não se deu nada bem com a mobilidade dos homens da frente. O primeiro golo nasceu cedo – um passe fabuloso de Madrid e um trabalho também ele sensacional de Alan – mas mesmo assim Castro Santos não corrigiu a postura táctica da sua equipa, nem mesmo quando foi obrigado a substituir um central por lesão. Desta forma, tivemos um primeiro tempo descansado – óptimo trabalho também da dupla Madrid-Aguia – ainda que tenhamos ficado a dever a nós mesmos pelo menos um golo. Renteria e Matheus tiveram-no nos pés e a terem-no concretizado creio que o jogo terminaria em goleada. Esse golo não chegou e o jogo, aparentemente fácil, complicar-se-ia no segundo tempo.
E o que mudou do primeiro para o segundo tempo? Fundamentalmente, a opção do Leixões por dois pontas-de-lança fisicamente poderosos e com um bom jogo aéreo e a aposta natural num futebol mais directo. Tal como em Leiria (frente a Cássio e Carlão) mostrámos dificuldades em lidar com esta postura do adversário, quer pelas dificuldades impostas pelo bom jogo aéreo do adversário, quer pela incapacidade de ganhar as “segundas bolas” resultantes das disputas dos lances aéreos entre os avançados leixonenses e os nossos centrais (muitas vezes em duelos 1x1). Neste aspecto, a superioridade numérica a meio-campo por parte dos matosinhenses fez mossa. E claro, um golo caído do céu (com a bênção de Eduardo) ajudou a intranquilizar a nossa equipa e deu algum alento ao adversário.
Verdade seja dita, o Leixões não teve oportunidades flagrantes de golo mas os constantes lançamentos para a cabeça dos avançados (sobretudo atavés de cruzamentos de Jean Sony) e as bolas paradas faziam temer por mais um golo em lance fortuito. Nesta altura, talvez fosse aconselhável reforçar o meio-campo, tentando ter um pouco mais de bola. Mas... não havia nenhum médio no banco (onde estava Rafael Bastos!?)! A entrada de Meyong por Renteria talvez visasse o mesmo (mais bola). Mas pouco se alterou (aparte uma menor agressividade na frente). E assim, sujeitamo-nos a dissabores – ainda que com uma ou outra possibilidade para o 3-1. O golo de Moisés pôs fim à inquietação nas bancadas.
O importante neste momento é vencer. É isso que temos feito, mais ou menos brilhantemente. Por força das circunstâncias, temos tido a necessidade de alterar processos de jogo. E temo-lo feito salvaguardando os resultados – o que é um mérito do técnico e dos jogadores. Temos de continuar porque, ainda que o título esteja cada vez mais difícil, ainda não é impossível. Não podemos baixar os barços neste momento – e depois, quem sabe, lamentarmo-nos por não termos adivinhado uma inesperada “escorregadela” do actual líder. Temos de dar tudo por respeito ao que até aqui fizemos. A equipa tem de estar orgulhosa do que fez até aqui – em seis temporadas desde 2000/01, 64 pontos à 27ª jornada significariam primeiro lugar – e a melhor forma de honrar esse comportamento é não desistir, até ao fim! Vamos encarar a Naval com a máxima seriedade, é mais uma final para ganhar, com os adeptos, espero eu, a acompanhar! FORÇA BRAGA!
Finalmente, não gostaria de deixar passar em claro as exibições de Alan, Madrid e Aguiar:
- Alan está novamente em crescendo, depois de um período de menor fulgor. Interpretou muito bem o papel especial que lhe foi atribuído no novo enquadramento táctico da equipa. E está de novo a marcar golos!
- Madrid está, parece, de excelente saúde física. Correu quilómetros, não dando descanso ao portador da bola, e pressionando em terrenos mais adiantados do que lhe é habitual. Teve um grande raio de acção e serviu muitas vezes de escudo para que Aguiar pudesse lançar o ataque liberto de adversários. Espero que o mau tempo esteja definitivamente para trás.
- Aguiar correu, também ele quilómetros. Mais liberto no primeiro tempo, partindo de trás, dele partiram muitas das nossas iniciativas atacantes – fenomenal o passe a desmarcar Renteria para o colombiano desperdiçar, frente a Berger. No segundo tempo, teve missão de maior sacrifício e não se fez rogado, acorrendo a vários fogos, mesmo perante a superioridade numérica do meio-campo adversário.
- Belo jogo também do capitão Moisés. Em contrapartida, jogos cinzentões de Evaldo e Paulo César. Erro grave de Eduardo que custou um golo - que lhe sirva de lição, para ir melhorando!
- Nota final para a bela moldura humana que muito me surpreendeu, atendendo a que sucedeu num dia muito chuvoso (embora não à hora do jogo) e ao horário (21h15 é algo tarde).