Voltámos a não jogar bem, mas conseguimos o primeiro objectivo da época de forma mais que justa!
Não concordo com a maioria dos comentários que aqui li. Entrámos a ganhar 2-0. E nessa perspectiva percebo a estratégia de Carvalhal, embora não concorde com a não utilização inicial de Maciel (em detrimento de JVP ou Wender), numa partida em que as suas características, propícias ao contra-ataque, assentariam como uma luva. Entrámos bem, com personalidade e a trocar a bola durante os primeiros 20-25 minutos como poucas vezes fizemos ainda nesta temporada. Não houve o esperado sufoco inicial pela forma personalizada como entrámos. É verdade que não tivemos capacidade para sair em contra-ataque e essa terá sido uma pecha. Mas, em contrapartida, não permitimos ao Chievo a criação de lances de perigo, com a excepção de dois ou três lances em que Frechaut permitiu cruzamentos (excelentes) de Kosowski junto à linha de fundo. Percebo a intenção de colocar na faixa lateral direita um homem que pudesse ser mais eficaz no jogo aéreo (teoricamente, arma privilegiada do Chievo), mas a falta de velocidade de Frechaut face a Kosowski começou a causar mossa na segunda metade da primeira parte... e custou um golo. Curiosamente a equipa não pareceu muito perturbada com o golo sofrido, embora nesta fase a troca de bola não tivesse grande qualidade. De todo o modo, até final da primeira parte, oportunidades de golo para o Chievo... zero. Nós ainda tivemos um bom remate à meia volta por Zé Carlos. Insuficiente, claro, faltou a velocidade nas saídas para o contra-ataque.
Na segunda metade, Carvalhal faz entrar Maciel para o lugar de Hugo Leal (hoje bastante abaixo do seu habitual, espero que não tenha tido a ver com problemas físicos), colocando Luís Filipe na defesa e Frechaut no meio-campo. Entramos mais agressivos e criámos duas boas oportunidades por Maciel e Wender (uma outra... pelo guarda-redes do Chievo). É certo que a troca de bola não era grande coisa (impressionante a quantidade de bolas perdidas por JVP apesar da sua entrega!), mas estávamos mais perigosos na frente. Quando Carvalhal resolveu apostar na velocidade de Cesinha (para a saída de um anormalmente apagado Zé Carlos), sucede um erro incrível de Paulo Jorge (parecido com o que cometera na pre-época em Barcelos) que dá o segundo golo ao Chievo, que não tinha feito até então um único remate perigoso à nossa baliza. Há erros em relação aos quais não há treinador que resista.
O jogo aí entrou num período louco, com alguma desorientação de parte a parte. Expulsões (anormal ingenuidade de Nem, é um facto), jogo de parada e resposta, com muitas perdas de bola e passes errados.Era preciso (agora impreterívelmente) marcar golos e não tínhamos ponta-de-lança. Madrid jogava a central (impressionante!!!) e João Pinto auxiliava Frechaut no meio-terreno com Wender a fazer as vezes de ponta-de-lança e Cesinha e Maciel nas alas. A equipa contudo, sem jogar bem, nunca se deixou inferiorizar pelo adversário. Mais: à medida que o tempo passava, parecia evidente que a nossa equipa estava mais fresca que o Chievo. O que se veio a confirmar no prolongamento. O nosso domínio era evidente e o golo surgiu com alguma naturalidade. Podíamos depois ter feito algo mais pelo empate, que estava claramente ao nosso alcance (sobretudo após nova expulsão no Chievo), mas a imprecisão no último passe e uma claríssima oportunidade perdida por JVP não o permitiram. Imperdoável quanto a mim foram as liberdades permitidas pelo nosso último reduto ao Chievo, completamente de rastos e em inferioridade numérica, que nos poderiam ter custado mais um golo sofrido. Talvez não fizesse diferença, mas há que estar concentrados até final.
Destaques individuais:
Paulo Santos - Praticamente não teve que fazer. Sofreu um golo sem responsabilidades (ao contrário do que ouvi um comentador dizer) face à colocação do remate e estando encoberto por Paulo Jorge. Uma grande defesa apenas no final do prolongamento.
Frechaut - Sentiu dificuldades com a velocidade de Kosowski. Melhorou no meio-campo, grande entrega, embora com a pecha de jogar sempre à mesma velocidade. Motor díesel.
Paulo Jorge - Não teve um bom dia. No primeiro golo tem a atenuante de o cruzamento ter sido de forma tensa da linha de fundo o que torna as coisas mais difíceis para quem defende. No segundo... no comments...
Nem - Curiosamente, ao contrário dos comentários que li, enquanto esteve em campo, esteve bem. Fez uma falta utilíssima que lhe rendeu o primeiro amarelo. Estranhamente, Godeas foi mais "experiente" que ele no lance do segundo amarelo e deixou a equipa em desvantagem numérica de uma forma ingénua.
Carlos Fernandes - Exibição com a sua marca registada. Segiuríssimo a defender, apoiando os centrais quando necessário. Pouco apoio ao ataque como é hábito... mas o cruzamento para golo é dele.
Madrid - É um jogador fenomenal. Excelente como médio defensivo e brilhante também depois como defesa central.
Hugo Leal - Poucas coisas lhe saíram bem, hoje. Entrega, mas pouco mais. Dificuldades anormais no controlo da bola e no passe. Espero que esta sua exibição não esteja relacionada com problemas físicos.
João Pinto - 120 minutos de entrega até às últimas, mas pouca qualidade. Perdas de bola inúmeras e dificuldades no tempo de passe. Penso que tem jogado demasiado distante da baliza. Aí, fez um passe de morte para Maciel desperdiçar e teve um remate em arco que por pouco não deu o 2-2.
Wender - Muito se discute este jogador. Mas ele é de uma utilidade que às vezes não se mede apenas pela qualidade de jogo. Não perde muitas vezes a posse de bola arrancando aos adversários inúmeras faltas, alguns amarelos. Além disso um remate perigoso e... a cabeçada (?) para golo!
Luís Filipe - Voltou a registar uma exibição abaixo do que pode e sabe. Muito alheado do jogo na primeira parte (como extremo) mas também muito pouco solicitado. Como lateral-direito, cumpriu melhor que Frechaut defensivamente face a Kosowski, mas voltou a falhar alguns passes de forma infantil quando integrado no ataque.
Zé Carlos - Tirando uma boa iniciativa culminada com um bom remate à meia volta, no final da primeira parte, quase não se viu. Passou estranhamente ao lado do jogo se bem que também não tenha tido grande apoio.
Maciel - Não fez exibição de encher o olho, mas trouxe nova acutilância à equipa com a sua velocidade. Falhou uma ocasião soberana de fazer o 1-1 no início da segunda parte.
Cesinha - Tal como (ao que parece) na Amadora não foi o revulsivo que costuma ser. Quase nunca conseguiu ganhar de um para um empregando a sua velocidade. Apenas com a equipa do Chievo fisicamente destroçada se viu, mas nunca teve grande discernimento.
Maurício - Entrou para segurar a eliminatória, permitindo a recolocação de Madrid no meio-campo. Alguma descoordenação com Paulo Jorge valeu duas situações de perigo, uma das quais de golo eminente.
Não foi brilhante, há muito a fazer, mas o primeiro objectivo da época está cumprido.
O facto de a equipa não se vir exibindo à altura do que nós esperaríamos, em mim opinião, tem a ver com...
1 - A equipa joga muito estendida no terreno, pouco compacta, sobretudo porque a nossa defesa joga demasiado próxima da nossa baliza. Isso fica a dever-se ao facto de não termos uma defesa muito rápida (à excepção de Luís Filipe). Dificilmente poderemos solucionar o problema com o quadro de defesas-centrais de que dispomos. Sempre achei aliás que o plantel em termos defensivos não tem a mesma qualidade que ao nível do meio-campo e ataque. Do que vi na pre-época penso que Irineu podería ser uma solução, mas realmente nunca o vi em competição "a sério". Era uma das contratações importamntes que me parece que falhámos.
2 - Falta um médio de transição capaz de rupturas, de subidas em ataque rápido. Só dispomos de um, Vandinho, que está indisponível. Todos os restantes de cariz mais ofensivo ou mais defensivo (Chaves, Frechaut, Castanheira, Hugo Leal) são jogadores com qualidades mas incapazes de impor mudanças de velocidade ao jogo.
3 - A equipa não está confiante. Teve uma relação de muitos anos com Jesualdo Ferreira e há um novo treinador, sem grande currículo, que a equipa , os adeptos e ele próprio sabem está sob grande pressão, parte dela por razões que não têm que ver com o seu desempenho à frente da equipa (ver outros posts). Acredito que o facto de o primeiro objectivo ter sido atingido possa tranquilizar a equipa.
De todo o modo, quero realçar a entrega que vi emtodos os jogos a que assisti e sublinho a aparente boa condição física patenteada perante uma equipa proveniente de um futebol que faz dessa característica seu apanágio.