O discurso que por aqui campeia é errado e contraproducente. Já se discutiu mil e uma vezes este assunto: o clube só pode crescer se conseguir atrair pessoas que não têm hábito de ir ao estádio. Não é com discursos de que a cidade não merece o clube e quejandos que se ganham novos adeptos. É um discurso que não é útil, que afasta as pessoas em vez de as atrair. O que querem as pessoas afirmar com ele? Que eles, sim, são braguistas dos sete costados? Que nem que chovam paralelos estarão nas bancadas? Isso é merecedor dos maiores elogios, sim senhor, mas acrescenta pouco ao clube, lamento dizê-lo.
Os sócios têm de decidir o que querem. Se querem ser um clube de "verdadeiros" (detesto esta expressão!), mas um clube de meia dúzia, uma espécie de "elite" com um discurso contra aqueles que não são mas poderiam ser; ou se têm o sonho de congregar à sua volta boa parte dos bracarenses e das gentes que vivem (ou nasceram ou já viveram) à volta de Braga. Se têm este sonho, têm também de se sacrificar por isso. Não estar constantemente a recriminar aqueles que supostamente querem atrair. Não estar constantemente com um discurso de auto-elogio (nós, os "verdadeiros", os "puros").
É que hoje não é fácil atrair mais pessoas aos estádios. As pessoas têm uma gama variada de alternativas de lazer que não existiam há uns anos. Há por outro lado um cada vez maior desenraizamento das pessoas: dificilmente alguém nasce, cresce, estuda, trabalha e vive indefinidamente na mesma terra. Quantos dos que aqui escrevem ou por aqui já passaram foram "obrigados" por circunstâncias da vida a mudar para outros locais onde fazem hoje as suas vidas?
Isto obriga a que o clube tenha de ser extremamente pro-activo na conquista destes adeptos. Os resultados ajudam, mas pelo que atrás foi dito, é curto e só tem efeitos práticos a prazo - pessoalmente, não tenho dúvidas de que se a equipa de futebol mantiver o actual nível, daqui a uns dez anos teremos uma geração de bracarenses completamente doutrinada. Não é fácil trazer estas pessoas ao estádio - mas não porque a maioria seja adepta de outro clube como por vezes se diz. Simplesmente, a maioria das pessoas não são adeptos, no sentido de ter uma relação regular com o clube e que tenham hábito de ir aos estádios. E isto verifica-se em toda a parte - dá-me vontade de rir quando oiço falar em 6 milhões de benfiquistas quando nem sequer há seis milhões de adeptos de futebol em Portugal!
Há que procurar entre os que são meros simpatizantes (mas que ligam pouco à bola e não estão dispostos a grandes esforços para ir ao estádio). Há que ir buscá-los a casa! E para esses, todos os pormenores contam! A distância, o preço, os horários, o conforto, tudo tem de ser considerado para fazer deles a prazo verdadeiros adeptos... Já em tempos dei uma sugestão que mantenho: o Braga deveria considerar uma categoria de sócio exclusiva para as mulheres, a preço simbólico, que desse acesso a todos os jogos excepto três ou quatro durante a temporada (de forma a que seja vantajoso ser sócio "sénior"). Há muitas mulheres que têm simpatia pelo clube mas não vêm ao estádio. E uma mulher no estádio, por norma, significa marido, filhos e outros mais também nas bancadas (sim, porque elas é que verdadeiramente mandam). Seria esta também uma forma de fazer render as campanhas que se fizeram (e, espero, continuem) entre os mais jovens. Há que fazer do jogo uma festa, proporcionando condições de segurança e erradicando focos de violência e procurando criar condições para que vir ao estádio seja aprazível.
O que acho mesmo essencial é que se deixe de lado o discurso de lamúria constante: o clube (e "nós") é que somos bons, a cidade é que não está à altura. Lamento, sou frontalmente contrário a este discurso porque ele é naturalmente imobilista - se a cidade não está à altura, não haverá nada a fazer, certo?
* É importante também que ser sócio proporcione facilidades para a prática desportiva ainda que de natureza não competitiva. O acesso dos miúdos à prática do desporto (várias modalidades), o acesso de miúdos e graúdos a recintos de prática desportiva (pistas de manutenção, ginásios, etc.) poderiam constituir um bom chamariz para aquelas pessoas que até possam nem ter grande afinidade com o clube (frequentemente pessoas de outras origens geográficas) mas que tomariam assim um primeiro contacto com o clube.