Para mim, o apuramento para o play-off de acesso para o Mundial joga-se amanhã. Estou convencido que, se vencermos – e não acredito que não aconteça se repetirmos a exibição da Dinamarca – terminaremos esta fase no segundo lugar. Não acredito que Suécia faça o pleno, sobretudo não tendo a Dinamarca o apuramento directo garantido quando receber os suecos, em Outubro. A Dinamarca é, claramente, mais equipa que a Suécia...
Dito isto, o comentário mais certeiro que aqui li foi o do Kramer. Falta a Queirós o "bigode". Queirós tem um perfil algo "aristocrático", de professor/intelectual da bola. E esse perfil cria desde logo distância para com o adepto. Não há empatia entre o adepto e Queirós. Ao contrário do que acontecia com Scolari. O homem até podia não perceber nada de táctica ou de preparação de uma equipa – pelo menos isso disseram dele vários jogadores do Chelsea – mas era um homem do povo. Sendo brasileiro, era bem mais português no seu perfil (psicológico e... físico) do que Queirós. A aversão à táctica, a tendência para o improviso (tipicamente português), a própria linguagem, tudo em Scolari encarnava paradoxalmente o verdadeiro português. O tuga. E assim se criou a relação que todos conhecemos com o adepto (mesmo - e sobretudo - o menos identificado com o futebol), que ajudou também a criar um ambiente propício para a selecção poder jogar com... tranquilidade. O adepto quer lá saber se o homem se preocupa com o futuro do futebol português, se procura junto dos clubes incentivar a formação, se se preocupa em lançar novos jogadores que não permitam que se crie um vazio depois da retirada de algumas vedetas. Não. O adepto quer o momento. A festa.
E, é verdade, Scolari tinha capacidade de liderança. No seu jeito muito próprio, sabia exercê-la. Em muitas situações, isso é mais de meio caminho andado – sobretudo quando falámos de selecções...
Mas chegou uma altura em que a liderança começou a não chegar. Alguns jogadores foram saindo... e não se antecipou quaisquer alternativas. Criou-se um vazio em algumas posições. Menos opções de nível. A última fase de qualificação, para quem precise de ver a sua memória refrescada foi assim:
Finlândia 1- Portugal 1
Portugal 0 - Finlândia 0
Sérvia 1 - Portugal 1
Portugal 1 - Sérvia 1
Polónia 2 - Portugal 1
Portugal 2 - Polónia 2
Bélgica 1- Portugal 2
Portugal 4 - Bélgica 0
Portugal 1 - Arménia 0
Arménia 1 - Portugal 1
... e vitórias tranquilas frente ao Azerbeijão e Cazaquistão.
Relembro que nos apurámos... em segundo lugar. Relembro também que a Finlândia empatou na Arménia e perdeu no Azerbeijão... ou que a Sérvia perdeu com o Cazaquistão e com a Bélgica. Caso, por exemplo, os Finlandeses não tivessem falhado com o Azerbeijão, teríamos ficado de fora do Europeu...
Tudo isto para dizer duas coisas:
- se ganharmos os jogos que nos faltam, não pode dizer-se que esta fase de qualificação é pior do que a anterior; poderá neste caso não chegar, se os adversários falharem menos do que falharam na fase de qualificação para o Europeu;
- o decréscimo do nosso nível futebolístico já era perceptível com Scolari: começou com o brilhantismo do nosso Euro (sem ter passado por qualquer fase de qualificação e com dois anos para preparar a equipa - o que não foi preciso porque acabou por fazer um enxerto da equipa do Porto campeão europeu de Mourinho); uma qualificação tranquila para o Mundial da Alemanha e uma boa fase final (muito embora sem a qualidade exibicional anterior); e na sua última fase (já sem ninguém da geração de ouro) um apuramento sofrível e uma fase final que soube a pouco (com uma péssima gestão da sua saída, à moda do JJ aqui em Braga, embora com a atenuante de não ter qualquer vínculo com a FPF).
Entrou Queirós. Com jogos a doer um mês após tomar conta da selecção... Um homem como Queirós é preciso para obrigar a FPF a atalhar caminho – de outra forma, daqui a pouco tempo teremos uma selecção de terceira categoria, com um ou outro jogador acima da média. Mas Queirós é pouco pragmático... e precisava de resultados imediatos. Levou demasiado tempo a resolver (dentro do possível) os problemas que tinha: guarda-redes, lateral-esquerdo, trinco e avançado. Creio que o conseguiu agora finalmente - com a alteração do modelo táctico para um sistema com dois avançados (já que não temos um verdadeiro ponta-de-lança goleador – mas talvez já seja tarde...