A página mais bonita de uma curta história
Passagem à final da Liga de Futsal é o expoente máximo de um projeto que, em parceria com a Universidade do Minho, começou em 2007. Potenciar talentos tem sido o objetivo
O Braga/AAUM está, pela primeira vez na história do clube, na final da Liga de Futsal. Contudo, a surpresa não parece ser assim tão grande entre um plantel que tem cinco internacionais portugueses
O fosso entre Sporting e Benfica e os restantes clubes de futsal é enorme. No entanto, o Braga/AAUM desafiou a lei do dinheiro e vai editar, juntamente com os leões, uma inédita final da Liga de Futsal. Para quem não acompanha a modalidade, a presença dos arsenalistas nos encontros decisivos poderá ser uma surpresa. Mas não é. Embora o orçamento anual de 200 mil euros seja muito inferior ao de, pelo menos, um milhão dos dois grandes, os minhotos têm vindo a construir um projeto que visa encontrar jovens talentos, procurando potenciá-los e conta, atualmente, com cinco internacionais portugueses no plantel orientado por Paulo Tavares.
Apesar de a secção ter sido fundada em 2001, foi em 2007 que a modalidade ganhou novo fôlego em Braga quando um grupo de jogadores, entre os quais o atual capitão André Machado e o antigo guarda-redes António Pedro Peixoto, candidato derrotado por António Salvador nas recentes eleições do clube, foi propor a António Paisana, da Universidade do Minho, a fusão entre o Braga e a Associação Académica daquela faculdade. Os bracarenses passaram a utilizar, sem custos, o Pavilhão da Universidade que ofereceu as propinas aos jogadores que quisessem estudar. Neste momento, são oito os jogadores que estão a tirar ou terminaram cursos recentemente, sendo que apenas Vítor Hugo e Elisão profissionais. Os treinos, realizados sempre ao início da noite, são aprova de que a estrutura minhota é semi-profissional, mas a qualidade tem vindo a aumentar.
Desde que Paulo Tavares assumiu, em 2012, o comando técnico da equipa, o Braga foi sempre aos play-off do campeonato e nas últimas quatro épocas caiu nas meias-finais, a última das quais quando tinha a final na mão a 50 segundos do fim. Mais, nomes como André Coelho (23 anos), Tiago Brito (25) e Nilson (25) podiam ser desconhecidos quando chegaram ao Minho, mas agora são internacionais e com uma carreira pela frente. A juventude do plantel é misturada com a experiência de Vítor Hugo, Marinho – que foi campeão europeu pelo Benfica – ou Eli. Puxemos a fita atrás. A diferença entre o Braga e os grandes é enorme, mas também não espanta o que os arsenalistas fizeram perante as águias. Além disso, a próxima época marcará a estreia na UEFA Futsal Cup...
OS NOVOS HERÓIS DO MINHO
Tiago Brito e André Coelho foram as figuras da meiafinal e eliminaram aquele que parece ser o futuro clube de ambos...
Dos cinco golos marcados pelo Braga ao Benfica, nos dois jogos das meias-finais, dois foram apontados por Tiago Brito e outros dois por André Coelho. A dupla parece estar de malas aviadas para o Benfica, mas essa questão passa ao lado de ambos que não estão surpreendidos com a ida à final do campeonato. “Para nós não é uma surpresa. A nossa grande arma sempre foi a união e a dedicação”, sublinha Tiago Brito, enquanto André Coelho defende que o Braga já merecia ter estado no momento das decisões. “Isto já vem com um ano de atraso. O sonho aumentou muito, mas agora a festa acabou”, avisa o universal que se considera um adas caras do projeto minhoto .“Quando fui para o Braga, procurei conciliar os estudos com o futsal. O clube ajudou-me e sem dúvida que sou uma das caras deste projeto”, argumentou.
MACHADO É O ÚNICO RESISTENTE
André Machado é o atual capitão do Braga/ AAUM e o único resistente do plantel que se fundiu, em 2007, com a Associação Académica da Universidade do Minho. Na altura, o ala juntamente com mais jogadores salvaram a secção arsenalista com a parceria efetuada com a faculdade minhota. Estar na final do campeonato é, para o fisioterapeuta de profissão, algo “impensável”. “Quando estávamos na II Divisão queríamos subir, mas isto foi impensável. É o momento mais marcante desde que estou no clube. Ir à UEFA? Ainda não caímos em nós...”, rematou.
Tavares pede estrutura forte
Treinador dos arsenalistas espera que a ida à final seja o clique para que o projeto ganhe força
A carreira de Paulo Tavares como treinador de futsal começou em 1999. Dos quase 20 anos de aventura, o treinador viveu, na tarde de sábado, uma das vitórias mais saborosas de que tem memória. Estar pela primeira vez na final do campeonato é motivo de orgulho, mas também a altura ideal para pensar no futuro. “Poderão existir algumas saídas no final da época, mas já estamos habituados. O trabalho de toda a estrutura tem sido de muita qualidade e espero que este seja o momento de pensarmos num Braga/AAUM diferente, com mais condições para nos aproximarmos de Benfica e Sporting. Crescemos de uma maneira que temos de ser olhados de outra forma”, frisou.
O futuro do treinador passa pelo Braga, pois o projeto enche-lhe as medidas. “Gosto de trabalhar com jovens e de ter o plantel mesclado. Identifico-me muito com o clube”, afirmou. Sobre a final com os leões jogada à melhor de cinco partidas, Paulo Tavares vai pensar um encontro de cada vez. “O Sporting pode dar-se ao luxo de deixar jogadores de fora que serão utilizados no jogo a seguir. Nós não temos essa capacidade. Pensaremos na melhor estratégia para cada jogo”, comentou.
O JOGO