“AMBIÇÃO DO TÍTULO É BEM CALCULADA”O presidente do Sp. Braga prepara-se para abraçar o mandato mais importante da história do clube. Certo de que irá receber novo voto de confiança dos sócios nas eleições, assume o desafio de elevar a fasquia desportiva ao mesmo tempo que investe em infrae“É PRECISO CRIAR UMA BASE FORTE DE JOGADORES QUE ASSEGURE A ESTABILIDADE MESMO QUE EXISTAM VENDAS” “OS 100 MILHÕES DE EUROS DA TELEVISÃO SÃO PARA RECEBER EM DEZ ANOS. JAMAIS ESTE CLUBE HIPOTECARÁ RECEITAS” Acredita mesmo na conquista do título como grande objetivo do seu novo mandato ou é uma daquelas vontades que se expressam sem medir as consequências? ANTÓNIO SALVADOR - Antes de mais, quero dizer que tenho consciência das dificuldades, mas deixe-me que lhe diga que a minha convicção e a minha vontade enorme dizem-me que é possível. Agora, não vou prometer ser campeão, dado que no futebol não é possível prometer nada. A minha ambição é a de que é possível. Vamos trabalhar para que isso aconteça. As exceções são muito poucas, mas tanto eu como o clube devemos ter essa aspiração. Sabemos da diferença de orçamentos em relação aos três grandes, mas quero vincar algo: quando cheguei, em 2003, numa primeira fase só pensava em estabilizar o clube; logo a seguir, queria lutar permanentemente pela presença nas competições europeias e ir a uma Liga dos Campeões. Se calhar ninguém acreditava nisso e diziam igualmente que, provavelmente, não estava a medir bem as consequências do que estava a dizer. O facto é que, depois disso, fomos a duas Liga dos Campeões, a uma final da Liga Europa, fomos vice-campeões nacionais, vencemos uma Taça de Portugal e uma Taça da Liga...
Este título para o qual aponta agora está a ser preparado há 14 anos?AS - Disse, acredito e tenho a ambição de, até ao centenário do clube, em 2021, ser campeão. Acho que é possível. Trata-se de uma ambição bem calculada, sem ser desmedida. Não contem comigo para orçamentos despesistas. Sabem muito bem como tem sido o rigor financeiro ao longo destes anos. São os críticos que reconhecem essa realidade da SAD. O cumprimento é integral, todos os meses, das responsabilidades perante todas as entidades, jogadores e colaboradores.
Qual será então o pilar dessa ambição reforçada?AS - Primeiro é preciso criar uma base forte de jogadores que se mantenham no clube. Isso tem-se revelado difícil, porque o Sp. Braga tem de realizar vendas para equilibrar os seus orçamentos. A partir de agora, não vai ser tão importante realizar esses negócios porque conseguimos uma sustentabilidade importante, seja através dos direitos televisivos ou de receitas como as da Liga Europa, que hoje em dia já dá mais dinheiro do que ocorria nos anos anteriores. Criando um grupo forte, podem até alguns jogadores ser vendidos, mas os que vierem serão integrados e fica assim assegurada a estabilidade, fruto dessa base sólida.
A ideia passa, então, por não gastar muito dinheiro, mas gastá-lo melhor? AS - É um projeto difícil, mas que acredito que pode ser concretizado. Temos jogadores experientes no nosso campeonato, que podem abarcar outros mais jovens, e vamos procurar manter uma equipa mais constante, menos mexida.
O Sp. Braga tem uma boa almofada financeira?AS - Respondo que a almofada financeira do Sp. Braga é aquilo que temos vindo a fazer ao longo de todos estes anos. O cumprimento integral de todas as responsabilidades, o pagamento de todos os salários a todos os profissionais, tudo em dia com o Fisco e a Segurança Social. De facto, isso permite-nos ter uma almofada para quando é preciso investir, investirmos. Ao contrário do que tem sido dito, o Sp. Braga começou a preparar a próxima época logo em janeiro. Fomos logo aí buscar alguns reforços que custaram dinheiro. Uns vieram no imediato, outros só chegarão no final da época, como o Fransérgio e o Dyego Sousa. Juntamente com os jogadores que cá temos, com a nossa formação, vão ajudar a criar um grupo mais forte. É também por isso que temos de criar melhores condições para dar continuidade à formação. Nos últimos anos temos metido mais de 50
jogadores no futebol profissional, hoje em dia temos mais jogadores do que nunca nas seleções. É com essa base de jogadores feitos em Braga, jogadores à Braga, com o espírito do nosso clube, que poderemos ir, degrau a degrau, estabilizando o nosso percurso de forma a lutarmos pelo topo.
Os direitos televisivos, que sofreram um acréscimo, são determinantes para rechear os cofres? AS - Negociámos um novo contrato que achamos bom e que nos vem ajudar bastante. Posso dizer-lhe que os valores que estávamos a auferir pelos direitos televisivos eram muito baixos. No último ano recebemos apenas 3,5 milhões de euros. Agora já estamos num patamar que nos dá alguma folga, e que não torna tão necessária a venda de jogadores que éramos obrigados a fazer a cada ano. O Sp. Braga, quando se fala em almofada financeira na gestão, é bom que se diga isto, em nenhum momento teve, ao longo destes 14 anos, uma antecipação de qualquer receita futura. Não é o que acontece noutros clubes, mas o Sp. Braga orgulha-se disso. Também já ouvi perguntar por aí o que é que foi feito ao contrato televisivo de 100 milhões de euros. Pois bem, esse contrato é para dez anos e vai ser recebido durante os dez anos. Foi sempre assim comigo na presidência e vai continuar a ser. Jamais este clube irá hipotecar receitas futuras para compor orçamentos. Não contem comigo para isso. Não é essa a minha forma de gerir. Basta estarem atentos aos Relatórios e
Contas... Depreende-se, assim, que menos jogadores sairão?AS - Já estamos a fazer uma preparação da próxima época. Temos quatro jogos para cumprir. Abel Ferreira vai ver o grupo que tem e quem é que faz falta para que possamos fazer uma equipa forte. Ainda acredita que o
Sp. Braga precisa de si mais do que nunca?AS - Quando cheguei, em 2003, só queria pensar no mês seguinte. Não digo agora que, se sair do Sp. Braga, o clube vai acabar. O Sp. Braga vai continuar. O que digo é que é fundamental a continuação do projeto. Há muita coisa que é preciso concluir. Há um projeto em curso. Se precisa de continuação? Acho que precisa.
“Sete pontos a menos devido às arbitragens”Como se posiciona em relação à arbitragem?AS – Acho que a arbitragem não tem o ambiente necessário. Mas hoje em dia os jogos são muito condicionados pelas arbitragens. Eu tenho de dizer isto: o Sp. Braga tem sete pontos a menos devido aos árbitros, mais quatro pontos que nos escaparam por termos falhado penáltis. Seriam 11 pontos a mais que nos deixariam numa situação confortável na tabela.
“Cidade Desportiva revolucionará o clube”A Cidade Desportiva é a maior revolução na história do clube?CRESCIMENTO.
Presidente lidera clube com mais de 50% de sócios abaixo dos 22 anosAS - É. Considero que sim. O Sp. Braga conseguiu tornar-se uma referência do futebol nacional e europeu, suscitando um grande respeito de instituições ligadas ao desporto e não só. É preciso que se diga isso para as pessoas perceberem a dimensão que o Sp. Braga já atingiu. O que se passa é que o clube não acompanhou esse crescimento com as infraestruturas necessárias. É por isso que eu digo que esta é a obra do século do Sp. Braga. Uma obra que vai revolucionar completamente o clube. Pela sua dimensão, pelas condições dadas aos profissionais, praticantes, bem como para os próprios sócios. Devemos ter uma infraestrutura para formar, mas também para servir os nossos adeptos. Esta é uma delas, criando uma centralização de atividades para os nossos sócios e que lhes vai trazer uma nova paixão e uma nova vivência diária do clube e que até aqui não foi possível, levando a que eles sintam que o espaço também é deles.
Qual é a solução financeira que idealizou para pagar uma obra desta magnitude em apenas um mandato?AS - O modelo financeiro e de gestão desta obra… para que fique bem claro, esta obra, a Academia, é do clube e não da SAD. É dos sócios. Obviamente que quem vai ocupar a Academia e fazer a sua gestão é a SAD. Caberá à própria SAD ter um contrato de arrendamento com o clube, relativo à gestão e ocupação do espaço durante determinados anos. A obra, obviamente, vai ser paga em parte pela SAD, e nomeadamente pelo contrato que já foi feito, onde determinada verba foi destinada para este efeito. Aqui vemos que o clube vai ficar com uma Academia sem fazer um único financiamento, e que por outro lado a SAD vai pagar e usufruir da estrutura através da sua capacidade de antecipar o pagamento das rendas durante o próximo mandato.
A SAD tem capacidade para suportar esse encargo adicional durante os próximos anos?AS - Não tenha dúvidas, vamos ser muito rigorosos nesse ponto. Estou convencido de que todos os sócios vão aplaudir a solução encontrada, que permite ao clube ser detentor de um património importante, cabendo à SAD, no fundo, os custos com a obra, mas também cabendo à SAD a sua exploração e as mais-valias que possa retirar da sua utilização.
“Somos a melhor equipa de futebol feminino”O futebol feminino, onde apostou, está a dar-lhe alegrias? AS - A mim e a todos os bracarenses. E se calhar a toda a gente que gosta de desporto. Trata-se de uma aposta ganha. O Sp. Braga começou este ano com a equipa principal, que está a fazer um campeonato fantástico em luta com o Sporting. Não tenho dúvidas de que somos a melhor equipa em Portugal neste momento. Os números falam por si. Somos a equipa com mais golos marcados, menos golos sofridos, apenas três e dois de penálti… mas estamos a lutar igualmente com uma grande equipa, que é a do Sporting. Quando as coisas não se definem apenas pelo que se passa dentro das quatro linhas, tudo se torna mais difícil. Vai ser uma luta até ao final do campeonato.
O ecletismo ainda é viável ?AS - Sim. Temos vindo a alargar a nossa presença nas modalidades. Temos grandes atletas, do melhor que há na Europa e no Mundo. Posso dizer-lhe que estamos há quatro anos no futebol de praia e somos tricampeões. No futsal temos uma parceria fantástica com a Universidade do Minho. Temos campeões da Europa e do Mundo no taekwondo. Na natação, a Tamila Holub foi aos Jogos.
“Juventude garante futuro”O que é preciso fazer para chamar mais gente ao estádio? AS - Deixámos de ter um estádio dentro da cidade, que é uma vantagem de outros clubes. É algo que ajuda e muito. Não há que esconder. No próximo mandato queremos melhorar as condições de conforto, mas não é um processo fácil. Estive com o arquiteto Souto Moura, expliquei-lhe os problemas dos quais os adeptos se queixam e estamos a procurar soluções, nomeadamente a criação de mais elevadores para que as obras possam avançar já no próximo verão. Nós queremos sócios que vão ao estádio nos bons e nos maus momentos. É algo que me preocupa. Quando os resultados estão a ser bons, temos maior afluência. Quando surgem dificuldades, a assistência quebra. O fervor clubístico não pode existir apenas quando se ganha. A força e mística que nós temos quando ganhamos, se existir sempre, pode tornar-nos imparáveis.
A cidade, a seu ver, está comprometida com o clube?AS – Sinto que a cidade está comprometida com o clube. A base social está com o Sp. Braga e mesmo este projeto que temos de crescimento só foi possível porque há uma ligação forte com a cidade, com a Câmara Municipal, independentemente de não interferir na gestão do clube, o que sucede desde a primeira hora em que cheguei. Temos de ser mais fortes? Temos de levar mais o clube até à cidade? Temos.
Mantém o objetivo de chegar aos 30 mil sócios?AS – O Sp. Braga tem feito um trabalho com os sócios que demora a ser reconhecido. Hoje, o Sp. Braga tem mais de 50% dos associados com menos de 22 anos. Isso é um trabalho que garante o futuro. É um esforço que tem vindo a ser feito junto das escolas. Sendo um trabalho invisível, dá-nos garantias de crescimento no futuro. Antigamente as famílias tinham outros clubes, agora começam a ser por inteiro do Sp. Braga. Amanhã o filho vai crescer e os seus filhos só vão ver o Sp. Braga. O passado em que a maioria era benfiquista, depois sportinguista, depois portista, já ficou para trás.
RECORD