Bem, pelo menos vimos a nossa equipa a jogar num esquema um pouquinho diferente - já que, sem Micael, não há ninguém que tenha vocação para ser o terceiro centrocampista, no meio-campo ideal de Jesualdo. Apenas Alan "quebra o galho" e portanto, temos mesmo grande necessidade de ter um sistema alternativo que funcione mesmo - e que seja nos próximos tempos a nossa matriz porque não temos outro caminho.
Não me surpreendeu a equipa inicial. Suspeitei que com Rusescu - de quem tinha a ideia de que não seria um nove típico - jogaríamos com alguém mais próximo dele. Mas conhecendo Jesualdo, também calculei que, com menos um médio, ele pretenderia resguardar-se com dois médios posicionais (e portanto, também não fiquei nada admirado com a opção Custódio-Mauro). Apenas fui algo surpreendido pela escolha de Pardo para o apoio directo a Rusescu, ficando Rafa à esquerda. No entanto, ver-se-ia depois, os três apoios ao homem mais avançado trocariam várias vezes de posição durante a partida.
Este 4-2-3-1 começou por trazer grande movimentação na frente e maior presença na área. Julgo que surpreendemos o Arouca com esta nova disposição - e tivemos 15 minutos francamente bons, em que chegamos à vantagem e em que pareceu que rapidamente poderíamos resolver a eliminatória. Simplesmente, a partir do quarto de hora, o Arouca ajustou a sua postura, adaptou-se ao nosso esquema e... o jogo tornou-se mais repartido. É verdade que houve trocas de posições nos três homens de apoio ao ponta-de-lança mas, sinceramente, penso que o que fez a diferença foi o facto de o Arouca ter subido linhas e sobretudo colocado frequentemente quatro homens(!) na frente a fazerem pressão sobre a nossa saída de bola, conseguindo com isso partir a nossa equipa. Isto porque o nosso meio-campo não tinha quem saísse com a bola. Creio que, quando Alan passa pelo meio, foi sobretudo para tentar contornar este problema. Não me parece que isso tenha sido propriamente conseguido por duas razões: os dois médios defensivos estiveram demasiado amarrados às suas posições, sem iniciativa; e (isto é que é preocupante), falta-nos intensidade de jogo para ultrapassar a pressão do adversário, quando este o faz de forma mais intensa sobre a nossa saída de bola.
Ainda assim, valeu pela capacidade que a equipa mostrou no contra-ataque/ataque rápido. Foi desta forma que conseguimos a maior parte das oportunidades de golo durante a partida. Penso que esta disposição táctica inicial, com estes homens, é particularmente talhada para o contra-ataque. A equipa mostra dificuldade em ter a iniciativa de jogo mas é mais rápida e objectiva na exploração do contra-ataque.
Na segunda parte, a alteração de Mauro por Luís Carlos trouxe algumas melhorias. Luís Carlos é um jogador com mais iniciativa, transporta melhor a bola e é o nosso médio mais intenso. Em condições normais, é um jogador que tem de jogar num meio-campo com tão poucas alternativas como o nosso. É verdade que o Arouca esteve perto de marcar logo no reinício mas ficou-se por aí. No entanto, nós não conseguimos acelerar o ritmo de jogo (mesmo que a espaços) e tivemos dificuldade em criar perigo. Só mesmo aquando da expulsão de Ceballos, conseguimos fechar (aí, já com alguma facilidade) a partida.
Notas:
1. A exibição de Rusescu não foi, para mim, conclusiva. Não me parece um jogador que sirva de referência - como as equipas típicas de Jesualdo apresentam. Não me parece ter grande poder de choque e tem dificuldade em dividir os lances aéreos com os defesas contrários. No entanto, percebe-se que é um jogador tecnicamente evoluído e que, como disse Jesualdo, tem escola. Sabe pisar os terrenos mais adiantados, é um jogador "manhoso" nos contactos com os adversários e na movimentação e que, acredito, será capaz de interagir com os colegas de outra forma, com mais treinos e jogos. E tem espontaneidade no remate (belo pontapé de moinho no primeiro tempo). Pena não ter marcado perto do fim - mas não é ele que falha o remate, como para aqui li, é um corte soberbo, no limite, do defesa do Arouca. Penso, portanto, que é um jogador que precisa de companhia mais próxima. Não acredito que consiga ser uma mais-valia se voltarmos a jogar com um avançado tão isolado na frente quanto aconteceu inúmeras vezes nesta temporada. Não pareceu, de resto, particularmente veloz. O pontapé de meia-distância, uma das suas elogiadas qualidades, não se viu.
2. Custódio tem de jogar! Não digo isto porque Mauro seja um mau jogador mas Custódio oferece mais à equipa. Jogo aéreo (muito importante nas bolas paradas!), tranquilidade, capacidade no passe longo. Com Luís Carlos, forma simplesmente a nossa melhor dupla de médios.
3. A dupla Santos-Sasso oferece outra tranquilidade. É mais forte no jogo aéreo e no contacto físico, tem mais qualidade na saída de bola e transmite maior segurança. Apesar de tudo, não foi o melhor jogo de Santos que até teve duas falhas que poderiam ter sido comprometedoras (nas duas melhores oportunidades de golo do Arouca), apesar do espectacular livre que apontou.
4. Elderson fez uma primeira parte horrível. É verdade que ele tem debilidades, sobretudo no aspecto táctico, que são conhecidas. Mas o que se lhe viu ontem vai para além disso. Normalmente, Elderson é bastante melhor nos duelos individuais do que ontem mostrou. Espero que regresse ao seu normal rapidamente porque, com todos os seus defeitos (e já se viu que infelizmente pouco evoluiu nos aspectos menos bons do seu jogo), é o nosso melhor defesa-esquerdo.
5. Rafa e Pardo são dois jogadores com grande futuro. Mas muitíssimo diferentes. Rafa é talento puro. Um movimento de corpo, uma recepção orientada, uma rotação e... ficam instantaneamente dois adversários pelo caminho. É um jogador ainda em crescimento, está a aprender a decidir melhor e, acredito, fisicamente também irá crescer. É verdade que perde algumas vezes a posse de bola, até porque é algo frágil fisicamente - mas desde que isso aconteça em terrenos mais avançados e que a equipa esteja formatada para o acomodar, vale a pena o risco. Quanto a Pardo, são sobretudo as qualidades físicas que fazem a diferença (não querendo com isto dizer que seja tosco). A sua capacidade de explosão, a sua velocidade, a sua resistência física e o seu pontapé fazem dele um jogador perigosíssimo, sobretudo no contra-ataque. É também um jogador jovem e que me parece que ainda não sabe jogar com as suas qualidades. Não tem o talento de Rafa mas, com a velocidade e a força que tem, não precisa de grandes rodriguinhos para ultrapassar um defesa. A equipa também tem de aprender a jogar com eles. Bola no pé para Rafa, bola no espaço para Pardo.
6. Realmente, não se compreendem as substituições a um minuto do final. Admito que Jesualdo queira ser sério e não menosprezar o adversário e as contingências do futebol. Mas a ganhar 2-0 em vantagem numérica, não poderia fazer, pelo menos, uma substituição antes para dar efectivamente minutos a um dos jogadores!? Tenho pena sobretudo por Vukcevic - porque Agra vai tendo aqui e ali minutos de jogo e, de resto, temos alternativas para a sua posição. Mas o Braga precisa de ter mais médios prontos a jogar, não pode dispor apenas de Custódio, Mauro e Luís Carlos (uma vez que Luís Silva e Micael estão lesionados). Isto, no pressuposto de que Vukcevic é visto por Jesualdo como real alternativa...